Todos os tratos de Deus com os homens têm tido um caráter de aliança. Assim lhe aprouve ordenar, que não tratará conosco exceto através de uma aliança, nem podemos tratar com Ele exceto da mesma maneira. Adão no jardim estava sob uma aliança com Deus e Deus estava em aliança com ele. Aquela aliança ele prontamente quebrou. Há uma aliança ainda existindo em todo o seu terrível poder — terrível digo, porque foi quebrada da parte do homem, e portanto Deus certamente cumprirá suas solenes ameaças e sanções. Essa é a aliança das obras. Por esta ele tratou com Moisés, e nesta trata com toda a raça dos homens como representada no primeiro Adão. Depois quando Deus quis tratar com Noé, foi por uma aliança; e quando nas eras seguintes tratou com Abraão, ainda lhe aprouve ligar-se a ele por uma aliança. Aquela aliança ele preservou e guardou, e foi continuamente renovada a muitos de sua descendência. Deus não tratou nem mesmo com Davi, o homem segundo seu próprio coração, exceto com uma aliança. Fez uma aliança com seu ungido; e amados, ele trata convosco e comigo neste dia ainda por aliança. Quando vier em todos os seus terrores para condenar, ferirá por aliança — a saber, pela espada da aliança do Sinai; e se vier nos esplendores de sua graça para salvar, ainda vem a nós por aliança — a saber, a aliança de Sião; a aliança que fez com o Senhor Jesus Cristo, a cabeça e representante de seu povo. E notai, sempre que viermos aos íntimos e próximos tratos com Deus, é certo que seja, de nossa parte, também por aliança. Fazemos com Deus, após a conversão, uma aliança de gratidão; vimos a ele sensíveis do que fez por nós, e nos dedicamos a ele. Pomos nosso selo àquela aliança quando no batismo somos unidos à sua igreja; e dia a dia, quantas vezes viermos ao redor da mesa do partir do pão, renovamos o voto de nossa aliança, e assim temos intercurso pessoal com Deus. Não posso orar a ele exceto através da aliança da graça; e sei que não sou seu filho a menos que seja seu, primeiro através da aliança pela qual Cristo me comprou, e segundo, através da aliança pela qual me entreguei, e dediquei tudo que sou e tudo que tenho a ele. É importante, então, visto que a aliança é a única escada que alcança da terra ao céu — visto que é a única maneira pela qual Deus tem intercurso conosco, e pela qual podemos tratar com ele, que devemos saber como discriminar entre aliança e aliança; e não devemos estar em qualquer trevas ou erro a respeito do que é a aliança da graça, e do que não é. Será nosso esforço, esta manhã, tornar tão simples e claro quanto possível, o assunto da aliança falada em nosso texto, e assim falarei — primeiro sobre a aliança da graça; segundo, seu caráter eterno; e terceiro, a relação que o sangue tem com ela. "O sangue da aliança eterna."
Primeiro de tudo, então, tenho de falar esta manhã da ALIANÇA mencionada no texto; e observo que podemos facilmente descobrir à primeira vista o que a aliança não é. Vemos imediatamente que esta não é a aliança das obras, pela simples razão de que esta é uma aliança eterna. Ora, a aliança das obras não foi eterna em qualquer sentido. Não foi eterna; foi feita primeiro no jardim do Éden. Teve um começo, foi quebrada; será violada continuamente e logo será encerrada e passará: portanto, não é eterna em qualquer sentido. A aliança das obras não pode portar um título eterno; mas como a do meu texto é uma aliança eterna, portanto não é uma aliança das obras. Deus fez uma aliança primeiro de tudo com a raça humana, que corria desta maneira: "Se tu, ó homem, fores obediente, viverás e serás feliz, mas se fores desobediente, perecerás. No dia que me desobedeceres certamente morrerás." Aquela aliança foi feita com todos nós na pessoa de nosso representante, o primeiro Adão. Se Adão tivesse guardado aquela aliança, cremos que cada um de nós teria sido preservado. Mas visto que ele quebrou a aliança, vós e eu, e todos nós, caímos e fomos considerados dali em diante como os herdeiros da ira, como herdeiros do pecado como propensos a todo mal e sujeitos a toda miséria. Aquela aliança passou com respeito ao povo de Deus; foi posta de lado através da nova e melhor aliança que a eclipsou total e inteiramente por sua glória graciosa.
Novamente, posso observar que a aliança aqui referida não é a aliança de gratidão que é feita entre o filho amoroso de Deus e seu Salvador. Tal aliança é muito certa e apropriada. Confio que todos nós que conhecemos o Salvador tenhamos dito em nossos próprios corações:
Entregamos tudo a ele. Mas aquela aliança não é a do texto, pela simples razão de que a aliança em nosso texto é eterna. Ora, a nossa foi apenas escrita há alguns poucos anos. Teria sido desprezada por nós nas partes anteriores de nossa vida, e não pode no máximo ser tão antiga quanto nós mesmos.
Tendo assim facilmente mostrado o que esta aliança não é, posso observar o que esta aliança é. E aqui será necessário para mim subdividir este ponto novamente e falar dele assim: Para entender uma aliança, deveis saber quem são as partes contratantes; segundo, quais são as estipulações do contrato; terceiro, quais são os objetos dele; e então, se quiserdes ir ainda mais fundo, deveis entender algo dos motivos que levam as partes contratantes a formar a aliança entre si.
Ora, nesta aliança da graça, devemos primeiro de tudo observar as altas partes contratantes entre quem foi feita. A aliança da graça foi feita antes da fundação do mundo entre Deus o Pai, e Deus o Filho; ou para pô-lo numa luz ainda mais escriturística, foi feita mutuamente entre as três pessoas divinas da adorável Trindade. Esta aliança não foi feita mutuamente entre Deus e o homem. O homem não existia naquele tempo; mas Cristo ficou na aliança como representante do homem. Naquele sentido permitiremos que foi uma aliança entre Deus e o homem, mas não uma aliança entre Deus e qualquer homem pessoal e individualmente. Foi uma aliança entre Deus com Cristo, e através de Cristo indiretamente com toda a semente comprada por sangue que foi amada de Cristo desde a fundação do mundo. É um pensamento nobre e glorioso, a própria poesia daquela antiga doutrina calvinística que ensinamos, que muito antes da estrela da manhã conhecer seu lugar, antes de Deus ter falado a existência do nada, antes da asa do anjo ter agitado o éter não navegado, antes de uma canção solitária ter perturbado a solenidade do silêncio no qual Deus reinava supremo, ele havia entrado em solene conselho consigo mesmo, com seu Filho, e com seu Espírito, e havia naquele conselho decretado, determinado, proposto, e predestinado a salvação de seu povo. Ele havia, além disso, na aliança arranjado os caminhos e meios, e fixado e estabelecido tudo que deveria cooperar para efetuar o propósito e o decreto. Minha alma voa de volta agora, alada pela imaginação e pela fé, e olha para aquela misteriosa câmara de conselho, e pela fé contemplo o Pai comprometendo-se ao Filho, e o Filho comprometendo-se ao Pai, enquanto o Espírito dá seu compromisso a ambos, e assim aquele pacto divino, por muito tempo para ser escondido nas trevas, é completado e estabelecido — a aliança que nestes últimos dias foi lida na luz do céu, e tornou-se a alegria, e esperança, e glória de todos os santos.
E agora, quais foram as estipulações desta aliança? Foram algo desta maneira. Deus havia previsto que o homem após a criação quebraria a aliança das obras; que por mais suave e gentil a posse pela qual Adão tinha possessão do Paraíso, contudo aquela posse seria muito severa para ele, e ele certamente se rebelaria contra ela, e se arruinaria. Deus havia também previsto que seus eleitos, que ele havia escolhido do resto da humanidade cairiam pelo pecado de Adão, visto que eles, tanto quanto o resto da humanidade, foram representados em Adão. A aliança portanto tinha por seu fim a restauração do povo escolhido. E agora podemos facilmente entender quais foram as estipulações. Da parte do Pai, assim corre a aliança. Não posso vo-la contar na gloriosa língua celestial na qual foi escrita: sou obrigado a trazê-la até a fala que convém ao ouvido da carne, e ao coração do mortal. Assim, digo, corre a aliança, em palavras como estas: "Eu, o Altíssimo Jeová, dou pelo presente ao meu unigênito e bem-amado Filho, um povo, incontável além do número das estrelas, que será por ele lavado do pecado, por ele preservado, e guardado, e conduzido, e por ele, por fim, apresentado diante de meu trono, sem mancha, ou ruga, ou qualquer coisa semelhante. Faço aliança por juramento, e juro por mim mesmo, porque não posso jurar por maior, que estes que agora dou a Cristo serão para sempre os objetos de meu amor eterno. A eles perdoarei através do mérito do sangue. A estes darei uma perfeita justiça; estes adotarei e farei meus filhos e filhas, e estes reinarão comigo através de Cristo eternamente." Assim corre aquele lado glorioso da aliança. O Espírito Santo também, como uma das altas partes contratantes deste lado da aliança, deu sua declaração: "Pelo presente faço aliança," diz ele, "que todos quantos o Pai der ao Filho, eu em devido tempo vivificarei. Mostrar-lhes-ei sua necessidade de redenção; cortarei deles toda esperança sem fundamento, e destruirei seus refúgios de mentiras. Trazê-los-ei ao sangue da aspersão; dar-lhes-ei fé pela qual este sangue lhes será aplicado, operarei neles toda graça; manterei viva sua fé; limpá-los-ei e expulsarei toda depravação deles, e serão apresentados por fim sem mancha e sem falta." Este foi um lado da aliança, que neste próprio dia está sendo cumprida e escrupulosamente guardada. Quanto ao outro lado da aliança esta foi a parte dela, comprometida e pactuada por Cristo. Ele assim declarou, e fez aliança com seu Pai: "Meu Pai, de minha parte faço aliança que na plenitude do tempo me tornarei homem. Tomarei sobre mim a forma e natureza da raça caída. Viverei em seu mundo miserável, e por meu povo guardarei a lei perfeitamente. Elaborarei uma justiça sem mancha, que será aceitável às demandas de tua lei justa e santa. Em devido tempo carregarei os pecados de todo o meu povo. Exigirás suas dívidas de mim; o castigo da paz deles eu suportarei, e por minhas pisaduras eles serão sarados. Meu Pai, faço aliança e prometo que serei obediente até a morte, mesmo a morte da cruz. Magnificarei tua lei, e a tornarei honrosa. Sofrerei tudo que eles deveriam ter sofrido. Suportarei a maldição de tua lei, e todos os frascos de tua ira serão esvaziados e gastos sobre minha cabeça. Então ressuscitarei; ascenderei ao céu; intercederei por eles à tua direita; e far-me-ei responsável por cada um deles, que nem um daqueles que me deste jamais se perderá, mas trarei todas as minhas ovelhas das quais, pelo teu sangue, me constituíste o pastor — trarei cada uma segura a ti por fim." Assim correu a aliança; e agora, penso, tendes uma ideia clara do que foi e como está — a aliança entre Deus e Cristo, entre Deus o Pai e Deus o Espírito, e Deus o Filho como a cabeça da aliança e representante de todos os eleitos de Deus. Disse-vos, tão brevemente quanto pude quais foram as estipulações dela. Querereis observar, meus caros amigos, que a aliança é, de um lado, perfeitamente cumprida. Deus o Filho pagou as dívidas de todos os eleitos. Ele, por nós homens e por nossa redenção, sofreu toda a ira divina. Nada resta agora deste lado da questão exceto que ele continue a interceder, para que possa seguramente trazer todos os seus remidos à glória.
Do lado do Pai esta parte da aliança foi cumprida para incontáveis miríades. Deus o Pai e Deus o Espírito não ficaram para trás em seu contrato divino. E notai, este lado será tão plena e completamente terminado e executado quanto o outro. Cristo pode dizer do que prometeu fazer. "Está consumado!" e o mesmo será dito por todos os gloriosos aliados. Todos por quem Cristo morreu serão perdoados, todos justificados, todos adotados. O Espírito os vivificará a todos, dará fé a todos, os trará todos ao céu, e eles, cada um deles, sem impedimento ou obstáculo, ficarão aceitos no amado, no dia quando o povo será contado, e Jesus será glorificado.
E agora tendo visto quem foram as altas partes contratantes, e quais foram os termos da aliança feita entre elas, vejamos quais foram os objetos desta aliança. Foi esta aliança feita para todo homem da raça de Adão? Certamente não; descobrimos o secreto pelo visível. Aquilo que está na aliança deve ser visto em devido tempo pelo olho e ser ouvido com o ouvido. Vejo multidões de homens perecendo, continuando perversamente em seus caminhos ímpios, rejeitando a oferta de Cristo que lhes é apresentada no Evangelho dia após dia, pisoteando o sangue do Filho do Homem, desafiando o Espírito que contende com eles; vejo estes homens indo de mal a pior por fim perecendo em seus pecados. Não tenho a tolice de crer que tenham qualquer parte na aliança da graça. Aqueles que morrem impenitentes, as multidões que rejeitam o Salvador, são claramente provados não ter parte nem sorte na sagrada aliança da graça divina; pois se estivessem interessados naquela, haveria certas marcas e evidências que nos mostrariam isto. Deveríamos achar que em devido tempo nesta vida seriam trazidos ao arrependimento, seriam lavados no sangue do Salvador, e seriam salvos. A aliança — para chegar de uma vez diretamente ao assunto, por mais ofensiva que a doutrina possa ser — a aliança tem relacionamento com os eleitos e nenhum além. Isto vos ofende? Ficai ofendidos para sempre. Que disse Cristo? "Por eles rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus." Se Cristo ora por nenhum senão pelos escolhidos, por que deveis estar zangados que vos seja também ensinado da Palavra de Deus que na aliança foi feita provisão para as mesmas pessoas, para que pudessem receber vida eterna. Quantos crerem, quantos confiarem em Cristo, quantos perseverarem até o fim, quantos entrarem no descanso eterno, tantos e não mais estão interessados na aliança da graça divina.
Além disso, temos de considerar quais foram os motivos desta aliança. Por que foi a aliança feita de todo modo? Não havia compulsão ou constrangimento sobre Deus. Ainda não havia criatura. Mesmo pudesse a criatura ter uma influência sobre o Criador, não havia nenhuma existindo no período quando a aliança foi feita. Não podemos olhar para lugar nenhum para o motivo de Deus na aliança exceto se for nele mesmo, pois de Deus poderia ser dito literalmente naquele dia, "EU SOU, e não há nenhum além de mim." Por que então fez ele a aliança? Respondo, a soberania absoluta a ditou. Mas por que foram certos homens os objetos dela e por que não outros? Respondo, a graça soberana guiou a pena. Não foi o mérito do homem, não foi nada que Deus previu em nós que o fez escolher muitos e deixar outros continuar em seus pecados. Não foi nada neles, foi soberania e graça combinadas que fizeram a escolha divina. Se vós, meus irmãos e irmãs, tendes uma boa esperança de que estais interessados na aliança da graça, deveis cantar aquela canção:
"Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia," "porque não é do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece." Sua soberania elegeu, e sua graça distinguiu, e a imutabilidade decretou. Nenhum motivo ditou a eleição dos indivíduos, exceto um motivo nele mesmo de amor e de soberania divina. Sem dúvida a grande intenção de Deus em fazer a aliança de todo modo foi sua própria glória; qualquer motivo inferior àquele seria abaixo de sua dignidade. Deus deve achar seus motivos em si mesmo: não tem de olhar para traças e vermes por motivos para suas ações. Ele é o "EU SOU."
Faz como quer nos exércitos do céu. Quem pode deter sua mão e dizer-lhe: "Que fazes?" Perguntará o barro ao oleiro pelo motivo para fazê-lo um vaso? Ditará a coisa formada antes de sua criação ao seu Criador? Não, deixai Deus ser Deus, e deixai o homem encolher-se ao seu nada nativo, e se Deus o exaltar, não se glorie como se Deus achasse uma razão para a ação no homem. Ele acha seus motivos em si mesmo. É auto-contido, e não acha nada além nem necessita qualquer coisa de ninguém senão de si mesmo. Assim tenho, tão plenamente quanto o tempo permite esta manhã, discutido o primeiro ponto concernente à aliança. Possa o Espírito Santo conduzir-nos a esta verdade sublime.
Mas agora, em segundo lugar, vimos notar SEU CARÁTER ETERNO. É chamada uma aliança eterna. E aqui observais imediatamente sua antiguidade. A aliança da graça é a mais antiga de todas as coisas. É às vezes um assunto de grande alegria para mim pensar que a aliança da graça é mais antiga que a aliança das obras. A aliança das obras teve um começo, mas a aliança da graça não teve; e bendito seja Deus a aliança das obras tem seu fim, mas a aliança da graça permanecerá firme quando céu e terra passarem. A antiguidade da aliança da graça demanda nossa atenção grata. É uma verdade que tende a elevar a mente. Não conheço doutrina mais grandiosa que esta. É a própria alma e essência de toda poesia, e em sentar-me e meditar sobre ela. Confesso que meu espírito às vezes foi arrebatado de deleite. Podeis conceber a ideia de que antes de todas as coisas Deus pensou em vós? Que quando ainda não havia feito suas montanhas, havia pensado em ti, pobre verme insignificante? Antes das magnificas constelações começarem a brilhar, e antes do grande centro do mundo ter sido fixado, e todos os planetas poderosos e mundos diversos terem sido feitos para girar ao redor dele, então havia Deus fixado o centro de sua aliança, e ordenado o número daquelas estrelas menores que deveriam girar ao redor daquele centro bendito, e derivar luz dele. Ora, quando alguém é tomado com algumas concepções grandiosas do universo sem limites, quando com os astrônomos voamos através do espaço, quando achamos que é sem fim, e as hostes estelares sem número, não parece maravilhoso que Deus desse ao pobre homem insignificante a preferência além mesmo de todo o universo? Oh isto não pode tornar-nos orgulhosos, porque é uma verdade divina, mas deve fazer-nos sentir felizes. Oh crente, pensas que és nada, mas Deus não pensa assim de ti. Os homens te desprezam mas Deus lembrou-se de ti antes de fazer qualquer coisa. A aliança de amor que fez com seu Filho em teu favor é mais antiga que as eras grisalhas, e se voas de volta quando ainda o tempo não havia começado, antes daquelas rochas maciças que carregam as marcas da idade grisalha sobre elas, terem começado a ser depositadas, ele te havia amado e escolhido, e feito uma aliança em teu favor. Lembrai-vos bem destas coisas antigas das colinas eternas.
Então, novamente, é uma aliança eterna por sua segurança. Nada é eterno que não seja seguro. O homem pode erguer suas estruturas e pensar que podem durar para sempre, mas a Torre de Babel desmoronou, e as próprias Pirâmides carregam sinais de ruína. Nada que o homem fez é eterno, porque não pode assegurá-lo contra a decadência. Mas quanto à aliança da graça, bem diz Davi dela: "Está ordenada em todas as coisas e é firme." É
Não há um "se" ou um "mas" em todo ela do começo ao fim. O livre-arbítrio odeia os "será" e "quer" de Deus, e gosta dos "ses" e "mas" do homem, mas não há "ses" e "mas" na aliança da graça. Assim corre a posse: "Eu farei" e "eles deverão." Jeová jura e o Filho cumpre. É — deve ser verdade. Deve ser certa, pois "EU SOU" determina. "Disse ele e não o fará? Ou falou, e não o cumprirá?" É uma aliança certa. Às vezes tenho dito, se qualquer homem fosse construir uma ponte ou uma casa se me deixasse apenas uma única pedra ou uma madeira para pôr onde eu quisesse, me comprometeria que sua casa cairia. Deixai-me se há alguém prestes a construir uma ponte, ter apenas simplesmente o colocar de uma pedra — selecionarei qual pedra será — e desafiarei-o a construir uma ponte que permaneça. Deveria simplesmente selecionar a pedra angular e então ele poderia erguer o que quisesse e deveria logo cair. Ora, a aliança arminiana é uma que não pode permanecer porque há uma ou duas pedras nela (e isso é pôr na forma mais leve; poderia ter dito, "porque cada pedra nela," e isso seria mais perto da marca) que são dependentes da vontade do homem. É deixado à vontade da criatura se ela será salva ou não. Se não quiser, não há influência constrangedora que possa dominar e vencer sua vontade. Não há promessa de que qualquer influência será forte o suficiente para vencê-lo, segundo o arminiano. Assim a questão é deixada ao homem, e Deus o poderoso Construtor — embora ponha pedra sobre pedra maciça como o universo — contudo pode ser derrotado por esta criatura. Fora com tal blasfêmia! Toda a estrutura, do começo ao fim, está na mão de Deus. Os próprios termos e condições daquela aliança tornaram-se seus selos e garantias, visto que Jesus os cumpriu todos. Seu pleno cumprimento em cada jota e til é certo, e deve ser cumprido por Cristo Jesus, quer o homem queira quer não queira. Não é a aliança da criatura, é do Criador. Não é a aliança do homem, é a aliança do Todo-Poderoso, e ele a executará e cumprirá, a vontade do homem não obstante. Pois esta é a própria glória da graça — que o homem odeia ser salvo — que é inimizade contra ele, contudo Deus o terá redimido — que o consenso de Deus é. "Tu deverás," e a intenção do homem é "Não quero," e o "deverás" de Deus conquista o "não quero" do homem. A graça todo-poderosa cavalga vitoriosamente sobre o pescoço do livre-arbítrio e o conduz cativo em cativeiro glorioso ao poder todo-conquistador da graça e amor irresistíveis. É uma aliança certa, e portanto merece o título de eterna.
Além disso, não é apenas certa, mas é imutável. Se não fosse imutável, não poderia ser eterna. Aquilo que muda passa. Podemos estar bem certos de que qualquer coisa que tenha a palavra "mudança" sobre ela, mais cedo ou mais tarde morrerá, e será posta de lado como uma coisa de nada. Mas na aliança, tudo é imutável. Qualquer coisa que Deus estabeleceu deve vir a passar, e nem palavra, ou linha, ou letra, pode ser alterada. Qualquer coisa que o Espírito prometeu será feita, e qualquer coisa que Deus o Filho prometeu foi cumprida, e será consumada no dia de sua aparição. Oh se pudéssemos crer que as linhas sagradas pudessem ser apagadas — que a aliança pudesse ser borrada e embaçada, ora então meus caros amigos, poderíamos deitar-nos e desesperar. Ouvi dizer por alguns pregadores, que quando o cristão é santo, está na aliança; que quando peca, é riscado novamente; que quando se arrepende, é posto novamente, e se falha é riscado mais uma vez; e assim vai para dentro e para fora da porta, como faria para dentro e para fora de sua própria casa. Vai por uma porta e sai por outra. É às vezes filho de Deus, e às vezes filho do diabo — às vezes herdeiro do céu, e logo herdeiro do inferno. E conheço um homem que foi tão longe a dizer que embora um homem pudesse ter perseverado através da graça por sessenta anos, contudo se caísse no último ano de sua vida — se pecasse e assim morresse, pereceria eternamente, e toda a sua fé, e todo o amor que Deus lhe havia manifestado nos dias passados seria para nada. Estou muito feliz de dizer que tal noção de Deus é exatamente a própria noção que tenho do diabo. Não poderia crer em tal Deus, e não poderia curvar-me diante dele. Um deus que ama hoje e odeia amanhã; um Deus que dá uma promessa, e contudo sabe de antemão que o homem não verá a promessa cumprida; um Deus que perdoa e pune — que justifica e depois executa — é um Deus que não posso suportar. Não é o Deus das Escrituras tenho certeza, pois ele é imutável, justo, santo, e verdadeiro, e tendo amado os seus, os amará até o fim, e se deu uma promessa a qualquer homem, a promessa será guardada, e aquele homem uma vez na graça, está na graça para sempre, e sem falta por fim entrará na glória.
E então para terminar este ponto. A aliança é eterna porque nunca se esgotará. Será cumprida mas permanecerá firme. Quando Cristo tiver completado tudo, e trazido todo crente ao céu; quando o Pai tiver visto todo o seu povo reunido — a aliança é verdade, chegará a uma consumação, mas não a uma conclusão, pois assim corre a aliança: Os herdeiros da graça serão benditos para sempre, e enquanto "para sempre" durar, esta aliança eterna demandará a felicidade, a segurança, a glorificação, de cada objeto dela.
Tendo assim notado o caráter eterno da aliança, concluo pela mais doce e preciosa porção da doutrina — a relação que o sangue tem com ela — O SANGUE DA ALIANÇA ETERNA. O sangue de Cristo fica numa relação quádrupla com a aliança. Com respeito a Cristo, seu sangue precioso derramado no Getsêmani, no Gábata e no Gólgota, é o cumprimento da aliança. Por este sangue o pecado é cancelado; pelas agonias de Jesus a justiça é satisfeita; por sua morte a lei é honrada; e por aquele sangue precioso em toda a sua eficácia mediatorial, e em todo o seu poder purificador, Cristo cumpre tudo que estipulou fazer em favor de seu povo para com Deus. Oh, crente, olha para o sangue de Cristo, e lembra que ali está a parte de Cristo da aliança executada. E agora, nada resta para ser cumprido senão a parte de Deus, nada há para ti fazeres; Jesus fez tudo; nada há para o livre-arbítrio suprir; Cristo fez tudo que Deus pode demandar. O sangue é o cumprimento do lado devedor da aliança, e agora Deus torna-se obrigado por seu próprio juramento solene a mostrar graça e misericórdia a todos quantos Cristo remiu por seu sangue.
Com respeito ao sangue em outro aspecto, é para Deus o Pai o vínculo da aliança. Quando vejo Cristo morrendo na cruz, vejo o Deus eterno daquele tempo, se posso usar o termo daquele que sempre deve ser livre, obrigado por seu próprio juramento e aliança a executar cada estipulação. Diz a aliança: "Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito reto?" Deve ser feito, pois Jesus morreu, e a morte de Jesus é o selo da aliança. Diz: "Aspergirei água pura sobre vós e ficareis limpos; de todas as vossas iniquidades vos purificarei?" Então deve ser feito, pois Cristo cumpriu sua parte. E, portanto, agora podemos apresentar a aliança não mais como uma coisa de dúvida; mas como nossa reivindicação sobre Deus através de Cristo, e vindo humildemente sobre nossos joelhos, pleiteando aquela aliança, nosso Pai celestial não negará as promessas nela contidas, mas fará cada uma delas sim e amém para nós através do sangue de Jesus Cristo.
Então, novamente, o sangue da aliança tem relação conosco como os objetos da aliança, e essa é sua terceira luz; não é apenas um cumprimento no que se refere a Cristo, e um vínculo no que se refere a seu Pai, mas é uma evidência no que se refere a nós mesmos. E aqui, caros irmãos e irmãs, deixai-me falar afetuosamente convosco. Estais confiando totalmente no sangue? Foi seu sangue — o sangue precioso de Cristo — aplicado à vossa consciência? Vistes vossos pecados perdoados, através de seu sangue? Recebestes perdão de pecados através do sangue de Jesus? Estais gloriando-vos em seu sacrifício, e é sua cruz vossa única esperança e refúgio? Então estais na aliança. Alguns homens querem saber se são eleitos. Não podemos dizê-lo a menos que nos digam isto. Crês? Está tua fé fixada no sangue precioso? Então és da aliança. E oh, pobre pecador, se não tens nada para recomendar-te; se estás ficando para trás, e dizendo "Não ouso vir! Tenho medo! Não estou na aliança!" ainda Cristo te ordena vir. "Vinde a mim," diz ele. "Se não podes vir ao Pai da aliança, vem ao Fiador da aliança. Vinde a mim e eu vos darei descanso." E quando tiveres vindo a ele, e seu sangue tiver sido aplicado a ti não duvides, mas que no rolo vermelho da eleição está teu nome. Podes ler teu nome nos caracteres sangrentos da expiação de um Salvador? Então o lerás um dia nas letras douradas da eleição do Pai. Aquele que crê é eleito. O sangue é o símbolo, o sinal, o penhor, a segurança, o selo da aliança da graça para ti. Deve sempre ser o telescópio através do qual possas olhar para ver as coisas que estão longe. Não podes ver tua eleição com o olho nu, mas através do sangue de Cristo podes vê-la bastante claramente. Confia no sangue, pobre pecador, e então o sangue da aliança eterna é uma prova de que és herdeiro do céu.
Por último, o sangue fica numa relação com todos os três, e aqui posso acrescentar que o sangue é a glória de todos. Para o Filho é o cumprimento, para o Pai o vínculo, para o pecador a evidência, e para todos — Para Pai, Filho, e pecador — é a glória comum e a glória comum. Nisto o Pai se agrada; nisto o Filho também, com alegria, olha para baixo e vê a compra de suas agonias; e nisto deve o pecador sempre achar seu conforto e sua canção eterna: "Jesus, teu sangue e justiça, são minha glória, minha canção, para todo o sempre!"
E agora, meus caros ouvintes, tenho uma pergunta a fazer, e terminei. Tendes a esperança de que estais na aliança? Pusestes vossa confiança no sangue? Lembrai, embora imagineis, talvez, do que tenho estado dizendo, que o evangelho é restrito, que o evangelho é livremente pregado a todos. O decreto é limitado, mas as boas novas são tão amplas quanto o mundo. O evangelho, as boas novas, são tão amplas quanto o universo. Digo-o a toda criatura debaixo do céu, porque me é dito para fazê-lo. O segredo de Deus, que é para tratar com a aplicação, aquilo é restrito aos escolhidos de Deus, mas não a mensagem, pois aquela deve ser proclamada a todas as nações. Ora tens ouvido o evangelho muitas e muitas vezes em tua vida. Corre assim: "Esta é uma palavra fiel, e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores." Crês nisso? E esta é tua esperança — algo como isto: "Sou um pecador. Confio que Cristo morreu por mim; ponho minha confiança no mérito de seu sangue, e afunde ou nade, não tenho outra esperança senão esta.
Tens ouvido; recebeste no teu coração, e te apossaste dele; então és um daqueles na aliança. E por que deveria a eleição assustar-te? Se escolheste Cristo, depende dele que te escolheu. Se teu olho lacrimoso está olhando para ele, então seu olho onisciente há muito olhou para ti; se teu coração o ama, seu coração te ama melhor do que jamais podes amar, e se agora estás dizendo: "Meu pai, serás o guia de minha juventude," dir-te-ei um segredo — ele tem sido teu guia, e te trouxe a ser o que agora és, um buscador humilde, e ele será teu guia e te trará seguro por fim. Mas és um livre-arbítrio orgulhoso, jactancioso, dizendo: "Arrepender-me-ei e crerei sempre que escolher; tenho tanto direito de ser salvo quanto qualquer um, pois faço meu dever tanto quanto outros, e sem dúvida receberei minha recompensa" — se estás reivindicando uma expiação universal, que deve ser recebida à opção da vontade do homem, vai e reivindica-a, e serás desapontado em tua reivindicação. Acharás que Deus não tratará contigo naquele fundamento de todo modo, mas dirá: "Vai-te daqui, nunca te conheci. Aquele que não vem a mim através do Filho não vem de modo algum." Creio que o homem que não está disposto a submeter-se ao amor eletivo e graça soberana de Deus, tem grande razão para questionar se é um cristão de todo modo, pois o espírito que rejeita aquilo é o espírito do diabo, e o espírito do coração não humilhado, não renovado. Possa Deus tirar a inimizade de vosso coração à sua própria verdade preciosa, e reconciliar-vos a si mesmo através do SANGUE de seu Filho, que é o vínculo e selo da aliança eterna.