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SERMÃO 31

"O Sangue"

Êxodo 12:13
"Quando eu vir o sangue, passarei por cima de vós." — Êxodo 12:13

O povo de Deus está sempre seguro. "Todos os santos estão na sua mão;" e a mão de Deus é um lugar de segurança, tanto quanto um lugar de honra. Nada pode ferir o homem que fez de Deus seu refúgio. "Deste mandamento para me salvares," disse Davi; e todo filho crente de Deus pode dizer o mesmo. Peste, fome, guerra, tempestade — todas estas receberam mandamento de Deus para salvar seu povo. Embora a terra trema debaixo dos pés do homem, contudo o cristão pode permanecer firme, e embora os céus sejam enrolados, e o firmamento passe como um pergaminho que é queimado por calor ardente, contudo não precisa um cristão temer; o povo de Deus será salvo: se não podem ser salvos debaixo dos céus, serão salvos nos céus; se não há segurança para eles no tempo de tribulação sobre esta terra sólida, serão "arrebatados juntamente com o Senhor nos ares, e assim estarão sempre com o Senhor," e sempre seguros.

Ora, no tempo do qual este Livro de Êxodo fala, o Egito estava exposto a um terrível perigo. O próprio Jeová estava prestes a marchar pelas ruas de todas as cidades do Egito. Não era meramente um anjo destruidor, mas o próprio Jeová; pois assim está escrito: "Passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo primogênito na terra do Egito, tanto de homens como de animais." Ninguém menos que EU SOU, o grande Deus, havia jurado "cortar Raabe" com a espada da vingança. Tremei, vós habitantes da terra, pois Deus desceu entre vós, provocado, incensado, e por fim despertado de seu aparente sono de paciência. Cingiu sua terrível espada, e veio para vos ferir. Estremecei de medo, todos vós que tendes pecado dentro de vós, pois quando Deus anda pelas ruas, espada na mão, não vos ferirá a todos? Mas escutai! a voz da misericórdia da aliança fala, os filhos de Deus estão seguros, mesmo que um Deus irado esteja nas ruas. Como estão seguros da vara do ímpio, assim estão seguros da espada da justiça — sempre e eternamente seguros; pois não foi tocado nem um cabelo da cabeça de um israelita; Jeová os guardou seguros debaixo de suas asas. Enquanto despedaçou seus inimigos como um leão, contudo protegeu seus filhos, cada um deles. Mas, amados, embora isto seja sempre verdade, que o povo de Deus está seguro, há outro fato que é igualmente verdadeiro, a saber, que o povo de Deus está seguro apenas através do sangue. A razão pela qual Deus poupa seu povo no tempo de calamidade é, porque ele vê a marca de sangue em sua testa. Qual é a base daquela grande verdade, que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus? Qual é a causa de que todas as coisas assim produzem bem para eles, senão esta, que são comprados com o precioso sangue de Cristo? Portanto é que nada pode feri-los, porque o sangue está sobre eles, e toda coisa maligna deve passar por eles. Foi assim naquela noite no Egito. O próprio Deus estava fora com sua espada; mas os poupou, porque viu a marca de sangue na verga e nas duas ombreiras. E assim é conosco. No dia quando Deus em sua ira feroz sair de sua habitação, para aterrorizar a terra com terrores e condenar os ímpios, estaremos seguros, se cobertos com a justiça do Salvador, e aspergidos com seu sangue, formos achados nele.

Ouço alguém dizer, que agora estou vindo a um assunto antigo? Este pensamento me ocorreu quando estava preparando para pregar, que teria de vos contar uma história antiga novamente; e exatamente quando estava pensando nisso, acontecendo de folhear um livro, encontrei uma anedota de Judson o missionário em Birmânia. Havia passado por privações inauditas, e havia realizado façanhas perigosas por seu Mestre. Retornou, após trinta anos de ausência, à América.

"Anunciado para dirigir-se a uma assembleia numa cidade provincial, e uma vasta multidão tendo se reunido de grandes distâncias para ouvi-lo, levantou-se ao fim do culto usual, e, como todos os olhos estavam fixos e todo ouvido atento, falou por cerca de quinze minutos, com muito sentimento, do precioso Salvador, do que havia feito por nós, e do que lhe devíamos; e sentou-se, visivelmente emocionado. 'As pessoas estão muito desapontadas,' disse um amigo a ele no caminho para casa; 'admiram-se que não tenhas falado de alguma outra coisa.' 'Por que, o que queriam?' replicou: 'Apresentei, ao melhor de minha habilidade, o assunto mais interessante do mundo.' 'Mas queriam algo diferente — uma história.' 'Bem, estou certo de que lhes dei uma história — a mais emocionante que se pode conceber.' 'Mas já a haviam ouvido antes. Queriam algo novo de um homem que acabara de vir dos antípodas.' 'Então me alegro que tenham isso para dizer, que um homem vindo dos antípodas não tinha nada melhor para contar que a maravilhosa história do amor moribundo de Jesus. Meu negócio é pregar o evangelho de Cristo; e quando posso falar de todo modo, não ouso brincar com minha comissão. Quando olhei para aquelas pessoas hoje, e lembrando onde as encontraria novamente, como poderia levantar-me e fornecer alimento à vã curiosidade — fazer cócegas em sua fantasia com histórias divertidas, por mais decentemente enfiadas numa linha de religião? Isso não é o que Cristo quis dizer por pregar o evangelho. E então como poderia depois enfrentar a terrível acusação, 'Dei-te uma oportunidade de lhes falar de MIM; tu a gastaste descrevendo tuas próprias aventuras!'"

Assim pensei. Bem, se Judson contou a história antiga depois que estivera trinta anos fora, e não pôde achar nada melhor, voltarei apenas a este assunto antigo, que é sempre novo e sempre fresco para nós — o precioso sangue de Cristo, pelo qual somos salvos.

Primeiro, então, o sangue; segundo, sua eficácia; terceiro, a única condição anexa a ele; — "Quando eu vir o sangue;" e quarto, a lição prática.

I. O SANGUE EM SI

Primeiro, então, O SANGUE EM SI. No caso dos israelitas foi o sangue do Cordeiro Pascal. Em nosso caso, amados, é o sangue do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

1. Um Sacrifício Divinamente Designado

O sangue do qual tenho solenemente de falar esta manhã é, primeiro de tudo, o sangue de uma vítima divinamente designada. Jesus Cristo não veio a este mundo sem designação. Foi enviado aqui por seu Pai. Isto de fato é um dos fundamentos subjacentes da esperança do cristão. Podemos confiar na aceitação de Jesus Cristo por seu Pai, porque seu Pai o ordenou para ser nosso Salvador desde antes da fundação do mundo. Pecador! quando te prego o sangue de Cristo esta manhã, estou pregando algo que é bem-agradável a Deus; pois o próprio Deus escolheu Cristo para ser o Redentor; ele próprio o separou desde antes da fundação do mundo, e ele próprio, mesmo Jeová o Pai, pôs sobre ele a iniquidade de todos nós. O sacrifício de Cristo não é trazido a ti sem autorização; não é algo que Cristo fez sub-repticiamente e em segredo; foi escrito no grande decreto desde toda eternidade, que ele era o Cordeiro morto desde antes da fundação do mundo. Como ele próprio disse: "Eis que venho; no rolo do livro está escrito de mim, deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus." É vontade de Deus que o sangue de Jesus seja derramado. Jesus é o Salvador escolhido de Deus para os homens; e aqui, quando me dirijo aos ímpios, aqui, digo, está um argumento potente com eles. Pecador! Podes confiar em Cristo, que ele é capaz de salvar-te da ira de Deus, pois o próprio Deus o designou para salvar.

2. Uma Vítima Sem Mancha

Cristo Jesus, também, como o cordeiro, não foi apenas uma vítima divinamente designada, mas foi imaculado. Houvesse um pecado em Cristo, não teria sido capaz de ser nosso Salvador; mas foi sem mancha ou defeito — sem pecado original, sem qualquer transgressão prática. Nele não havia pecado, embora fosse "tentado em todos os pontos como nós somos." Aqui, novamente, está a razão pela qual o sangue é capaz de salvar, porque é o sangue de uma vítima inocente, uma vítima cuja única razão para a morte jazia em nós, e não nele mesmo. Quando o pobre cordeiro inocente foi morto, pelo chefe da família do Egito, posso imaginar que pensamentos como estes correram através de sua mente. "Ah" diria, enquanto cravava a faca no cordeiro, "Esta pobre criatura morre, não por qualquer culpa que jamais teve, mas para mostrar-me que sou culpado, e que merecia morrer assim." Volvei, então, vosso olho para a cruz, e vede Jesus sangrando ali e morrendo por vós. Lembrai:

"Por pecados não seus, ele morreu para expiar;"

O pecado não tinha apoio nele, nunca o perturbou. O príncipe deste mundo veio e olhou, mas disse: "Nada tenho em Cristo; não há lugar para eu plantar meu pé — nenhum pedaço de terra corrupta, que eu possa chamar de minha." Ó pecador, o sangue de Jesus é capaz de salvar-te, porque ele foi perfeitamente inocente, e "morreu o justo pelos injustos, para nos levar a Deus."

3. Sangue Divino

Mas alguns dirão: "Donde tem o sangue de Cristo tal poder para salvar?" Minha resposta é, não apenas porque Deus designou aquele sangue, e porque foi o sangue de um ser inocente e imaculado, mas porque o próprio Cristo era Deus. Se Cristo fosse um mero homem, meus ouvintes, não poderíeis ser exortados a confiar nele; fosse ele jamais tão imaculado e santo, não haveria eficácia em seu sangue para salvar; mas Cristo era "verdadeiro Deus de verdadeiro Deus;" o sangue que Jesus derramou foi sangue divino. Foi o sangue de homem, pois era homem como nós mesmos; mas a divindade estava tão aliada com a humanidade, que o sangue derivou eficácia dela. Podeis imaginar qual deve ser o valor do sangue do próprio querido Filho de Deus? Não, não podeis pôr uma estimativa sobre ele que alcance nem a milionésima parte de sua preciosidade. Sei que estimais aquele sangue como além de todo preço se fostes lavados nele; mas sei também que não o estimais o suficiente. Foi a maravilha dos anjos que Deus se dignasse a morrer; será a maravilha de todas as maravilhas, a maravilha incessante da eternidade, que Deus se tornasse homem para morrer. Oh! quando pensamos que Cristo foi Criador do mundo, e que em seus ombros todo-sustentadores pendia o universo, não podemos admirar-nos que sua morte seja poderosa para redimir, e que seu sangue limpe do pecado. Vinde cá santos e pecadores; reuni-vos e apertai-vos ao redor da cruz, e vede este homem, dominado pela fraqueza, desmaiando, gemendo, sangrando, e morrendo. Este homem é também "Deus sobre todos, bendito para sempre." Não há poder para salvar? Não há eficácia em sangue como aquele? Podeis imaginar qualquer extensão de pecado que exceda o poder da divindade — qualquer altura de iniquidade que sobrepuje os píncaros sem topo do divino? Posso conceber uma profundidade de pecado que seja mais profunda que o infinito? ou uma largura de iniquidade que seja mais larga que a Divindade? Porque ele é divino, é "capaz de salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus." Divinamente designado, imaculado, e divino, seu sangue é o sangue pelo qual podeis escapar da ira e da cólera de Deus.

4. Sangue Oferecido Uma Vez

Mais uma vez; o sangue do qual falamos hoje, é sangue uma vez derramado por muitos para remissão do pecado. O cordeiro pascal era morto todo ano; mas agora Cristo apareceu para tirar o pecado pela oferenda de si mesmo e agora não há mais menção de pecado, pois Cristo uma vez por todas tirou o pecado, pela oferenda de si mesmo. O judeu tinha o cordeiro toda manhã e toda tarde, pois havia uma menção contínua de pecado; o sangue do cordeiro não podia tirá-lo. O cordeiro valia para hoje, mas havia o pecado de amanhã, que se faria com aquele? Ora, uma vítima fresca devia sangrar. Mas oh, meu ouvinte, nossa maior alegria é, que o sangue de Jesus foi uma vez derramado, e ele disse: "Está consumado." Não há mais necessidade do sangue de touros ou de cabritos, ou de qualquer outro sacrifício; aquele um sacrifício "aperfeiçoou para sempre os que são santificados." Pecador trêmulo! vem à cruz novamente; teus pecados são pesados, e muitos; mas a expiação por eles é completada pela morte de Cristo. Olha então para Jesus, e lembra que Cristo não precisa de nada para suplementar seu sangue. O caminho entre Deus e o homem está terminado e aberto; a veste para cobrir tua nudez está completa, sem um trapo teu; o banho no qual deves ser lavado está cheio, cheio até a borda, e não precisa que nada seja acrescentado a ele. "Está consumado!" Deixa isso soar em teus ouvidos. Não há nada agora que possa impedir que sejas salvo, se Deus te fez disposto agora a crer em Jesus Cristo. Ele é um Salvador completo, cheio de graça para um pecador vazio.

5. Sangue Aceito

E contudo devo acrescentar mais um pensamento, e então deixar este ponto. O sangue de Jesus Cristo é sangue que foi aceito. Cristo morreu — foi sepultado; mas nem céu nem terra podiam dizer se Deus havia aceito o resgate. Era necessário o selo de Deus sobre a grande Magna Carta da salvação do homem, e aquele selo foi posto, meu ouvinte, naquela hora quando Deus convocou o anjo, e ordenou-lhe que descesse do céu e removesse a pedra. Cristo foi posto em prisão vil na casa de prisão da sepultura, como refém por seu povo. Até que Deus houvesse assinado o mandado de absolvição de todo o seu povo, Cristo devia permanecer nos laços da morte. Não tentou quebrar sua prisão; não saiu ilegalmente, arrancando as barras de sua masmorra; esperou: enrolou o lenço, dobrando-o à parte: pôs as roupas da sepultura num lugar separado; esperou, esperou pacientemente; e por fim desceu dos céus, como o clarão de um meteoro, o anjo desceu, tocou a pedra e a removeu; e quando Cristo saiu, ressuscitando dos mortos na glória do poder de seu Pai, então foi posto o selo sobre a grande carta de nossa redenção. O sangue foi aceito, e o pecado foi perdoado. E agora, alma, não é possível para Deus rejeitar-te, se vieres hoje a ele, alegando o sangue de Cristo. Deus não pode — e aqui falamos com reverência também — o Deus eterno não pode rejeitar um pecador que alega o sangue de Cristo: pois se o fizesse, seria negar-se a si mesmo, e contradizer todos os seus atos anteriores. Ele aceitou o sangue, e o aceitará; nunca pode revogar aquela aceitação divina da ressurreição; e se fores a Deus, meu ouvinte, alegando simples e apenas o sangue daquele que pendeu na árvore, Deus deve des-Deusar-se antes que possa rejeitar-te, ou rejeitar aquele sangue.

E contudo temo que não tenha sido capaz de fazer-vos pensar no sangue de Cristo. Rogo-vos, então, apenas por um momento tentai imaginar Cristo na cruz. Deixai vossa imaginação figurar a turba variada reunida ao redor daquela pequena colina do Calvário. Levantai agora vossos olhos, e vede as três cruzes postas naquele montículo que se ergue. Vede no centro a fronte coroada de espinhos de Cristo. Vedes as mãos que sempre estiveram cheias de bênção pregadas firmes ao madeiro amaldiçoado! Vedes sua cara querida, mais desfigurada que a de qualquer outro homem? Vedes agora, como sua cabeça se inclina sobre seu peito nas agonias extremas da morte? Era um homem real, lembrai. Foi uma cruz real. Não penseis nestas coisas como fantasias, e caprichos, e romances. Havia tal ser, e morreu como descrevo. Deixai vossa imaginação retratá-lo, e então ficai quietos um momento e pensai sobre este pensamento: "O sangue daquele homem, que agora contemplo morrendo em agonia, deve ser minha redenção; e se quero ser salvo, devo pôr minha única confiança no que ele sofreu por mim, quando ele próprio 'levou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro.'" Se Deus o Espírito Santo vos ajudar, estareis então num estado correto para prosseguir ao segundo ponto.

II. A EFICÁCIA DESTE SANGUE

"Quando eu vir o sangue passarei por cima de vós."

1. O Único Meio de Salvação

O sangue de Cristo tem tal poder divino para salvar, que nada senão ele pode jamais salvar a alma. Se algum israelita tolo houvesse desprezado o mandamento de Deus, e houvesse dito: "Aspergirei alguma outra coisa sobre as ombreiras," ou, "Adornarei a verga com joias de ouro e prata," devia ter perecido; nada poderia salvar sua família senão o sangue aspergido. E agora deixemos todos lembrar, que "outro fundamento ninguém pode pôr além do que já está posto, Jesus Cristo," pois "não há outro nome dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos." Minhas obras, minhas orações, minhas lágrimas, não podem salvar-me; o sangue, apenas o sangue, tem poder para redimir. Sacramentos, por bem que sejam observados, não podem salvar-me. Nada senão teu sangue, ó Jesus, pode redimir-me da culpa do pecado. Embora eu desse rios de azeite, e dez milhares da gordura de animais cevados; sim, embora eu desse meu primogênito por minha transgressão, o fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma, tudo seria inútil. Nada senão o sangue de Jesus tem nele o menor poder salvador. Oh! vós que estais confiando em vosso batismo infantil, vossa confirmação, e vossa Ceia do Senhor, estais confiando numa mentira. Nada senão o sangue de Jesus pode salvar. Não me importa quão correta a ordenança, quão verdadeira a forma, quão escriturística a prática, é toda vaidade para vós se confiais nela. Deus me livre de dizer uma palavra contra ordenanças, ou contra coisas santas; mas mantende-as em seus lugares. Se as fizerdes a base da salvação de vossa alma, são mais leves que uma sombra, e quando mais precisardes delas achareis que vos falham. Não há, repito novamente, o menor átomo de poder salvador em qualquer lugar senão no sangue de Jesus. Aquele sangue tem o único poder para salvar, e qualquer outra coisa em que confiardes será um refúgio de mentiras. Esta é a rocha, e esta é a obra que é perfeita; mas todas as outras coisas são sonhos diurnos; devem ser varridas no dia quando Deus vier para provar nossa obra de que tipo é. O SANGUE fica em majestade solitária, a única rocha de nossa salvação.

2. Deve Salvar Sozinho

Este sangue não é simplesmente a única coisa que pode salvar, mas deve salvar sozinho. Ponha qualquer coisa com o sangue de Cristo, e estás perdido; confia em qualquer outra coisa com isto e pereces. "É verdade," diz um, "que o Sacramento não pode salvar-me, mas confiarei naquilo, e em Cristo também." És um homem perdido, então. Tão ciumento é Cristo de sua honra, que qualquer coisa que ponhas com ele, por melhor que seja, torna-se, pelo fato de a pores com ele, uma coisa amaldiçoada. E que é que quererias pôr com Cristo? Tuas boas obras? Quê! atrelarás um réptil com um anjo — atrelar-te ao carro da salvação com Cristo? Que são tuas boas obras? Tuas justiças são "como trapos de imundícia;" e trapos imundos serão unidos à justiça celestial imaculada de Cristo? Não deve, e não será. Confia apenas em Jesus, e não podes perecer; mas confia em qualquer coisa com ele, e estás tão certamente condenado como se confiasses em teus pecados. Jesus apenas — Jesus apenas — Jesus apenas — esta é a rocha de nossa salvação.

E aqui deixai-me parar, e combater algumas formas e moldes que nossa justiça própria sempre toma. "Oh," diz um, "poderia confiar em Cristo se sentisse mais meus pecados." Senhor, aquele é um erro condenador. É teu arrependimento, teu senso de pecado, para ser um co-Salvador? Pecador! o sangue é para salvar-te, não tuas lágrimas, a morte de Cristo, não teu arrependimento. És ordenado hoje a confiar em Cristo; não em teus sentimentos, não em tuas dores por causa do pecado. Muitos homens têm sido trazidos a grande angústia de alma, porque têm olhado mais para seu arrependimento que para a obediência de Cristo —

"Pudessem tuas lágrimas fluir para sempre,
Pudesse teu zelo não conhecer trégua;
Tudo pelo pecado não poderia expiar,
Cristo deve salvar e apenas Cristo."

"Não," diz outro, "mas sinto que não valorizo o sangue de Cristo como deveria, e portanto tenho medo de crer." Meu amigo, aquela é outra forma insidiosa do mesmo erro. Deus não diz: "Quando eu vir vossa estimativa do sangue de Cristo, passarei por cima de vós;" não, mas "quando eu vir o sangue." Não é vossa estimativa daquele sangue, é o sangue que vos salva. Como disse antes, aquele magnifico, solitário sangue, deve estar sozinho.

"Não," diz outro, "mas se eu tivesse mais fé então teria esperança." Aquela, também, é uma forma muito mortal do mesmo mal. Não deveis ser salvos pela eficácia de vossa fé, mas pela eficácia do sangue de Cristo. Não é vosso crer, é o morrer de Cristo. Ordeno-vos a crer, mas ordeno-vos a não olhar para vosso crer como o fundamento de vossa salvação. Nenhum homem irá ao céu se confiar em sua própria fé; podeis tanto confiar em vossas próprias boas obras quanto confiar em vossa fé. Vossa fé deve tratar com Cristo não consigo mesma. O mundo pende no nada; mas a fé não pode pender sobre si mesma, deve pender em Cristo. Às vezes, quando minha fé é vigorosa, pego-me fazendo isto. Há alegria fluindo para meu coração, e depois de um tempo começo a achar que minha alegria subitamente parte. Pergunto as causas, e acho que a alegria veio porque estava pensando em Cristo; mas quando começo a pensar sobre minha alegria, então minha alegria fugiu. Não deveis pensar em vossa fé mas em Cristo. A fé vem da meditação sobre Cristo. Volvei, então, vosso olho, não sobre a fé mas sobre Jesus. Não é vosso apegar-se a Cristo que vos salva; é o apegar-se dele a vós. Não é a eficácia de vosso crer nele; é a eficácia de seu sangue aplicado a vós através do Espírito.

Não sei como seguir suficientemente Satanás em todas as suas sinuosidades no coração humano, mas isto, sei, ele está sempre tentando reter esta grande verdade — o sangue, e apenas o sangue tem poder para salvar. "Oh," diz outro, "se eu tivesse tal e tal experiência então poderia confiar." Amigo, não é tua experiência, é o sangue. Deus não disse: "Quando eu vir vossa experiência," mas "Quando eu vir o sangue de Cristo." "Não," diz um, "mas se eu tivesse tais e tais graças, poderia ter esperança." Não, mas ele não disse: "Quando eu vir vossas graças," mas "Quando eu vir o sangue." Obtenha graça, obtenha tanto quanto puderes de fé, e amor, e esperança, mas oh, não as ponhas onde o sangue de Cristo deveria estar. O único pilar de vossa esperança deve ser a Cruz, e qualquer outra coisa que ponhas para apoiar a cruz de Cristo é desagradável a Deus, e cessa de ter qualquer virtude nela, porque é um anticristo. O sangue de Cristo, então apenas, salva; mas qualquer coisa com ele, e não salva.

3. Poder Suficiente para Qualquer Caso

Contudo novamente podemos dizer do sangue de Cristo, é todo-suficiente. Não há caso que o sangue de Cristo não possa encontrar; não há pecado que não possa lavar. Não há multiplicidade de pecado que não possa limpar, nenhuma agravação de culpa que não possa remover. Podeis estar duas vezes tingidos como escarlata, podeis ter jazido na lixívia de vossos pecados estes setenta anos, mas o sangue de Cristo pode tirar a mancha. Podeis tê-lo blasfemado quase tantas vezes quantas respirastes, podeis tê-lo rejeitado tantas vezes quantas ouvistes seu nome; podeis ter quebrado seu Sabbath, podeis ter negado sua existência, podeis ter duvidado de sua Divindade, podeis ter perseguido seus servos, podeis ter pisoteado seu sangue; mas tudo isto o sangue pode lavar. Podeis ter cometido fornicações sem número, sim, o próprio assassinato pode ter maculado vossas mãos, mas esta fonte cheia de sangue pode lavar todas as manchas. O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado. Não há tipo de homem, não há aborto da humanidade, nenhum demônio em forma humana que este sangue não possa lavar. O inferno pode ter procurado fazer um padrão de iniquidade, pode ter se esforçado para pôr pecado, e pecado, e pecado juntos, até ter feito um monstro na forma de homem, um monstro aborrecido da humanidade, mas o sangue de Cristo pode transformar aquele monstro. Os sete demônios de Madalena pode expulsar, a loucura do endemoninhado pode aliviar, a lepra profundamente assentada pode curar, a ferida do aleijado, sim, o membro perdido pode restaurar. Não há doença espiritual que o grande Médico não possa curar. Este é o grande Católicon, o remédio para todas as doenças. Nenhum caso pode exceder sua virtude, seja jamais tão negro ou vil; sangue todo-suficiente, todo-suficiente.

4. Salvação Certa

Mas prossegui mais longe. O sangue de Cristo salva certamente. Muitas pessoas dizem: "Bem, espero que serei salvo através do sangue de Cristo;" e talvez, diz um aqui, que está crendo em Cristo, "Bem, espero que me salvará." Meu caro amigo, aquilo é uma ofensa à honra de Deus. Se qualquer homem vos dá uma promessa, e dizeis: "Bem, espero que a cumprirá;" não está implicado que tendes pelo menos alguma pequena dúvida quanto a se ele o fará ou não. Ora, não espero que o sangue de Cristo lave meu pecado. Sei que está lavado por seu sangue; e aquela é verdadeira fé que não espera acerca do sangue de Cristo, mas diz: "Sei que é assim; aquele sangue limpa. No momento que foi aplicado à minha consciência limpou, e limpa ainda." O israelita, se foi verdadeiro à sua fé, não foi para dentro, e disse: "Espero que o anjo destruidor passará por mim;" mas disse: "Sei que passará; sei que Deus não pode ferir-me; sei que não o fará. Há a marca de sangue ali, estou seguro além de dúvida; não há a sombra de um risco de meu perecimento. Estou, devo estar salvo." E assim prego um evangelho certo esta manhã: "Todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo não perecerá mas terá a vida eterna." "Dou às minhas ovelhas a vida eterna," disse ele, "e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão." Ó, pecador, não tenho a sombra de uma dúvida quanto a se Cristo te salvará se confiares em seu sangue. Ó não, sei que o fará. Estou certo de que seu sangue pode salvar; e rogo-te, em nome de Cristo, crê o mesmo; crê que aquele sangue é certo para limpar, não apenas que pode limpar, mas que deve limpar, "pelo qual devemos ser salvos," diz a Escritura. Se temos aquele sangue sobre nós devemos ser salvos, ou então devemos supor um Deus infiel e um Deus indelicado; de fato, um Deus transformado de tudo que é semelhante a Deus em tudo que é baixo.

5. Salvação Completa

E contudo novamente, aquele que tem este sangue aspergido sobre ele está salvo completamente. Nem um cabelo da cabeça de um israelita foi perturbado pelo anjo destruidor. Foram completamente salvos; assim aquele que crê no sangue está salvo de todas as coisas. Gosto da antiga tradução do capítulo nos Romanos. Houve um mártir uma vez convocado diante de Bonner; e depois que expressou sua fé em Cristo, Bonner disse: "És um herege e serás condenado." "Não" disse ele, citando a versão antiga, "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que creem em Cristo Jesus." E isso traz um doce pensamento diante de nós; não há condenação para o homem que tem o sangue de Cristo sobre ele; não pode ser condenado por Deus de modo algum. Seria impossível. Não há tal coisa; não pode haver tal coisa. Não há condenação. Não pode ser condenado; pois não há condenação para aquele que está em Cristo Jesus. Deixai o sangue ser aplicado à verga, e às ombreiras, não há destruição. Há um anjo destruidor para o Egito, mas nenhum para Israel. Há um inferno para os ímpios, mas nenhum para os justos. E se não há nenhum, não podem ser postos ali. Se não há condenação não podem sofrê-la. Cristo salva completamente; todo pecado é lavado, toda bênção é assegurada, a perfeição é provida, e a glória eterna é o resultado certo.

Penso então, que me demorei suficientemente na eficácia de seu sangue; mas nenhuma língua de serafim pode jamais falar seu valor. Devo ir para casa para meu quarto, e chorar porque sou impotente para contar esta história, e contudo me esforcei para contá-la simplesmente, para que todos possam entender; e oro, portanto, que Deus o Espírito conduza alguns de vós a pôr vossa confiança simples, total, e inteiramente, no sangue de Jesus Cristo.

III. A ÚNICA CONDIÇÃO

Isto nos traz ao terceiro ponto, sobre o qual devo ser muito breve, e o terceiro ponto é — A ÚNICA CONDIÇÃO. Que diz um: "Pregais uma salvação condicional?" Sim prego, há a única condição: "Quando eu vir o sangue passarei por cima de vós." Que condição bendita! não diz, quando vós virdes o sangue, mas quando eu o vir. Vosso olho de fé pode estar tão turvo, que não possais ver o sangue de Cristo. Sim, mas o olho de Deus não está turvo: Ele pode vê-lo, sim deve vê-lo; pois Cristo no céu está sempre apresentando seu sangue diante da face de seu Pai. O israelita não podia ver o sangue; estava dentro da casa; não podia ver o que estava na verga e nas ombreiras; mas Deus podia vê-lo; e esta é a única condição da salvação do pecador — o ver de Deus o sangue; não vosso vê-lo.

Ó quão seguro, então, está todo aquele que confia no Senhor Jesus Cristo. Não é sua fé que é a condição, não sua segurança; é o simples fato, que o Calvário está perpetuamente posto diante dos olhos de Deus num Salvador ressuscitado e ascendido. "Quando eu vir o sangue, passarei por cima de vós." Caí sobre vossos joelhos então em oração, ó almas duvidosas, e deixai esta ser vossa súplica: — "Senhor, tem misericórdia de mim pelo bem do sangue. Não posso vê-lo como poderia desejar, mas Senhor tu o vês, e tens dito, 'Quando eu o vir, passarei por cima de vós.' Senhor, tu o vês hoje, passa por cima de meu pecado, e perdoa-me apenas pelo seu querido bem."

IV. A LIÇÃO PRÁTICA

E agora, por último, QUAL É A LIÇÃO. A lição do texto é para o cristão esta. Cristão, cuida que sempre te lembres, que nada senão o sangue de Cristo pode salvar-te. Prego para mim mesmo hoje o que prego para vós. Frequentemente me acho assim: — Tenho estado orando para que o Espírito Santo possa descansar em meu coração e limpar uma paixão má, e de repente me acho cheio de dúvidas e medos, e quando pergunto a razão, acho que é isto: — Tenho estado olhando para a obra do Espírito até pôr a obra do Espírito onde a obra de Cristo deveria estar. Ora, é pecado pôr vossas próprias obras onde as de Cristo deveriam estar; mas é exatamente tanto pecado pôr a obra do Espírito Santo ali. Nunca deveis fazer do Espírito de Deus um anticristo, e virtualmente fazeis isso quando pondes a obra do Espírito como o fundamento de vossa fé. Não ouvis frequentemente homens cristãos dizerem: "Não posso crer em Cristo hoje como pude ontem, pois ontem senti tais doces e benditos gozos." Ora, que é isso senão pôr vossas disposições e sentimentos onde Cristo deveria estar. Lembrai, o sangue de Cristo não é mais capaz de salvar-vos numa boa disposição que numa má disposição. O sangue de Cristo deve ser vossa confiança, tanto quando estais cheios de alegria quanto quando estais cheios de dúvida. E aqui é que vossa felicidade estará em perigo, por começardes a pôr vossas boas disposições e bons sentimentos no lugar do sangue de Cristo. Ó, irmãos, se pudéssemos sempre viver com um olho único fixado na Cruz, deveríamos sempre ser felizes; mas quando obtemos um pouco de paz, e um pouco de alegria, começamos a prezar a alegria e paz tanto, que esquecemos a fonte donde vêm. Como diz o Sr. Brooks: "Um marido que ama sua esposa, talvez, frequentemente dar-lhe-á joias e anéis; mas suponha que ela devesse sentar-se e começar a pensar em suas joias e anéis tanto que devesse esquecer seu marido, seria negócio de um marido bondoso tirá-las dela para que pudesse fixar suas afeições inteiramente nele." E é assim conosco. Jesus nos dá joias de fé e amor, e passamos a confiar nelas, e ele as tira para que possamos vir novamente como pecadores culpados, desamparados, e pôr nossa confiança em Cristo. Para citar um verso que frequentemente repito — creio que o espírito de um cristão deveria ser, de sua primeira hora à sua última, o espírito destas duas linhas: —

"Nada em minha mão eu trago,
Simplesmente à tua cruz me apego."

Essa é a lição para o santo.

Mas outro minuto; há uma lição aqui para o pecador. Pobre, trêmulo, culpado pecador autocondenado, tenho uma palavra do Senhor para ti. "O sangue de Jesus Cristo nos purifica," isto é vós e eu, "nos purifica de todo pecado." Aquele "nos" vos inclui, se agora estais sentindo vossa necessidade de um Salvador. Ora aquele sangue é capaz de salvar-vos, e sois ordenados simplesmente a confiar naquele sangue, e sereis salvos. Mas ouço-vos dizer: "Senhor," dissestes, "Se eu sentir minha necessidade. Ora sinto que não sinto, apenas queria sentir minha necessidade o suficiente." Bem não trouxais vossos sentimentos então, mas confiai apenas no sangue. Se puderes confiar simplesmente no sangue de Cristo, quaisquer que sejam vossos sentimentos, ou não sejam, aquele sangue é capaz de salvar. Mas estais dizendo: "Como serei salvo? Que devo fazer?" Bem não há nada que possas fazer. Deves deixar de fazer totalmente, a fim de seres salvo. Deve haver uma negação de todas as vossas obras. Deveis obter Cristo primeiro, e então podeis fazer tanto quanto quiserdes. Mas não deveis confiar em vossas obras. Vosso negócio é agora erguer vosso coração em oração assim: — "Senhor, mostraste-me algo de mim mesmo, mostra-me algo de meu Salvador." Vede o Salvador pendendo na cruz, volvei vosso olho para ele, e dizei: "Senhor, confio em ti; não tenho mais nada em que confiar, mas confio em ti; afunde ou nade, meu Salvador, confio em ti." E tão certamente, pecador, como puderes pôr tua confiança em Cristo, estás tão seguro como um apóstolo ou profeta. Nem morte nem inferno pode matar aquele homem cuja firme confiança está ao pé da cruz. "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo." "Aquele que crer e for batizado será salvo; mas aquele que não crer será condenado." Aquele que crer será salvo, sejam seus pecados jamais tantos; aquele que não crer será condenado, sejam seus pecados jamais tão poucos, e sejam suas virtudes jamais tantas. Confia em Jesus agora! Pecador, confia apenas em Jesus.

"Nem todo o sangue de animais
Nos altares judaicos mortos
Poderia dar paz à consciência culpada,
Ou lavar a mancha.

Mas Cristo, o Cordeiro celestial,
Tira todos os nossos pecados;
Um sacrifício de nome mais nobre
E sangue mais rico que eles."

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