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SERMÃO 28

"Uma Lei Inalterável"

Hebreus 9:22
"Sem derramamento de sangue não há remissão." — Hebreus 9:22

Em toda parte sob a antiga dispensação figurativa, o sangue certamente saudaria vossos olhos. Era a coisa mais proeminente sob a economia judaica, dificilmente uma cerimônia era observada sem ele. Não podíeis entrar em qualquer parte do tabernáculo, mas víeis traços da aspersão de sangue. Às vezes havia tigelas de sangue lançadas ao pé do altar. O lugar parecia tanto com um açougue, que visitá-lo deve ter sido longe de atrativo ao gosto natural, e para se deleitar nele, um homem precisava de entendimento espiritual e fé viva. A matança de animais era a maneira de adoração; a efusão de sangue era o rito designado, e a difusão daquele sangue no chão, nas cortinas, e nas vestimentas dos sacerdotes, era o memorial constante.

Quando Paulo diz que quase todas as coisas foram, sob a lei, purificadas com sangue, ele alude a algumas coisas que foram isentadas. Assim achareis em várias passagens que o povo era exortado a lavar suas roupas, e certas pessoas que tinham estado impuras por causas físicas eram ordenadas a lavar suas roupas com água. Vestes usadas por homens eram geralmente limpas com água. Após a derrota dos midianitas, da qual leis no livro de Números, o despojo, que havia sido poluído, tinha de ser purificado antes de ser reivindicado pelos israelitas vitoriosos. Segundo a ordenança da lei, que o Senhor ordenou a Moisés, alguns dos bens, tais como vestimentas e artigos feitos de peles ou cabelo de cabra, eram purificados com água, enquanto outras coisas que eram de metal que podia resistir ao fogo, eram purificadas pelo fogo. Ainda, o apóstolo refere-se a um fato literal, quando diz que quase todas as coisas, sendo as vestes a única exceção, eram purificadas, sob a lei, com sangue. Então ele se refere a isso como uma verdade geral, sob a antiga dispensação legal, que nunca havia qualquer perdão de pecado, exceto por sangue. Em apenas um caso havia uma exceção aparente, e mesmo essa vai provar a universalidade da regra, porque a razão para a exceção é tão completamente dada. A oferta pela culpa, referida como uma alternativa, em Levítico 5:11, poderia, em casos extremos de pobreza excessiva, ser uma oferta sem sangue. Se um homem fosse pobre demais para trazer uma oferta do rebanho, deveria trazer duas rolas ou pombinhos; mas se fosse pobre demais mesmo para isso, poderia oferecer a décima parte de um efa de flor de farinha para oferta pelo pecado, sem óleo ou incenso, e era lançada sobre o fogo. Essa é a única exceção solitária através de todos os tipos. Em todo lugar, em todo tempo, em toda instância onde o pecado tinha de ser removido, sangue devia fluir, vida devia ser dada. A única exceção que notamos dá ênfase ao estatuto de que "sem derramamento de sangue não há remissão."

Sob o evangelho não há exceção, nem uma tão isolada como havia sob a lei; não, nem mesmo para os extremamente pobres. Tais somos todos nós espiritualmente. Visto que não temos nenhum de nós para trazer uma oferta, mais do que uma oferta para trazer; mas todos nós temos de tomar a oferta que já foi apresentada, e aceitar o sacrifício que Cristo fez, de si mesmo, em nosso lugar; não há agora causa ou fundamento para isenção a qualquer homem ou mulher nascidos, nem jamais haverá, seja neste mundo ou naquele que está por vir — "Sem derramamento de sangue não há remissão." Com grande simplicidade, então, como concerne nossa salvação, posso pedir a atenção de cada um aqui presente, para esta grande questão que intimamente concerne nossos interesses eternos? Colho do texto, primeiro de tudo, o fato encorajador de que:

I. HÁ TAL COISA COMO REMISSÃO

Isto é, a remissão de pecados. "Sem derramamento de sangue não há remissão." Sangue foi derramado, e há, portanto, esperança concernente tal coisa. Remissão, não obstante as exigências severas da lei, não deve ser abandonada em puro desespero. A palavra remissão significa o afastar de dívidas. Assim como o pecado pode ser considerado uma dívida incorrida para com Deus, assim aquela dívida pode ser apagada, cancelada, e obliterada. O pecador, devedor de Deus, pode cessar de estar em dívida por compensação, por plena quitação, e pode ser liberto em virtude de tal remissão. Tal coisa é possível. Glória seja a Deus, a remissão de todo pecado, do qual é possível arrepender-se, é possível de ser obtida. Qualquer que seja a transgressão de qualquer homem, perdão é possível para ele se arrependimento for possível para ele. Pecado não arrependido é pecado imperdoável. Se confessar seu pecado e o abandonar, então achará misericórdia. Deus assim o declarou, e não será infiel à sua palavra. "Mas não há," diz um, "um pecado que é para morte?" Sim, verdadeiramente, embora não saiba o que seja; nem pensamos que qualquer dos que têm inquirido sobre o assunto tenham sido capazes de descobrir o que aquele pecado é; isto muito parece claro, que praticamente o pecado é imperdoável porque nunca é arrependido. O homem que o comete torna-se, para todos os intentos e propósitos, morto em pecado num sentido mais profundo e duradouro até mesmo do que a raça humana é como um todo, e é entregue endurecido — sua consciência cauterizada, como se fosse, com ferro quente, e daí em diante não buscará misericórdia. Mas toda maneira de pecado e blasfêmia será perdoada aos homens. Para luxúria, para roubo, para adultério — sim, para assassinato, há perdão com Deus, para que seja temido. Ele é o Senhor Deus, misericordioso e gracioso, passando por transgressão, iniquidade, e pecado.

E este perdão que é possível é, segundo as Escrituras, completo; isto é, quando Deus perdoa a um homem seu pecado, ele o faz totalmente. Ele apaga a dívida sem qualquer cálculo para trás. Ele não põe de lado uma parte do pecado do homem, e o tem responsável pelo resto; mas no momento em que um pecado é perdoado, sua iniquidade é como se nunca tivesse sido cometida; ele é recebido na casa do Pai e abraçado com o amor do Pai como se nunca tivesse errado; é feito ficar diante de Deus como aceito, e na mesma condição como se nunca tivesse transgredido. Bendito seja Deus, crente, não há pecado no Livro de Deus contra ti. Se creste, és perdoado — perdoado não parcialmente, mas completamente. A escritura de dívida que era contra ti está apagada, pregada na cruz de Cristo, e nunca pode ser alegada contra ti mais para sempre. O perdão é completo.

Além disso, este é um perdão presente. É uma imaginação de alguns (muito depreciativa ao evangelho) que não podeis obter perdão até virdes a morrer, e, talvez, então de alguma maneira misteriosa, nos últimos poucos minutos, possais ser absolvidos; mas pregamos a vós, em nome de Jesus, perdão imediato e presente para todas as transgressões — um perdão dado num instante — no momento que um pecador crê em Jesus; não como se uma doença fosse curada gradualmente e requeresse meses e longos anos de progresso. Verdade, a corrupção de nossa natureza é tal doença, e o pecado que habita em nós deve ser diária e a toda hora mortificado; mas quanto à culpa de nossas transgressões diante de Deus, e a dívida incorrida à sua justiça, a remissão dela não é coisa de progresso e grau. O perdão de um pecador é concedido de uma vez; será dado a qualquer de vós esta noite que o aceite — sim, e dado de tal maneira que nunca o perdereis. Uma vez perdoados, sereis perdoados para sempre, e nenhuma das consequências do pecado será visitada sobre vós. Sereis absolvidos sem reservas e eternamente, de modo que quando os céus estiverem em chamas, e o grande trono branco for erigido, e o último grande tribunal for estabelecido, podeis ficar ousadamente diante do tribunal e não temer acusação alguma, pois o perdão que o próprio Deus concede ele jamais revogará.

Acrescentarei a isto uma outra observação. O homem que obtém este perdão pode saber que o tem. Se meramente esperasse que o tivesse, aquela esperança poderia frequentemente lutar com medo. Se meramente confiasse que o tivesse, muitas ansiedades poderiam sobressaltá-lo; mas saber que o tem é fundamento seguro de paz para o coração. Glória seja a Deus, os privilégios da aliança da graça não são apenas questões de esperança e conjectura, mas são questões de fé, convicção, e segurança. Não conteis presunção para um homem crer na Palavra de Deus. É a própria Palavra de Deus que diz: "Todo aquele que crê em Jesus Cristo não é condenado." Se creio em Jesus Cristo, então não sou condenado. Que direito tenho de pensar que sou? Se Deus diz que não sou, seria presunção de minha parte pensar que sou condenado. Não pode ser presunção tomar a Palavra de Deus exatamente como ele a dá a mim. "Oh!" diz um, "quão feliz deveria ser se este pudesse ser meu caso." Falaste bem, pois bem-aventurado é aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado é o homem a quem o Senhor não imputa iniquidade. "Mas," diz outro, "eu dificilmente pensaria que tal grande coisa pudesse ser possível para alguém como eu." Raciocinais segundo a maneira dos filhos dos homens. Sabei então que tão altos como os céus estão acima da terra, assim altos são os caminhos de Deus acima de vossos caminhos, e seus pensamentos acima de vossos pensamentos. É vosso errar; é de Deus perdoar. Errais como homem, mas Deus não perdoa como homem; ele perdoa como Deus, de modo que rebentamos com admiração, e cantamos: "Quem é Deus como tu, que passes por transgressão, iniquidade, e pecado?" Quando fazeis qualquer coisa, é alguma pequena obra adequada às vossas habilidades, mas nosso Deus fez os céus. Quando perdoais, é algum perdão adequado à vossa natureza e circunstâncias; mas quando ele perdoa, exibe as riquezas de sua graça numa escala mais grandiosa do que vossa mente finita pode compreender. Dez mil pecados da mais negra coloração, pecados de matiz infernal ele põe num momento longe, pois se deleita em misericórdia; e juízo é sua obra estranha. "Vivo eu, diz o Senhor, não tenho prazer na morte daquele que morre, mas antes que se converta a mim e viva." Esta é uma nota alegre com que meu texto me supre. Não há remissão, exceto com sangue; mas há remissão, pois o sangue foi derramado.

Chegando mais perto do texto, temos agora de insistir em sua grande lição, que:

II. EMBORA HAJA PERDÃO DO PECADO, NUNCA É SEM SANGUE

Essa é uma sentença abrangente, pois há alguns neste mundo que estão confiando para o perdão do pecado ao seu arrependimento. É, sem questão, vosso dever arrepender-vos de vosso pecado. Se desobedecestes a Deus, deveríeis estar arrependidos por isso. Cessar do pecado é apenas o dever da criatura, senão o pecado não é a violação da santa lei de Deus. Mas seja-vos conhecido, que todo o arrependimento no mundo não pode apagar o menor pecado. Se tivésseis apenas um pensamento pecaminoso cruzar vossa mente, e devêsseis lamentar por isso todos os dias de vossa vida, contudo a mancha daquele pecado não poderia ser removida mesmo pela angústia que vos custou. Onde o arrependimento é obra do Espírito de Deus, é um dom muito precioso, e é sinal de graça; mas não há poder expiatório no arrependimento. Num mar cheio de lágrimas penitenciais, não há poder ou virtude para lavar uma mancha desta imundície hedionda. Sem o derramamento de sangue, não há remissão. Mas outros supõem que, de qualquer modo, a reforma ativa crescendo do arrependimento pode realizar a tarefa. E se a embriaguez for abandonada, e a temperança tornar-se a regra? E se a licenciosidade for abandonada, e a castidade adornar o caráter? E se o trato desonesto for relinquido, e a integridade for escrupulosamente mantida em toda ação? Digo, está bem; prouvera a Deus que tais reformas tivessem lugar em toda parte — contudo por tudo isso, dívidas já incorridas não são pagas por nosso não nos endividarmos mais, e delinquências passadas não são perdoadas pelo bom comportamento futuro. Assim o pecado não é remitido pela reforma. Embora devêsseis subitamente tornar-vos imaculados como anjos (não que tal coisa seja possível para vós, pois o etíope não pode mudar sua pele, nem o leopardo suas manchas), vossas reformas não poderiam fazer expiação alguma a Deus pelos pecados que são passados nos dias que transgredistes contra ele. "Que farei então," diz o homem, "que farei?" Há aqueles que pensam que agora suas orações e suas humilhações de alma podem, talvez, efetuar algo para eles. Vossas orações, se forem sinceras, eu não as deteria; antes espero que possam ser tais orações que denotem vida espiritual. Mas oh! caro ouvinte, não há eficácia na oração para apagar pecado. Porei fortemente. Todas as orações de todos os santos na terra, e, se os santos no céu pudessem todos se juntar, todas as suas orações não poderiam apagar através de sua própria eficácia natural o pecado de uma única palavra má. Não, não há poder detergente na oração. Deus nunca a pôs para ser um limpador. Tem seus usos, e seus usos valiosos. É um dos privilégios do homem que ora, que ora aceitavelmente, mas a própria oração nunca pode apagar o pecado sem o sangue. "Sem derramamento de sangue não há remissão," orai como quiserdes.

Há pessoas que pensaram que abnegação e mortificações de tipo extraordinário poderiam livrá-las de sua culpa. Não encontramos frequentemente tais pessoas em nosso círculo, contudo há aqueles que, para se purgar do pecado, flageiam seus corpos, observam jejuns prolongados, usam saco e camisas de cabelo junto à pele, e mesmo alguns foram tão longe a imaginar que abster-se de abluções, e permitir que seu corpo seja sujo, era o modo mais pronto de purificar sua alma. Uma estranha infatuação certamente! Contudo hoje, no Hindustão, achareis o faquir passando seu corpo através de sofrimentos e distorções maravilhosos, na esperança de se livrar do pecado. Para que propósito é tudo isso? Creio ouvir o Senhor dizer: "Que é isto para mim que inclinaste tua cabeça como junco, e te envolveste em saco, e comeste cinzas com teu pão, e misturaste absinto com tua bebida? Quebaste minha lei; estas coisas não podem repará-la; fizeste injúria à minha honra por teu pecado; mas onde está a justiça que reflete honra sobre meu nome?" O velho clamor nos dias antigos era: "Com que nos apresentaremos diante de Deus?" e disseram: "Daremos nossos primogênitos por nossa transgressão, o fruto de nosso corpo pelo pecado de nossa alma?" Ai! foi tudo em vão. Aqui está a sentença. Aqui para sempre deve permanecer: "Sem derramamento de sangue não há remissão." É a vida que Deus demanda como penalidade devida pelo pecado, e nada senão a vida indicada no derramamento de sangue jamais o satisfará.

Observai, novamente, como este texto abrangente põe longe toda confiança em cerimônia, mesmo as cerimônias da própria ordenança de Deus. Há alguns que supõem que o pecado pode ser lavado no batismo. Ah! fantasia fútil! A expressão onde é uma vez usada na Escritura não implica nada do tipo — não tem tal significado como alguns lhe anexam, pois aquele próprio apóstolo, de quem se disse, gloriava-se de que não havia batizado muitas pessoas para que não supusessem haver alguma eficácia em sua administração do rito. O batismo é uma ordenança admirável, na qual o crente mantém comunhão com Cristo em sua morte. É um símbolo; não é nada mais. Dezenas de milhares e milhões foram batizados e morreram em seus pecados. Ou que proveito há no sacrifício incruento da Missa, como o Anticristo a põe? Dizem alguns que é "um sacrifício incruento," contudo ao mesmo tempo o oferecem por propiciação pelo pecado — lançamos este texto em suas faces: "Sem derramamento de sangue não há remissão." Replicam que o sangue está ali no corpo de Cristo? Respondemos que mesmo se fosse assim, isso não atenderia o caso, pois é sem o derramamento de sangue — sem o derramamento de sangue; o sangue como distinto da carne; sem o derramamento de sangue não há remissão de pecado.

E aqui devo prosseguir para fazer uma distinção que irá mais fundo ainda. O próprio Jesus Cristo não pode nos salvar, separado de seu sangue. É uma suposição que apenas a loucura jamais fez, mas devemos refutar mesmo a hipótese da loucura, quando afirma que o exemplo de Cristo pode tirar o pecado humano, que a vida santa de Jesus Cristo pôs a raça em tão bom pé com Deus que agora ele pode perdoar suas faltas e sua transgressão. Não é assim; não a santidade de Jesus, não a vida de Jesus, não a morte de Jesus, mas o sangue de Jesus apenas; pois "Sem derramamento de sangue não há remissão."

E encontrei alguns que pensam tanto da segunda vinda de Cristo, que parecem ter fixado toda a sua fé sobre Cristo em sua glória. Creio ser esta a falta do Irvingismo — que, demais ele mantém diante do olho do pecador Cristo no trono, enquanto que, embora Cristo no trono seja sempre o amado e adorável, contudo devemos ver Cristo na cruz, ou nunca poderemos ser salvos. Tua fé não deve ser posta meramente em Cristo glorificado, mas em Cristo crucificado. "Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo." "Pregamos Cristo crucificado, aos judeus escândalo, e aos gregos loucura." Lembro-me de uma pessoa que se uniu a esta igreja (a cara irmã pode estar presente agora), que havia sido por alguns anos uma professante, e nunca desfrutara paz com Deus, nem produzira qualquer dos frutos do Espírito. Disse: "Estive numa igreja onde me ensinaram a descansar sobre Cristo glorificado, e assim fixei minha confiança, tal como era, sobre ele, que nem tive senso de pecado, nem senso de perdão, de Cristo crucificado! Não sabia, e até ter visto ele como derramando seu sangue e fazendo propiciação, nunca entrei no descanso." Sim, diremos novamente, pois o texto é vitalmente importante: "Sem derramamento de sangue não há remissão," nem mesmo com o próprio Cristo. É o sacrifício que ele ofereceu por nós, que é o meio de pôr longe nosso pecado — isto, e nada mais. Passemos um pouco mais com a mesma verdade:

III. ESTA REMISSÃO DE PECADO DEVE SER ACHADA AO PÉ DA CRUZ

Há remissão a ser obtida através de Jesus Cristo, cujo sangue foi derramado. O hino que cantamos no começo do serviço vos deu a medula da doutrina. Devemos a Deus uma dívida de punição pelo pecado. Aquela dívida era devida ou não? Se a lei estava certa, a penalidade deveria ser exigida. Se a penalidade era severa demais, e a lei incorreta, então Deus cometeu um erro. Mas é blasfêmia supor isso. A lei, então, sendo uma lei justa, e a penalidade justa, fará Deus uma coisa injusta? Será coisa injusta para ele não executar a penalidade. Quereríeis que ele fosse injusto? Ele havia declarado que a alma que pecasse morreria; quereríeis que Deus fosse mentiroso? Comerá suas palavras para salvar suas criaturas? "Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso." A sentença da lei deve ser executada. Era inevitável que se Deus mantivesse a prerrogativa de sua santidade, devesse punir os pecados que os homens cometeram. Como, então, deveria nos salvar? Eis o plano! Seu caro Filho, o Senhor da glória, toma sobre si a natureza humana, vem ao lugar de tantos quantos o Pai lhe deu, fica em sua posição, e quando a sentença da justiça foi proclamada, e a espada da vingança saltou de sua bainha, eis que o glorioso Substituto descobre seu braço, e diz: "Fere, ó espada, mas fere-me, e deixa meu povo ir." À própria alma de Jesus a espada da lei penetrou, e seu sangue foi derramado, o sangue, não de alguém que era apenas homem, mas de Um que, por ser um espírito eterno foi capaz de oferecer-se sem mancha a Deus, de um modo que deu eficácia infinita aos seus sofrimentos. Ele, através do espírito eterno, somos informados, ofereceu-se sem mancha a Deus. Sendo em sua própria natureza infinitamente além da natureza do homem, compreendendo todas as naturezas do homem, como se fosse, dentro de si mesmo, por razão da majestade de sua pessoa, foi capaz de oferecer uma expiação a Deus de suficiência infinita, ilimitada, inconcebível.

O que nosso Senhor sofreu nenhum de nós pode dizer. Estou certo disto: não depreciaria ou subestimaria seus sofrimentos físicos — as torturas que suportou em seu corpo — mas estou igualmente certo de que nenhum de nós pode exagerar ou superestimar os sofrimentos de tal alma como a sua; estão além de toda concepção. Tão puro e tão perfeito, tão requintadamente sensível, e tão imaculadamente santo era ele, que ser contado com transgressores, ser ferido por seu Pai, morrer (direi?) a morte dos incircuncisos pela mão de estranhos, era a própria essência da amargura, a consumação da angústia. "Contudo aprouve ao Senhor esmagá-lo; pô-lo em aflição." Suas tristezas em si mesmas eram o que a liturgia grega bem as chama: "sofrimentos desconhecidos, grandes pesares." Daqui, também, sua eficácia é ilimitada, sem limite. Ora, portanto, Deus é capaz de perdoar pecado. Ele puniu o pecado em Cristo; torna-se justiça, bem como misericórdia, que Deus apague aquelas dívidas que foram pagas. Seria injusto — falo com reverência, mas contudo com santa ousadia — seria injusto da parte da Majestade infinita, lançar à minha conta um único pecado que foi lançado à conta de meu Substituto. Se meu Fiador tomou meu pecado, ele me livrou, e estou livre. Quem ressuscitará juízo contra mim quando fui condenado na pessoa de meu Salvador? Quem me lançará às chamas da Geena, quando Cristo, meu Substituto, sofreu o equivalente do inferno por mim? Quem lançará qualquer coisa à minha conta quando Cristo teve todos os meus crimes lançados à sua conta, respondeu por eles, os expiou, e recebeu o sinal de quitação deles, em que foi ressuscitado dos mortos para que pudesse abertamente vindicar aquela justificação na qual pela graça sou chamado e privilegiado a compartilhar? Isto é tudo muito simples, jaz numa casca de noz, mas recebemo-lo todos nós — aceitamo-lo todos nós? Oh! meus caros ouvintes, o texto é cheio de advertência para alguns de vós. Podeis ter uma disposição amável, um caráter excelente, uma direção séria de mente, mas escrupulizais em aceitar Cristo; tropeçais nesta pedra de tropeço; vos dividis nesta rocha. Como posso encontrar vosso caso infeliz? Não racionarei convosco. Abster-me-ei de entrar em qualquer argumento. Pergunto-vos uma questão. Credes que esta Bíblia é inspirada por Deus? Olhai, então, para aquela passagem: "Sem derramamento de sangue não há remissão." Que dizeis? Não é clara, absoluta, conclusiva? Permiti-me tirar a inferência. Se não tendes interesse no derramamento de sangue, que tentei descrever brevemente, há remissão alguma para vós? Pode haver? Vossos próprios pecados estão sobre vossa cabeça agora. De vossa mão serão demandados na vinda do grande Juiz. Podeis trabalhar, podeis esforçar-vos, podeis ser sinceros em vossas convicções, e quietos em vossa consciência, ou podeis ser agitados com vossos escrúpulos; mas como vive o Senhor, não há perdão para vós, exceto através deste derramamento de sangue. Rejeitais-lo? Sobre vossa própria cabeça jazará o perigo! Deus falou. Não pode ser dito que vossa ruína é designada por ele quando vosso próprio remédio é revelado por ele.

Ele vos ordena tomar o caminho que designa, e se o rejeitais, deveis morrer. Vossa morte é suicídio, seja deliberado, acidental, ou através de erro de juízo. Vosso sangue seja sobre vossa própria cabeça. Estais advertidos.

Por outro lado, que consolação de longo alcance o texto nos dá! "Sem derramamento de sangue não há remissão," mas onde há o derramamento de sangue, há remissão. Se vieste a Cristo, estás salvo. Se podes dizer de teu próprio coração:

"Minha fé põe sua mão
Sobre aquela cara cabeça tua,
Enquanto como penitente permaneço,
E aqui confesso meu pecado."

Então, teu pecado se foi. Onde está aquele jovem? onde está aquela jovem? onde estão aqueles corações ansiosos que têm estado dizendo: "Gostaríamos de ser perdoados agora"? Oh! olhai, olhai, olhai, olhai para o Salvador crucificado, e sois perdoados. Podeis ir vosso caminho, visto que aceitastes a expiação de Deus. Filha, tem bom ânimo, teus pecados, que são muitos, são perdoados. Filho, regozija-te, pois tuas transgressões são apagadas.

Minha última palavra será esta. Vós que sois mestres de outros e tentando fazer o bem, apegai-vos firmemente a esta doutrina. Deixai que esta seja a frente, o centro, a medula, e o tutano de tudo que tendes a testemunhar. Frequentemente a prego, mas nunca há um Sabbath no qual vou para minha cama com tal contentamento interior como quando preguei o sacrifício substitutivo de Cristo. Então sinto: "Se pecadores se perdem, não tenho sangue deles sobre mim." Esta é a doutrina que salva almas; agarrai-a, e tereis tomado da vida eterna; rejeitai-a, e a rejeitais para vossa confusão. Oh! apegai-vos a isto. Martinho Lutero costumava dizer que todo sermão deveria ter a doutrina da justificação pela fé nele. Verdade; mas deixai que tenha a doutrina da expiação nele. Ele diz que não podia meter a doutrina da justificação pela fé nas cabeças dos Wurtemberguenses, e se sentia meio inclinado a pegar o livro no púlpito e lançá-lo em suas cabeças, para metê-la. Temo que não teria tido sucesso se o tivesse feito. Mas oh! como tentaria martelar novamente, e novamente, e novamente sobre este único prego: "O sangue é a vida dele." "Quando eu vir o sangue, passarei por sobre vós."

Cristo entregando sua vida ao derramar seu sangue — é isto que dá perdão e paz a cada um de vós, se apenas olhardes para ele — perdão agora, perdão completo; perdão para sempre. Olhai longe de todas as outras confianças, e confiai nos sofrimentos e na morte do Deus Encarnado, que foi aos céus, e que vive hoje para pleitear diante do trono de seu Pai, o mérito do sangue que, no Calvário, derramou pelos pecadores. Como vos encontrarei a todos naquele grande dia, quando o Crucificado virá como o Rei e Senhor de todos, que dia está se apressando rapidamente, como vos encontrarei então, rogo-vos dai-me testemunho de que me esforcei para vos dizer em toda simplicidade qual é o caminho da salvação; e se o rejeitais, fazei-me este favor, de dizer que pelo menos vos ofereci em nome de Jeová isto, seu evangelho, e urgentemente vos exortei a aceitá-lo, para que possais ser salvos. Mas antes prouvera a Deus que eu pudesse vos encontrar ali, todos cobertos na única expiação, vestidos na única justiça, e aceitos no único Salvador, e então juntos cantaremos: "Digno é o Cordeiro que foi morto, e nos remiu para Deus por seu sangue para receber honra, e poder, e domínio para todo o sempre." Amém.

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