Não tentarei, esta noite, provar que o Cântico dos Cânticos tem um significado espiritual. Estou certo de que tem. Tem sido frequentemente dito, e, creio, comumente pensado, que este cântico foi originalmente escrito por Salomão em seu casamento com a filha de Faraó. Ora, estou tão certo quanto sou de minha própria existência, que este é um dos erros mais grosseiros que jamais foi cometido. Não há nada sobre a filha de Faraó nele. É, primeiro de tudo, improvável que fosse escrito sobre ela; e em segundo lugar irei mais longe, e afirmarei que é impossível que pudesse ter sido escrito por Salomão em honra dela. Se olhardes por todo o cântico achareis que é assim; no primeiro início ela é comparada a uma pastora. Ora, todos os pastores são abominação aos egípcios; pensais, portanto, que Salomão compararia uma princesa egípcia à própria coisa que ela abominava? Em segundo lugar, todo o cenário está na terra de Canaã, nada dele no Egito; e além disso, todos os lugares de que Salomão fala, como Engedi, Líbano, Amaná, e Damasco, estavam todos fora do caminho; nenhum deles seria passado ao vir do Egito para Jerusalém, e muito provavelmente a princesa egípcia nem mesmo sabia que tais lugares existiam, de modo que se Salomão tivesse desejado louvá-la não a teria comparado aos tanques de Hesbom, mas teria falado das águas doces do Nilo. Além disso, não poderia ter sido a filha de Faraó. A filha de Faraó jamais guardou ovelhas? — e ainda a pessoa que é representada aqui o fez. Os vigias já a seguiram pelas ruas, e tentaram tirar-lhe o véu? Salomão lhes teria mostrado algo se tivessem; portanto, isso é impossível. Num lugar, Salomão a compara a uma companhia de cavalos nos carros de Faraó. Ora, cavalos eram, entre os israelitas, coisas comuns; e que teria a filha de Faraó dito, se Salomão a tivesse comparado a uma companhia de cavalos? Bem poderia ter olhado em sua face e dito: "Não tens comparação melhor para mim que os cavalos de meu pai?" É muito improvável que Salomão perpetrasse aquela tolice. É improvável, portanto, e podemos quase dizer impossível, que pudesse ser a filha de Faraó. Ela nunca veio do Líbano e do topo de Amaná; muito provavelmente nunca ouviu daqueles lugares, ou, se ouviu deles, não poderia ter vindo deles, pois veio do Egito.
O fato é que este livro tem sido enigma para muitos homens, pela simples razão de que não foi escrito para eles de todo. Homens doutos e sábios acham isto uma pedra sobre a qual são quebrados em pó, apenas porque não foi escrito para eles. Homens que estão dispostos a rir das Escrituras acham aqui uma oportunidade para exercer seu espírito profano, apenas porque o livro não foi escrito para eles. Este livro era chamado pelos judeus "o Santo dos Santos;" nunca permitiam que alguém o lesse até ter trinta anos de idade; era considerado livro tão Sagrado. Muitos cristãos que o leem não podem entendê-lo. E como o bom Joseph Irons diz: "Esta era anã não é provável que estime este livro como deveria ser estimado; apenas aqueles que têm vivido perto de Jesus, beberam de seu cálice, comeram sua carne e beberam seu sangue, apenas aqueles que conhecem a plenitude da palavra 'comunhão,' podem sentar-se a este livro com deleite e prazer; e a tais homens estas palavras são como oblatas feitas com mel, maná, alimento de anjos: cada sentença é como ouro, e cada palavra é como muito ouro fino." O verdadeiro crente que tem vivido perto de seu Mestre achará este livro ser uma massa, não de ouro meramente, pois toda a Palavra de Deus é isto, mas uma massa de diamantes cintilando com brilho, e todas as coisas que possas conceber não são comparáveis a ele por seu valor inigualável. Se devo preferir um livro acima de outro, preferiria alguns livros da Bíblia para doutrina, alguns para experiência, alguns para exemplo, alguns para ensino, mas deixai-me preferir este livro acima de todos os outros para comunhão e intimidade. Quando o cristão está mais perto do céu, este é o livro que leva consigo. Há tempos quando deixaria até os Salmos para trás, quando ficando nas fronteiras de Canaã, quando está na terra de Beulá, e está apenas atravessando a corrente, e pode quase ver seu Amado através das fendas da nuvem de tempestade, então é que pode começar a cantar o Cântico de Salomão. Este é quase o único livro que poderia cantar no céu, mas na maior parte, poderia cantá-lo todo, ainda louvando aquele que é seu amante e amigo eterno.
Com estas observações preliminares, vamos de uma vez ao texto. Disse que este é Jesus falando à sua Igreja. Como quando a Igreja louva Jesus, não vos admirais, pois ele merece tudo que ela pode dizer dele, e dez mil vezes mais. Quando ela usa tais expressões amplas concernentes à sua beleza, sentis que fica muito aquém de seu tema poderoso; que apenas o rebaixa por suas comparações, pois pode apenas comparar o maior com o menor, e o belo e o eterno, com aquilo que é mutável e transitório. Mas ouvir Cristo voltar-se para sua Igreja, e parecer dizer-lhe: "Tu me louvaste, eu te louvarei; pensas muito de mim, penso tanto de ti; usas grandes expressões para mim, usarei exatamente as mesmas para ti. Dizes que meu amor é melhor que o vinho, assim é o teu para mim; dizes-me que todas as minhas vestes cheiram a mirra, assim fazem as tuas; dizes que minha palavra é mais doce que mel aos teus lábios, assim é a tua aos meus. Tudo que podes dizer de mim, eu o digo de ti; vejo-me em teus olhos, posso ver minha própria beleza em ti; e qualquer coisa que me pertença, pertence a ti. Portanto, ó meu amor, cantarei a canção de volta: tu a cantaste ao teu amado, e eu a cantarei à minha amada, tu a cantaste ao teu Ishi, eu a cantarei à minha Hephzibah, tu a cantaste ao teu marido, eu a cantarei à minha irmã, minha esposa."
Ora, notai quão docemente o Senhor Jesus canta à sua esposa. Primeiro, ele louva seu amor; "Quão formoso é o teu amor, minha irmã, minha esposa! quanto melhor é o teu amor do que o vinho!" A seguir louva suas graças; "O aroma dos teus unguentos é muito melhor do que toda especiaria." Então louva suas palavras; "Os teus lábios, ó esposa minha, destilam favos de mel." Então louva seus pensamentos, as coisas que não saem de sua boca, mas jazem debaixo de sua língua; "Mel e leite estão debaixo da tua língua." Então termina louvando suas obras: "O aroma das tuas vestes é como o aroma do Líbano."
Comecemos do começo então, Cristo primeiro LOUVA O AMOR DE SEU POVO. Amas a Deus, meu ouvinte? Amas a Jesus? Se não, fica para trás! Estas coisas nada têm que ver contigo, pois se não amas a Cristo, não tens parte nem porção no assunto. Estás no fel da amargura, e no laço da iniquidade. Mas podes dizer como Pedro disse, quando seu Mestre lhe perguntou três vezes: "Simão, filho de Jonas, amas-me?" Podes dizer: "Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que te amo; e tu sabes, ó meu Senhor! que minha tristeza é que não te amo mais, anseio ter meu pequeno amor aumentado, que meu coração possa ser consumido pelo amor, que zelo de amor por ti possa consumir-me completamente?" Escuta então, ao que o Senhor Jesus te diz esta noite, por seu Espírito Santo, deste cântico! Teu amor, pobre, fraco, e frio embora seja, é muito precioso ao Senhor Jesus, de fato é tão precioso, que ele mesmo não pode dizer quão precioso é. Não diz quão precioso, mas diz: "quão formoso." Esta é expressão que os homens usam quando não sabem como descrever algo. Levantam suas mãos, põem uma nota de exclamação, e dizem: "Quão formoso! quão precioso! quanto melhor é o teu amor do que o vinho!" O fato é que Jesus valoriza nosso amor a tal preço, que o Espírito Santo quando ditou este Cântico de Salomão, não podia ver palavra alguma em toda a linguagem humana que fosse grande o bastante para apresentar a estimativa de Cristo de nosso amor. Nunca pensaste no amor de Cristo por ti, até teu coração ser derretido, enquanto teu amado te falava, até as lágrimas correrem por teus olhos, e creste que poderias fazer como Maria Madalena fez, poderias beijar seus pés, e lavá-los com tuas lágrimas, e enxugá-los com os cabelos de tua cabeça? Ora, podes crer nisto? Exatamente o que pensas do amor de Cristo, Cristo pensa do teu. Valorizas seu amor, e estás certo em fazê-lo; mas temo que ainda o subestimes. Ele até valoriza teu amor, se posso assim falar, ele põe estimativa muito mais alta sobre ele que tu; pensa muito do pouco, estima-o não por sua força, mas por sua sinceridade. "Ah," diz, "ele me ama, ele me ama, sei que ama; peca, desobedece-me, mas ainda sei que me ama, seu coração é verdadeiro, não me ama como mereço, mas ainda me ama." Jesus Cristo está deleitado com o pensamento de que seu povo o ama, isto o alegra e regozija. Assim como o pensamento de seu amor nos alegra, assim o pensamento de nosso amor o alegra. Notai como o põe, diz: "Quanto melhor é o teu amor do que o vinho!" Ora, vinho quando usado na Escritura, frequentemente significa duas coisas, um grande luxo, e um grande refrigério. Vinho é um luxo, especialmente o é neste país, e até no Oriente, onde havia mais dele, bom vinho era ainda coisa delicada. Ora, Jesus Cristo olha para o amor de seu povo como sendo luxo para ele; e mostrar-vos-ei que o faz. Quando se assentou ao banquete de Simão o fariseu, não tenho dúvida de que havia taças de vinho espumante sobre a mesa, e muitas iguarias ricas ali estavam, mas Jesus Cristo não se importou com o vinho, nem com o banquete. Que se importou com eles? O amor daquela pobre mulher era muito melhor para ele que vinho. Poderia ter dito a Simão o fariseu, se tivesse escolhido: "Simão, remove tuas taças de vinho, tira tuas iguarias; este é meu banquete, o banquete do amor de meu povo." Disse-vos também que vinho era usado como emblema de refrigério. Ora, nosso Salvador tem sido frequentemente refrigerado pelo amor de seu povo. "Não," diz um, "isso não pode ser." Sim! lembrai-vos de que uma vez estava cansado e sedento, e assentou-se sobre o poço de Samaria. Precisava de vinho então de fato para refrigerá-lo, mas não podia conseguir tanto quanto uma gota de água. Falou a uma mulher que havia amado desde antes de todos os mundos, pôs vida nova nela, e ela de uma vez desejou dar-lhe de beber; mas correu primeiro para contar aos samaritanos o que havia ouvido. Ora, o Salvador estava tão deleitado com ela desejando fazer bem, que quando seus discípulos vieram, esperaram achá-lo desfalecem, pois havia andado muitas milhas cansadas aquele dia, então disseram: "Donde tem ele comida?" e ele disse: "Tenho comida para comer que vós não conheceis." Foi o amor daquela mulher que o havia alimentado. Havia quebrado seu coração, havia-a conquistado para si, e quando viu a lágrima rolar de seu olho, e soube que seu coração estava posto nele, seus espíritos todos reviveram, e sua pobre força desfalecem cresceu forte. Foi isto que o animou. Não, irei mais longe. Quando Cristo foi à sua cruz havia uma coisa que o alegrou até nas agonias da morte, foi o pensamento do amor de seu povo. Não nos é dito pelo apóstolo Paulo aos Hebreus, que nosso bendito e divino marido, o Senhor Jesus, "pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta?" Que era aquele gozo? Ora, o gozo de que veria sua semente, e aquela semente o amaria, e que ele teria seu amor escrito em seus corações, em lembrança de suas dores e agonias de morte: Jesus foi alegrado, até em suas agonias de morte, pelo pensamento do amor de seu povo, quando os touros de Basã rugiram sobre ele, e os cães o ladraram, quando o sol foi apagado em trevas, quando a mão de seu Pai estava pesada sobre ele, quando as legiões do inferno o cercaram, quando as dores do corpo, e as torturas do espírito todos o assediaram; foi isto que o alegrou: "Meu povo, são caros a mim, por eles estendo estas mãos sangrando; por eles este coração será traspassado e oh, como me amarão, como me amarão na terra! como me amarão espiritualmente no Paraíso!" Este foi o vinho que o Salvador teve para beber; este foi o cálice de sua alegria deleitosa que o fez suportar todas estas dores sem murmuração, e este foi o significado destas palavras de Jesus — "Quanto melhor é o teu amor do que o vinho!"
Pausa aqui, minha alma, para contemplar um momento, e deixa tua alegria esperar um pouco. Jesus Cristo tem banquetes no céu, tais como nunca ainda provamos, e contudo não se alimenta lá. Tem vinhos no céu muito mais ricos que todas as uvas de Escol poderiam produzir, mas onde busca seus vinhos? Em nossos corações, meus amigos, em nossos corações. Não todo o amor dos anjos, nem todas as alegrias do Paraíso, são tão caros a ele como o amor de seu pobre povo, salpicado de pecado, e cercado de enfermidade. Não é aquele um pensamento! Posso pregar sobre ele, posso apenas dizê-lo a vós; lede-o, marcai-o, aprendei-o, e interiormente digeri-o; e oh, se o vísseis de pé aqui esta noite, e olhando em vossos olhos, e dizendo-vos pessoalmente: "Tu me amas, sei que me amas, teu amor é para mim melhor muito que vinho;" não cairíeis a seus pés e diríeis: "Senhor, é meu amor tão doce para ti? então vergonha sobre mim que deveria te dar tão pouco dele." E então romperíeis no Cântico de Krishnu, que cantamos esta manhã:
Este é o primeiro ponto: o amor do crente é doce para Cristo.
Não imagineis, contudo, que Cristo despreza nossa fé, ou nossa esperança, ou nossa paciência, ou nossa humildade. Todas estas GRAÇAS são preciosas para ele, e são descritas na próxima sentença sob o título de unguento, e o operar destas graças, seu exercício e desenvolvimento, são comparados ao aroma de unguento. Ora, tanto vinho quanto unguento eram usados no sacrifício dos judeus, mirra de cheiro doce e especiarias eram usadas em ofertas de carne e ofertas de bebida diante do Senhor. "Mas," diz Jesus Cristo à sua igreja, "todas estas ofertas de vinho, e todo aquele queimar de incenso, não são nada para mim comparado às vossas graças. Vosso amor é meu vinho, vossas virtudes são meus unguentos de cheiro doce." Pois agora tens um pouco de fé, mas oh, quão pouca é. Pareces ter conseguido fé apenas suficiente para saber quão incrédulo és; tens amor, mas de algum modo tens apenas amor suficiente para deixar-te saber quão pouco o amas. Tens alguma humildade, mas tens apenas humildade suficiente para descobrir que és muito orgulhoso: tens algum zelo por Cristo, mas tens apenas zelo suficiente para fazer-te repreender a ti mesmo que és tão frio; tens alguma esperança, mas tens apenas esperança suficiente para levar-te a ver quão desesperado e desanimado frequentemente estás; tens alguma paciência, mas tens apenas paciência suficiente para ensinar-te quão frequentemente murmuras quando não deverias. "Confesso," dizes, "que todas as minhas graças são fedor em minhas próprias narinas, e todas as coisas boas que confio ter, não posso olhar para elas com orgulho ou auto-congratulação alguma. Devo enterrar-me em pó e cinzas; e até aquelas coisas, posso apenas chorar sobre elas, pois são tão manchadas por minha própria natureza má." Mas agora então, as próprias coisas sobre as quais tu e eu muito propriamente choramos, Cristo se deleita nelas. Ele ama todas estas: o aroma pode parecer ser apenas muito fraco e débil, contudo Jesus o observa, Jesus o cheira, Jesus o ama, e Jesus o aprova. Sim, crente, quando estás em teu leito de enfermidade e estás sofrendo com paciência; quando vais sobre teu caminho humilde para fazer bem furtivamente; quando distribuis de tuas esmolas aos pobres; quando levantas teu olho grato ao céu; quando te aproximas de Deus com oração humilde, quando fazes confissão de teu pecado a ele; todos estes atos são como o aroma de unguento para ele, o aroma de suave cheiro, e ele é gratificado e satisfeito. Ó Jesus, isto é condescendência de fato, ser satisfeito com coisas tão pobres como temos. Oh isto é amor, prova teu amor por nós, que possas fazer tanto do pouco, e estimar tão altamente aquilo que é de tão pouco valor! Nunca conheceste uma criancinha quando sente amor em seu coração ir ao jardim ou ao campo e trazer-te uma florzinha, pode ser apenas um botão-de-ouro ou uma margarida, grande coisa para ela, talvez, mas ninharia para ti — inútil de fato — tomaste-a e sorriste e sentiste-te feliz porque era sinal do amor de tua criança? Assim Jesus estima tuas graças, são seu dom para ti. Nota, primeiro de tudo, são coisas muito pobres em si mesmas; até ele as estima como sinais de teu amor, e regozija-se nelas, e declara serem tão doces para ele como todas as especiarias da Arábia, e todos os odores ricos do mercador. Esta é a segunda coisa.
Ora, chegamos à terceira: "Os teus lábios, ó esposa minha, destilam favos de mel." O povo de Cristo não é povo mudo, eram uma vez mas FALAM agora. Não creio que um cristão possa guardar o segredo que Deus lhe dá se tentasse; explodiria seus lábios abertos para sair. Quando Deus põe graça em teu coração podes tentar escondê-la, mas escondê-la não podes. Será como fogo nos ossos, e certamente achará seu caminho para fora. Ora, a igreja é igreja falante, igreja pregadora, e igreja louvadora; tem conseguido lábios, e todo crente achará que deve usar seus lábios no serviço de Cristo. Ora, é apenas matéria pobre, pobre que qualquer de nós pode falar. Quando somos mais eloquentes no louvor de nosso Mestre, quão longe nossos louvores ficam aquém de seu valor! Quando somos mais fervorosos em oração, quão impotente é nossa luta comparada com a grande bênção que buscamos obter! Quando nosso cântico é mais alto, e começa a ser algo afim ao coro dos anjos, até então quão manchado é com a discórdia de nossa incredulidade e de nossa mundanidade! Mas Jesus Cristo não acha falta alguma no que a Igreja fala. Diz: "Não, 'Os teus lábios, ó esposa minha, destilam favos de mel.'" Sabeis que o mel que destila do favo de mel é o melhor — é chamado mel-de-vida. Assim as palavras que destilam dos lábios do cristão são as próprias palavras de sua vida, seu mel-de-vida, e devem ser doces para todos. São tão doces ao gosto do Senhor Jesus como as gotas do favo de mel.
Uma pequena cautela para alguns de vós que falam demais. Alguns de vós não deixam vossas palavras destilar como favo de mel, jorram como grande corrente que varre tudo diante dela, de modo que outros não poderiam meter uma palavra de lado; não, se fosse espremida junta e afiada numa extremidade não poderia ser metida. Devem falar, sua língua parece colocada numa dobradiça, como pêndulo, para sempre indo, balanço! balanço! balanço! Ora, Cristo não admira aquilo. Diz de sua igreja em sua recomendação, seus lábios "destilam como favo de mel." Ora, um favo de mel, quando destila, não destila tanto mesmo como as gotas que caem dos beirais das casas; pois o mel é espesso, e rico, e portanto toma algum tempo. Uma gota pende por um tempo; então vem outra, e então outra, e não vem tudo em rápida sucessão. Ora, quando pessoas estão frequentemente falando muito, é pobre e fino, e bom para nada; mas quando têm algo bom a dizer, destila por graus lentos como o mel do favo de mel. Nota, não quero que digais uma palavra boa a menos. São aquelas outras palavras, aquelas desajeitadas. Oh se pudéssemos deixá-las de fora! Sou tão culpado disto eu mesmo, temo, como muitos outros. Se pudéssemos falar a metade do que fazemos, seria, talvez, duas vezes tão bom; e se disséssemos apenas um décimo do que fazemos, talvez devêssemos ser dez vezes melhores, pois é sábio o homem que sabe como falar bem, mas é homem muito mais sábio aquele que sabe como segurar sua língua. Os lábios da verdadeira igreja, os lábios do verdadeiro crente destilam como favo de mel, com palavras ricas, pensamentos ricos, orações ricas, louvores ricos. "Oh," diz um, "mas estou certo de que meus lábios não destilam assim quando em oração. Às vezes nem consigo prosseguir de todo, e quando estou cantando não posso pôr meu coração nisto, e quando estou tentando instruir outros, sinto que sou tão ignorante que não sei nada eu mesmo." Essa é tua estimativa; — fico feliz que sejas tão humilde que penses assim. Mas Cristo não pensa assim. "Ah," diz, "aquele homem pregaria se pudesse; aquele homem me honraria melhor se pudesse." E ele não mede o que fazemos, mas o que queremos fazer; e assim é que conta que nossos lábios destilam como favo de mel. Que é mais doce no mundo que mel do favo de mel? Mas qualquer que possa ser a coisa mais doce para o mundo, as palavras do cristão são as coisas mais doces para Cristo. Às vezes os crentes são privilegiados a assentar-se juntos, e começam a falar sobre o que ele disse, e o que sofreu por eles aqui embaixo, começam a falar de suas glórias excedentes e seu amor sem limites e incomparável; começam a dizer uns aos outros o que provaram e manusearam da boa palavra da vida, e seus corações começam a queimar dentro deles quando falam destas coisas pelo caminho. Sabeis que Jesus está naquela sala, Jesus sorridente está ali, e está dizendo à sua própria alma: "É bom estar aqui, os lábios destes meus irmãos destilam como favo de mel, e suas palavras são doces para mim." Noutra vez o cristão está só em sua câmara, e fala com seu Deus em poucas palavras quebradas, e com muitos suspiros, muitas lágrimas, e muitos gemidos, e pouco pensa que Jesus Cristo está ali, dizendo a tal pessoa: "Os teus lábios, ó meu amado, destilam mel como favo de mel."
E agora cristãos não falareis muito sobre Jesus? Não falareis frequentemente dele? Não dareis vossa língua mais continuamente à oração e louvor, e fala que ministra à edificação, quando tendes tal ouvinte como este, tal auditor que se inclina do céu para ouvir-vos, e que valoriza cada palavra que falais por ele? Oh, é coisa doce pregar quando as pessoas escutam para captar cada palavra. Desistiria se tivesse de pregar a uma audiência desatenta. E contudo não sei. Platão, somos informados, estava uma vez escutando um orador, e quando todas as pessoas haviam ido embora senão Platão, o orador prosseguiu com toda sua força. Sendo perguntado por que prosseguia, replicou, que Platão era audiência suficiente para qualquer homem. E certamente se ao pregar, ou ao orar, todo o mundo achasse falta, e todo o mundo corresse disto, Jesus é bastante para ser ouvinte para qualquer homem. E se ele está satisfeito, se diz que nossas palavras são mais doces que favo de mel, não pararemos; todos os demônios no inferno não nos pararão. Poderíamos continuar a pregar, e louvar, e orar, enquanto a imortalidade durar. Se isto é mel, então o mel destilará. Se Cristo o preza, pomos sua opinião contra toda a opinião no mundo; ele sabe melhor que quaisquer outros; é o melhor juiz, pois é o último e final juiz — continuaremos falando dele, enquanto ele prosseguir dizendo, nossos lábios destilam como favo de mel.
"Mas," diz um, "se eu tentasse falar sobre Jesus Cristo, não sei o que diria." Se quisésseis algum mel, e ninguém vo-lo trouxesse, suponho que o melhor modo, se estivésseis no campo, seria guardar algumas abelhas, não seria? Seria muito bem para vós, pessoas cristãs, se guardásseis abelhas. "Bem," diz um, "suponho que nossos pensamentos devem ser as abelhas. Devemos estar sempre procurando bons pensamentos, e voando às flores onde devem ser achados; pela leitura, pela meditação e pela oração, devemos enviar abelhas para fora da colmeia." Certamente, se não lerdes vossas Bíblias, não tereis mel, porque não tendes abelhas. Mas quando lerdes vossas Bíblias, e estudardes aqueles textos preciosos, é como abelhas assentando-se em flores, e sugando a doçura para fora delas. Há muitos outros livros, embora a Bíblia seja o principal, que podeis ler com grande vantagem; sobre os quais vossos pensamentos possam estar ocupados como abelhas entre flores. E então deveis frequentar os meios de graça continuamente; deveis escutar frequentemente à pregação da Palavra; e se ouvis um ministro que é planta da destra do Senhor plantando, e vos em que ouvis, sereis como abelhas sugando doçura de flores, e vossos lábios serão como favo de mel. Mas algumas pessoas não têm nada em suas cabeças, e nunca é provável que tenham pois são tão sábias que não podem aprender, e são tais tolos que nunca ensinarão. Alguns desperdiçam o tempo que têm. Ora, teria meu povo ler muito a Palavra de Deus, e estudá-la, e então ler livros que a ilustrem. Dir-vos-ei onde tenho estado sorvendo um pouco ultimamente, e tenho frequentemente sorvido muito — é este livro do Cântico de Salomão. É livro favorito meu. E há livrinho doce de Joseph Irons, chamado "Nymphas," uma explicação em verso branco dele. Se algum de vós tem aquele livrinho, ponham suas abelhas a trabalhar sobre ele, e se não sugam mel dele estou muito enganado. Então deixem as abelhas trazerem o mel à colmeia de vossa memória, e deixem ser acrescentado aos depósitos de vossa mente, e deste modo ficareis ricos em coisas preciosas, de modo que quando falardes, os santos serão edificados, vossas orações serão cheias de tutano e gordura, e vossos louvores terão algo neles, porque enviastes vossas abelhas bem para fora, e portanto vossos lábios destilarão como favo de mel.
Isto nos traz ao próximo tópico — "Mel e leite estão debaixo da tua língua." Acho necessário quando prego guardar bom estoque de palavras debaixo de minha língua assim como aquelas que estão sobre ela. É operação curiosa da mente no homem que continuamente prega. Às vezes acontece enquanto estou falando a vós que estou pensando sobre o que vou dizer no fim de meu sermão, e quando estou pensando sobre pessoas em baixo ou na galeria, e como acertarei o Sr. Fulano, ainda estou falando direto, falando com todo meu coração sobre o assunto sobre o qual vos estou dirigindo. É porque ao continuamente pregar entramos no hábito de guardar palavras debaixo de nossa língua assim como aquelas que estão no topo, e às vezes achamos necessário guardar aquelas palavras debaixo de nossa língua completamente e não deixá-las vir mais. Muito frequentemente consegui um símile apenas pronto para sair, e pensei: "Ah, aquele é um de vossos símiles risíveis, leve aquele de volta." Sou obrigado a mudá-lo por algo mais. Se fizesse aquilo um pouco mais frequentemente talvez fosse melhor, mas não posso fazê-lo. Tenho às vezes uma hoste inteira deles debaixo de minha língua, e sou obrigado a guardá-los de volta. "Mel e leite estão debaixo da tua língua."
Aquele não é o único significado. O cristão deve ter palavras prontas para sair daí em diante. Sabeis que o hipócrita tem palavras sobre sua língua. Falamos sobre sons solenes sobre língua descuidada, mas o cristão tem suas palavras primeiro debaixo da língua. Ali jazem. Vêm de seu coração; não vêm do topo de sua língua — não são serviço superficial de obra, mas vêm de debaixo da língua — lá embaixo fundo — coisas que ele sente, e assuntos que ele sabe. Nem é este o único significado. As coisas que estão debaixo da língua são pensamentos que nunca ainda foram expressos; não chegam ao topo da língua, mas jazem ali semi-formados e estão prontos para sair; mas ou porque não podem sair, ou não temos tempo para deixá-los sair, ali permanecem, e nunca vêm a palavras reais. Ora, Jesus Cristo pensa muito mesmo destes; diz: "Mel e leite estão debaixo da tua língua;" e meditação cristã e contemplação cristã são para Cristo como mel para doçura e como leite para nutrição. Mel e leite são duas coisas com as quais se dizia que a terra de Canaã fluía; e assim o coração de cristão flui com leite e mel, como a terra que Deus deu ao seu povo antigo. "Bem," diz um, "não posso achar que meu coração seja assim. Se me assento e penso em Jesus, meus pensamentos voltam-se sobre as glórias de sua pessoa e a excelência de seu ofício; mas oh, senhor, meus pensamentos são coisas tão maçantes, frias, inúteis, não me alimentam nem me deleitam." Ah mas, vedes, Cristo não os estima como tu; ele se alimenta deles, são como mel para ele, e embora penses pouco de teus próprios pensamentos, e estás certo em fazê-lo, contudo, oh lembra, tal é o amor de Jesus, tal é sua condescendência e compaixão abundantes, que as menores coisas que tens ele valoriza a grande preço. As palavras que não estás falando, as palavras que não podes proferir, os gemidos que não podes trazer para fora — estes o Espírito Santo profere por ti, e estes Jesus amealhará como coisa escolhida e peculiarmente preciosa. "Mel e leite estão debaixo da tua língua."
E então, por último de tudo: "O aroma das tuas vestes é como o aroma do Líbano." As ervas odoríferas que cresciam no lado do Líbano deleitavam o viajante, e, talvez, aqui há alusão ao aroma peculiarmente doce da madeira de cedro. Ora, as vestes de cristão são duplas — a veste de justiça imputada, e a veste de santificação operada interiormente. Penso que a alusão aqui é à segunda. As vestes de cristão são suas AÇÕES DE TODO DIA — as coisas que ele veste sobre si aonde quer que vá. Ora, estas cheiram muito doce ao Senhor Jesus. E aqui falemos a alguns de vós aqui presentes que manifestamente não são filhos de Deus, pois cheirais ao alho do Egito em vez de ao cedro do Líbano; e há alguns professos, e, talvez, alguns agora presentes, cujo cheiro é qualquer coisa senão como o do Líbano. Cuidai, vós que não viveis à altura de vossa profissão. Tendes evidências tristes dentro de que não tendes posse. Se podeis desonrar o santo evangelho de Cristo pelo viver em pecado, tremei! para que quando ele vier no terror do juízo, não devesse clamar: "Apartai-vos, malditos; nunca vos conheci." Mas se sois humildes amantes de Cristo, e realmente tendes vossos corações postos nele, vossas ações diárias são observadas por ele, e o aroma delas é para ele tão doce como o aroma do Líbano.
Que deveríeis pensar se Jesus devesse encontrar-vos no fim do dia, e dizer-vos: "Estou satisfeito com as obras de hoje?" Sei que replicaríeis: "Senhor, não fiz nada por ti." Diríeis como aqueles no último dia: "Senhor quando te vimos com fome e te alimentamos? quando te vimos com sede e te demos de beber?" Começaríeis a negar que havíeis feito qualquer coisa boa. Ele diria: "Ah, quando estavas debaixo da figueira vi-te; quando estavas à beira de teu leito em oração ouvi-te. Vi-te quando o tentador veio e disseste: 'Vai-te, Satanás;' vi-te dar tuas esmolas a uma de minhas pobres crianças enfermas; ouvi-te falar uma boa palavra à criancinha e ensinar-lhe o nome de Jesus; ouvi teu gemido quando blasfêmia poluiu teus ouvidos; ouvi teu suspiro quando viste a iniquidade desta grande cidade; vi-te ali quando tuas mãos estavam ocupadas, vi que não eras servo de olho ou agradador de homem, mas que em singularidade de propósito serviste a Deus ao fazer teus negócios diários; vi-te, quando o dia foi terminado, dar-te a Deus novamente; marquei-te lamentar sobre os pecados que cometeste, e digo-te que estou satisfeito contigo." "O aroma das tuas vestes é como o aroma do Líbano."
E, novamente, ouço-vos dizer: "Mas, Senhor, estava irado, estava orgulhoso," e ele diz: "Mas cobri isto, lancei-o nas profundezas do mar; apaguei tudo com meu sangue. Não posso ver mal algum em ti; és todo formoso, amor meu, não há mancha em ti." Que faríeis então? Não cairíeis de uma vez a seus pés e diríeis: "Senhor, nunca conheci amor como este: ouvi que amor cobre multidão de pecados, mas nunca conheci um amor tão amplo quanto a cobrir todos os meus. E então declarar que podes não ver pecado algum em mim de todo — ah! isto é amor?" Pode derreter nosso coração, e fazer-nos buscar ser santos, para que não entristecêssemos a Cristo, fazer-nos trabalhar para ser diligentes em seu serviço, para que não o desonrássemos.
Ouso dizer que alguns de vós pensam quando ministros pregam ou vão fazer seu dever pastoral, que naturalmente Cristo está muito satisfeito com eles. "Ah," diz Maria, "sou apenas pobre criada; tenho de levantar-me de manhã e acender o fogo, pôr as coisas do desjejum, tirar o pó da sala, fazer as tortas e pudins para o jantar, e retirar as coisas novamente, e lavá-las — tenho de fazer tudo que há para fazer na casa — Cristo não pode estar satisfeito com isto." Por que Maria, podes servir a Cristo tanto ao fazer camas, como eu posso ao fazer sermões; e podes ser tanto servo verdadeiro de Cristo ao tirar pó de sala, como eu posso ao administrar disciplina numa igreja. Não penses por um único momento que não podes servir a Cristo. Nossa religião deve ser religião de todo dia — religião para a cozinha assim como para a sala, religião para o rolo de massa, e a toalha de enxugar, tanto quanto para as escadas do púlpito e a Bíblia — religião que podemos levar conosco aonde quer que vamos. E há tal coisa como glorificar a Cristo em todas as ações comuns da vida. "Servos sede obedientes aos vossos senhores, não apenas aos que são bons e gentis, mas aos maus." Vós homens de negócios, não precisais pensar que quando estais medindo vossas fitas, ou pesando vossas libras de açúcar, ou quando estais vendendo, ou comprando, ou indo ao mercado, e semelhante, que não podeis estar servindo a Cristo. Por que um construtor pode servir a Cristo ao pôr seus tijolos juntos, e vós podeis servir a Cristo em qualquer coisa que sois chamados a fazer com vossas mãos, se o fazeis como ao Senhor, e não aos homens. Lembro-me de que o Sr. Jay uma vez disse, que se um engraxate fosse cristão, poderia servir a Cristo ao engraxar sapatos. Devia engraxá-los, disse, melhor que qualquer outro na paróquia; e então as pessoas diriam: "Ah, este engraxate cristão, é consciencioso; não enviará as botas embora com os calcanhares meio feitos, mas os fará cabalmente." E assim devíeis. Podeis dizer de todo artigo que vendeis, e de tudo que fazeis: "Tirei aquilo de minhas mãos de tal maneira que desafiará competição. O homem teve o que pagou; não pode dizer que sou velhaco ou embusteiro. Há truques em muitos comércios, mas não terei nada que ver com eles; muitos conseguem dinheiro rápido por adulteração no comércio, mas não o farei, preferiria ser pobre a fazê-lo." Por que, o mundo diz: "há um sermão naquela vitrine daquele merceeiro — olhai, não o vedes contar mentiras para gabar seus produtos: há um sermão ali." As pessoas dizem ao passar: "É homem piedoso que guarda aquela loja, não pode baixar sua consciência para fazer o que outros fazem. Se fordes ali, sereis bem tratados, e saireis de sua loja e direis: Gastei bem meu dinheiro, e estou feliz por ter negociado com homem cristão." Dependei dele, sereis tão bons pregadores em vossas lojas como serei em meu púlpito, se fizerdes aquilo; dependei dele, há modo de servir a Cristo desta maneira; e isto é para vos consolar e alegrar. Sobre todas as ações de vossa vida diária o Senhor Jesus olha para baixo do céu e diz: "O aroma das tuas vestes é como o aroma do Líbano."
Sei que mal podeis crer que Jesus Cristo toma nota de coisas tão pequenas como aquilo, mas toma. Dizeis: "Oh, mas são triviais demais." Mas não sabeis, o Deus que dá asas ao anjo guia um pardal? Não sabeis "os cabelos mesmos de vossa cabeça estão todos numerados?" Deus não apenas dá asas ao turbilhão, e dá gume ao relâmpago, mas guia a palha da mão do joeirador, e conduz o grão de pó no vento da tarde. Não penseis nada pequeno demais para vós. Ele observa os orbes poderosos enquanto rodopiaram pelo espaço, mas nota-vos também, enquanto vais fazer vossos negócios. E aqueles copinhos de água fria que dais ao seu povo — aqueles pequenos serviços que fazeis por sua igreja, aquelas abnegações que fazeis por sua honra, e aqueles escrúpulos conscienciosos que criais, e que não vos permitirão agir como o mundo age, todos estes ele observa, e diz: "O aroma das tuas vestes é como o aroma do Líbano."
E agora para concluir, que diremos a isto? Estava lendo há algum tempo, um artigo num jornal, muito em meu louvor; e sabeis, faz-me triste, tão triste que poderia chorar, se jamais vejo algo louvando-me; quebra meu coração. Sinto que não o mereço; e então digo: "Ora, devo tentar e ser melhor para que possa merecê-lo. Se o mundo me abusa, sou páreo para aquilo, começo a gostar dele; pode disparar todos os seus grandes canhões contra mim, não devolverei um tiro solitário, mas apenas armazená-los, e crescer rico com o ferro velho. Todo o abuso que gosta de amontoar sobre mim posso suportar; mas quando homem me louva, sinto que é coisa pobre que fiz, triste que me louva pelo que não mereço. Isto me esmaga, e digo que devo pôr-me a trabalhar e merecer isto. Devo pregar melhor. Devo ser mais fervoroso, mais diligente no serviço de meu Mestre. Ora, não produzirá este texto exatamente o mesmo efeito sobre vós? Quando o Senhor vem a vós, e começa dizendo: "Não sois tão humildes, nem tão orantes, nem tão crentes como deveríeis ser;" dizeis: "Não me importo com esta chicotada;" mas quando vem e começa a louvar-vos, e diz-vos: "Que vossos lábios destilam como favo de mel, que todas as vossas ações cheiram a mirra, e que vosso amor é melhor que vinho, e que os pensamentos debaixo de vossa língua são melhores para ele que vinho e leite," que direis? Oh, Senhor, não posso dizer que estás enganado, pois és infalível; mas se pudesse dizer tal coisa, se ousasse assim pensar estás enganado, diria: "Estás enganado em mim;" mas Senhor não posso pensar que estás enganado, deve ser verdade. Ainda, Senhor, não o mereço; estou consciente de que não, e nunca posso merecê-lo, ainda se me ajudarás, esforçar-me-ei para ser digno de teu louvor em alguma medida fraca. Procurarei viver à altura daqueles encômios altos que passaste sobre mim. Se dizes: "Meu amor é melhor que vinho;" Senhor, procurarei amar-te melhor, para que o vinho possa ser mais rico e mais forte. Se dizes: "Minhas graças são como o aroma de unguento," Senhor, tentarei aumentá-las, de modo a ter muitos potes grandes cheios delas; e se minhas palavras destilam como favo de mel, Senhor, haverá mais delas, e tentarei fazê-las melhores, de modo que possas pensar mais de tal mel; e se declaras que os pensamentos debaixo de minha língua são para ti como mel e leite, então, Senhor, procurarei ter mais daqueles pensamentos divinos; e se minhas ações diárias são para ti como o aroma do Líbano, Senhor, procurarei ser mais santo, viver mais perto de ti; pedirei graça, para que minhas ações possam ser realmente o que dizes que são.
Vós que não amais a Deus, posso chorar sobre vós, pois não tendes nada que ver com este texto. É coisa terrível que devesseis ser excluídos de tal louvor como este — possa Cristo trazer-vos para dentro! Deveis primeiro ser levados a sentir que não sois nada; deveis então ser levados a sentir que Cristo é tudo, e então, depois daquilo, entendereis este texto, e estas palavras vos serão faladas.