A figura de "uma botija na fumaça" é essencialmente oriental; devemos portanto ir ao Oriente para sua explicação. Isto suprir emos aos nossos ouvintes e leitores nas palavras do Autor da Bíblia Pictórica: "Isto indubitavelmente refere-se a uma botija de couro, de cabrito ou pele de bode. Os camponeses da Ásia guardam muitos artigos, tanto secos quanto líquidos, em tais botijas, que, para segurança, são suspensas do teto, ou penduradas contra as paredes de suas humildes habitações. Ali logo se tornam completamente pretas de fumaça; pois como, nas habitações dos camponeses, raramente há chaminés, e a fumaça só pode escapar através de uma abertura no teto, ou pela porta, o aposento fica cheio de fumaça densa sempre que um fogo é aceso nele. E naquelas noites e dias, quando a fumaceira das cabanas nas quais diariamente descansamos durante uma jornada de inverno na Pérsia, Armênia, e Turquia, parecia fazer o frio e o cansaço da viagem real um alívio, tivemos ampla ocasião para observar a negrura peculiar de tais vasos de pele, surgindo da maneira pela qual substâncias oferecendo uma superfície desta espécie, recebem a influência completa da fumaça, e detêm as partículas minúsculas de fuligem que repousam sobre elas. Quando tais vasos não contêm líquidos, e não são completamente cheios pelos sólidos que contêm, contraem uma aparência encolhida e murcha, à qual o Salmista pode também possivelmente aludir assim como à negrura. Mas presumimos que a ideia principal refere-se à última circunstância, visto que no Oriente negrura tem significação oposta ao significado feliz de brancura. Davi indubitavelmente havia visto botijas desta descrição pendendo em sua tenda quando era errante; e embora pudesse ter tido poucas em seu palácio, contudo nas cabanas de seu próprio povo pobre havia, sem dúvida, testemunhado-as. Daqui diz de si mesmo: 'Estou,' por problema e aflição, por provação e perseguição, 'como odre na fumaça; contudo não me esqueço dos teus estatutos.'"
Primeiro, o povo de Deus tem suas provações — são postos na fumaça; segundo, o povo de Deus sente suas provações — "ficam como odre na fumaça;" terceiro, o povo de Deus não esquece os estatutos de Deus em suas provações — "Estou como odre na fumaça; contudo não me esqueço dos teus estatutos."
Esta é verdade antiga, tão antiga quanto os montes eternos, porque provações estavam na aliança, e certamente a aliança é tão antiga quanto as montanhas eternas. Nunca foi planejado por Deus quando escolheu seu povo, que deveriam ser povo não provado; que deveriam ser escolhidos para paz e segurança, para felicidade perpétua aqui embaixo, e liberdade da enfermidade e das dores da mortalidade. Mas antes, por outro lado, quando fez a aliança, fez também a vara da aliança; quando traçou a carta dos privilégios, também traçou a carta dos castigos; quando nos deu o rolo da herança, pôs as varas entre as coisas às quais deveríamos inevitavelmente ser herdeiros. Provações são parte de nossa porção; foram predestinadas para nós nos solenes decretos de Deus; e tão certamente quanto as estrelas são formadas por suas mãos, ele fixou suas órbitas, tão certamente são nossas provações pesadas em balanças; ele predestinou sua estação e seu lugar, sua intensidade e o efeito que terão sobre nós. Homens bons nunca devem esperar escapar a problemas; se o fazem, serão desapontados; alguns de seus predecessores os escaparam.
Notai bem Jó, de cuja paciência tendes ouvido; lede bem de Abraão, pois teve suas provações, e por sua fé sob elas, quando ofereceu Isaque, tornou-se "o pai dos fiéis." Notai bem as biografias de todos os patriarcas, de todos os profetas, de todos os apóstolos e mártires, e descobrireis nenhum daqueles, que Deus fez vasos de misericórdia, que não foram pendurados como botijas na fumaça. É ordenado desde a antiguidade, que a cruz de problema, mesmo como as faíscas voam para cima; e quando nascemos de novo, parece como se tivéssemos nascido para problema duplo; e trabalho e problema duplos vêm ao homem que tem graça dupla e misericórdia dupla concedidas sobre ele. Homens bons devem ter suas provações; devem esperar ser como botijas na fumaça.
Às vezes estas provações surgem da pobreza de sua condição. É a botija na cabana que entra na fumaça, não a botija no palácio. A prataria da Rainha não conhece nada de fumaça; vimos em Windsor quão cuidadosamente é preservada; não conhece nada de provação, nenhumas mãos são permitidas tocar aquilo, de modo a prejudicá-la, embora mesmo ela possa ser roubada por acidente quando os guardas não são cuidadosos sobre ela. Ainda, não foi intentada para ser sujeita à fumaça. Assim com o povo pobre de Deus; devem esperar ter fumaça em suas habitações. Deveríamos supor que fumaça não entra na casa do rico, embora até então nossa suposição seria falsa; mas certamente devemos supor haver mais fumaça onde a chaminé é mal construída, e o lar é completamente de má construção. É a pobreza do árabe que põe sua botija na fumaça; assim a pobreza dos cristãos os expõe a muito problema, e visto que o povo de Deus é na maior parte pobre, por essa razão devem sempre estar na maior parte em aflição. Não acharemos muitos do povo de Deus nas fileiras mais altas; não muitos deles jamais serão ilustres neste mundo. Até tempos mais felizes virem, quando reis serão seus pais adotivos, e rainhas suas mães adotivas, ainda deve ser verdade que "Deus escolheu os pobres deste mundo, ricos em fé, para que sejam herdeiros do reino." Pobreza tem seus privilégios, pois Cristo viveu nela; mas tem seus males, tem sua fumaça, tem suas provações. Não sabeis às vezes como sereis providos; sois frequentemente apertados por alimento e vestes, sois vexados com cuidados ansiosos, admirais-vos de onde virá o alimento de amanhã, e onde obtereis vossos suprimentos diários. É por causa de vossa pobreza que sois pendurados como botija na fumaça.
Muitos do povo de Deus, contudo, não são pobres; e até se são, pobreza não ocasiona tanto problema a eles como alguns supõem; pois Deus, no meio da pobreza, torna seus filhos muito alegres, e assim alegra seus corações na cabana que mal sabem se é palácio ou choupana; sim, ele envia música tão doce através das águas de sua dor, que não sabem se estão em terra seca ou não.
Mas há outras provações: e isto nos traz a observar, que nossas provações frequentemente resultam de nossos confortos. O que faz a fumaça? Ora, é o fogo, pelo qual o árabe aquece suas mãos, que defuma sua botija, e o defuma também. Assim, amados, nossos confortos usualmente nos provêem com problemas. É lei da natureza, que nunca deveria haver um bem, sem ter um mal conectado com ele. Que se a corrente fertiliza a terra? Pode às vezes afogar os habitantes. Que se o fogo nos alegra? não consome frequentemente nossas habitações? Que se o sol nos ilumina? não nos golpeia às vezes com seu calor? Que se a chuva produz nosso alimento, e faz as flores florescerem sobre a face da terra? não quebra também o botão jovem das árvores, e causa muitas doenças? Não há nada bom sem seu mal, não há fogo sem sua fumaça. O fogo de nosso conforto sempre terá a fumaça de provação com ele. Achareis que é assim, se instanciais os confortos que tendes em vossa própria família. Tendes relações; notai, cada relacionamento gera sua provação, e cada novo relacionamento sobre o qual entrais abre para vós, num tempo certamente, uma nova fonte de alegrias, mas infalivemente também uma nova fonte de tristezas. Sois pais? vossos filhos são vossa alegria; mas aqueles filhos vos causam alguma fumaça, porque temeis, para que não sejam criados na "doutrina e admoestação do Senhor;" e pode ser, quando vierem a anos mais maduros, que entristeçam vossos espíritos — Deus conceda que não possam quebrar vossos corações por seus pecados! Tendes riqueza. Bem, aquela tem suas alegrias com ela; mas ainda, não tem suas provações e seus problemas? Não tem o homem rico mais de que cuidar que o pobre? Aquele que não tem nada dorme profundamente, pois o ladrão não o molestará; mas aquele que tem abundância frequentemente treme para que o vento rude possa derrubar aquilo que construiu — para que a tempestade rude possa naufragar aquela carga carregada de seu ouro — para que uma virada avassaladora e súbita na maré do comércio possa varrer suas especulações e destruir suas esperanças. Assim como os pássaros que nos visitam voam de nós, assim nossas alegrias trazem tristeza com elas. De fato, alegria e tristeza são gêmeos; o sangue que corre nas veias da tristeza, corre nas veias da alegria também. Pois qual é o sangue da tristeza, não é a lágrima? e qual é o sangue da alegria? Quando estamos cheios de alegria não choramos? Ah! que choramos. A mesma gota que expressa alegria é próprio emblema da tristeza; choramos de alegria, e choramos de tristeza. Nossos fogos dão fumaça, para dizer-nos que nossos confortos têm suas provações com eles. Homens cristãos! tendes fogos extraordinários, que outros nunca acenderam; esperai então ter fumaça extraordinária. Tendes a presença de Cristo; mas então tereis a fumaça do medo, para que não a percais. Tendes a promessa da Palavra de Deus — ali está o fogo dela: mas tendes a fumaça às vezes, quando a ledes sem a iluminação do Espírito de Deus. Tendes a alegria da certeza; mas tendes também a fumaça da dúvida, que sopra em vossos olhos, e quase vos cega. Tendes vossas provações, e vossas provações surgem de vossos confortos. Quanto mais conforto tendes, mais fogo tendes, mais tristezas tereis, e mais fumaça.
Novamente, o ministério é o grande fogo pelo qual homens cristãos aquecem suas mãos: mas o ministério tem muita fumaça com ele. Quão frequentemente tendes vindo a esta casa de Deus e tido vossos espíritos levantados! Mas talvez tão frequentemente tendes vindo aqui para ser abatidos. Vossas cordas de harpa às vezes estavam todas frouxas; não podíeis tocar uma melodia de alegria sobre elas, viestes aqui, e Cristo afinou vossa harpa, de modo que podia despertar "como a harpa de Davi de som solene." Mas noutras vezes viestes aqui, e tivestes todos os regozijos removidos de vós, por algum sermão solene sondador. No último dia do Senhor, quantos de vós ali estavam como botijas na fumaça! Este púlpito, que é intentado às vezes para dar-vos fogo, é também intentado para ter fumaça com ele. Não seria púlpito de Deus se nenhuma fumaça saísse dele. Quando Deus fez do Sinai seu púlpito, Sinai estava completamente em fumaça. Frequentemente fostes como botijas na fumaça — a fumaça causada pelo fogo do próprio acendimento de Deus, o fogo do ministério do evangelho.
Penso, contudo, que Davi tinha mais um pensamento. A pobre botija na fumaça fica ali por longo tempo, até ficar preta; não é apenas uma baforada de fumaça que vem sobre ela; a fumaça está sempre subindo, sempre cingindo a pobre botija; vive numa atmosfera de fumaça. Assim, amados, alguns de nós pendemos como botijas na fumaça, por meses, ou por um ano inteiro. Não mais cedo saís de um problema, que tombais noutro; não mais cedo subis uma colina, que tendes de montar outra; parece ser tudo subida de monte ao céu convosco. Sentis que John Bunyan está certo em seu ditado — "Um homem cristão está raramente longo tempo à vontade; quando um problema se foi, outro o agarra." Estais sempre na fumaça. Estais ligados talvez com parceiro ímpio; ou talvez sois de temperamento singular, e vosso temperamento naturalmente põe nuvens e trevas ao redor de vós, de modo que estais sempre na fumaça. Bem, amados, aquela era a condição de Davi; não estava apenas às vezes em provação, mas parecia como se provações viessem a ele todo dia. Cada dia tinha seus cuidados; cada hora carregava em suas asas alguma tribulação nova; enquanto, em vez de trazer alegria, cada momento apenas tocava o dobre da felicidade, e trazia outra tristeza. Bem, se este é vosso caso, não temais, não estais sós em vossas provações; mas vedes a verdade do que é proferido aqui: vos tornastes como botijas na fumaça.
Isto nos traz ao segundo ponto: HOMENS CRISTÃOS SENTEM SEUS PROBLEMAS. Estão na fumaça; e são como botijas na fumaça. Há algumas coisas que poderíeis pendurar na fumaça por muitos dias, e nunca seriam muito mudadas, porque são tão pretas agora, que nunca poderiam ser feitas mais pretas, e tão murchas agora, que nunca poderiam tornar-se piores. Mas a pobre botija de pele murcha no calor, fica mais preta, e mostra de uma vez o efeito da fumaça; não é coisa insensível, como pedra, mas é de uma vez afetada. Ora, alguns homens pensam, que graça torna o homem incapaz de sentir sofrimento; ouvi pessoas insinuar que os mártires não suportaram muita dor quando estavam sendo queimados até à morte; mas isto é erro, homens cristãos não são como pedras; são como botijas na fumaça. De fato, se há diferença, um homem cristão sente suas provações mais que outro, porque as traça a Deus, e aquilo as torna mais agudas, como vindo do Deus que ama. Mas ao mesmo tempo, concedo-vos, aquilo as torna mais fáceis de suportar, porque ele crê que operarão os frutos confortáveis da justiça. Um cão morderá a pedra que é atirada nele, mas um homem ressenteria a injúria no homem que atirou a pedra. Estúpida, tola, incredulidade carnal questiona com a provação; mas a fé vai à Corte do Banco do Rei de uma vez, e pergunta a seu Deus "por que contendes comigo?" Mas até a própria fé não evita a dor do castigo, capacita-nos a suportar, mas não remove a provação. O cristão não está errado em dar caminho aos seus sentimentos; não derramou seu Mestre lágrimas quando Lázaro estava morto? e não proferiu, quando na cruz, o clamor excessivamente amargo: "Deus meu! Deus meu! por que me desamparaste?" Nosso Pai Celestial nunca intentou tirar nossas tristezas quando sob provação; não nos põe além do alcance do dilúvio, mas constrói-nos uma arca, na qual flutuamos, até a água ser ultimamente aplacada, e descansamos no Ararate do céu para sempre. Deus não leva seu povo a um Elísio onde se tornem impermeáveis a sentimentos dolorosos: mas dá-nos graça para suportar nossas provações, e cantar seus louvores enquanto sofremos. "Estou como odre na fumaça:" sinto o que Deus põe sobre mim.
A provação que não sentimos não é provação alguma. Lembro-me de caso notável de assalto e espancamento que foi julgado algum tempo atrás. Conheci um amigo que aconteceu estar em tribunal. Foi assunto muito singular; pois quando o promotor foi solicitado declarar em que o assalto consistia; disse, em inglês curioso: "Ah! senhor, ele me golpeou um golpe tremendíssimo." "Bem, mas onde ele te golpeou?" "Bem, senhor, ele não me acertou; apenas me roçou." Naturalmente o juiz disse que não havia assalto e espancamento, porque não havia golpe real golpeado. Assim às vezes encontramos pessoas, que dizem: "Poderia suportar aquela provação se não tocasse meus sentimentos." Naturalmente poderíeis, pois então não seria provação alguma. Suponhais que um homem devesse ver sua casa e propriedade queimadas, chamaríeis aquilo provação, se pudesse fazer como Sheridan fez, quando seu teatro foi queimado? Foi a uma casa em frente, e assentou-se bebendo, e gracejando disse: "Certamente, todo homem tem direito de assentar-se e aquecer suas mãos por sua própria lareira." É sentir que a faz provação; a essência da provação jaz em senti-la. E Deus intentou que suas provações fossem sentidas. Suas varas não são feitas de palha de trigo, são feitas de vidoeiro verdadeiro; e seus golpes caem exatamente onde os sentimos. Ele não nos golpeia nas placas de ferro de nossa armadura; mas fere-nos onde estamos certos de ser afetados.
E ainda mais: provações que não são sentidas são provações não lucrativas. Se não há azulidade na ferida, então a alma não é tornada melhor; se não há clamor, então não haverá esvaziamento de nossa depravação. É exatamente tanto quanto sentimos, que somos beneficiados; mas uma provação não sentida deve ser provação não santificada, provação sob a qual não sentimos de todo, não pode ser bênção para nós, porque somos apenas abençoados por senti-la, sob a agência do Espírito Santo de Deus. Homem cristão! não coresças, porque és como botija na fumaça: porque és sensível sob aflição, pois assim deves ser. Não deixes outros dizerem, não deves sentir tanto, porque teu marido está morto, ou tua filha está morta, ou perdeste tua propriedade. Apenas dize-lhes que deves; pois Deus enviou o problema, para que pudesses senti-lo (não excessivamente, e murmurar contra Deus,) mas para que pudesses sentir a vara, e então beijá-la. Aquilo é paciência: não quando não sentimos, mas quando sentimos, e dizemos: "Ainda que ele me mate, nele confiarei." "Estou como odre na fumaça." Ora, uma botija, quando está na fumaça, fica muito preta: assim faz o cristão, quando está na fumaça de provação, ou na fumaça do ministério do evangelho, ou fumaça de perseguição, ficar muito preto à sua própria estima. É maravilhoso quão brilhantes somos quando tudo vai certo conosco; mas é igualmente maravilhoso quão pretos ficamos quando um pouco de tribulação vem sobre nós. Pensamos muito bem de nós mesmos enquanto não há fumaça; mas deixai a fumaça vir, e apenas revela a negrura de nossos corações. Provações ensinam-nos o que somos; cavam o solo, e deixam-nos ver de que somos feitos; apenas voltam algumas das ervas daninhas à superfície; são boas, por esta razão, fazem-nos conhecer nossa negrura.
Uma botija, também, que pende na fumaça, tornar-se-á muito inútil. Assim nós, frequentemente, quando estamos sob ministério provador, ou providência provadora, sentimos que somos tão inúteis, bons para nada, como botija que foi pendida na fumaça, que ninguém jamais beberá mais, porque defumará tudo que for posto nela, sentimos que não somos uso para ninguém — que somos criaturas pobres não lucrativas. Em nossas alegrias somos criaturas honoráveis; mal pensamos que o Criador poderia passar sem nós; mas quando estamos em problema, sentimos: "Sou verme, e não homem" — bom para nada; deixai-me morrer; tornei-me inútil, assim como preto, "como odre na fumaça."
E então uma botija na fumaça é botija vazia. Não teria sido pendida na fumaça a menos que tivesse estado vazia. E muito frequentemente sob provações quão vazios nos tornamos; somos cheios o bastante em nossas alegrias; mas a fumaça e calor logo secam cada átomo de umidade para fora de nós; toda nossa esperança se foi, toda nossa força partiu, então sentimos que somos pecadores vazios, e queremos um Cristo cheio para salvar-nos. Somos como botijas na fumaça.
Descrevi algum de vossos caracteres? Ouso dizer que alguns de vós são como botijas na fumaça. Sentis vossas provações; tendes coração macio, terno, e as flechas do Todo-Poderoso afundam rápido nele. Sois como pedaço de alga marinha, afetado por cada mudança do tempo; não como pedaço de rocha, que poderia ser pendido e nunca mudaria, mas sois capazes de ser afetados, e é completamente certo que devíeis ser: sois "tornados como odre na fumaça."
E agora, amados, o terceiro e bendito pensamento é, que CRISTÃOS, EMBORA TENHAM PROBLEMAS, E SINTAM SEUS PROBLEMAS, NÃO EM SEUS PROBLEMAS ESQUECEM OS ESTATUTOS DE DEUS.
Quais são os estatutos de Deus? Deus tem dois tipos de estatutos, ambos gravados em bronze eterno. Os primeiros são os estatutos de seus mandamentos; e destes ele disse: "Céu e terra passarão, mas nem um jota ou til da lei falhará até tudo ser cumprido." Estes estatutos são como os estatutos dos medos e persas; são vinculantes sobre todo seu povo. Seus preceitos são jugo leve e fácil; mas são um que nenhum homem deve lançar de seus ombros; todos devem carregar os mandamentos de Cristo, e todos os que esperam ser salvos por ele devem tomar sua cruz diariamente e segui-lo. Bem, o Salmista disse: "No meio de minhas provações não me desviei de teus estatutos; não tentei violar teus mandamentos; não me movi de modo algum do caminho estrito de integridade; e no meio de todas as minhas perseguições, fui direto, nunca uma vez esquecendo os estatutos ou mandamentos de Deus." E então novamente: há estatutos de promessa, que são igualmente firmes, cada um deles tão imortal quanto Deus que os proferiu. Davi não esqueceu estes; pois disse deles: "Teus estatutos têm sido meus cânticos, na casa de minha peregrinação;" e não poderia ter cantado sobre eles se os tivesse esquecido.
Por que foi que Davi ainda se apegou aos estatutos de Deus? Primeiro de tudo, Davi não era botija no fogo, ou senão os teria esquecido. Nossas provações são fumaça, mas não fogo; são muito desconfortáveis, mas não nos consomem. Noutras partes da Escritura, a figura de fogo pode ser aplicada às nossas provações, mas aqui não seria apropriada, porque a botija seria queimada imediatamente, se estivesse no fogo. Mas o cristão pode dizer: "Verdade, é toda fumaça ao redor de mim, mas não há nada que tenda a queimar minha piedade; fumaça pode turvar minha evidência, mas não pode queimá-la; pode, e certamente será, censurável aos meus olhos e nariz, e todos os meus sentidos, mas não pode queimar meus membros; pode parar minha respiração, e prevenir meu beber o ar puro do céu, mas não pode consumir meus pulmões e queimar as partes vitais de meu corpo. Ah! é bem para ti, ó cristão, que há mais fumaça que fogo em tuas provações. E não há causa por que deverias esquecer teu Deus em teus problemas; podem ter tendência a afastar-te dele, mas como grandes ondas, frequentemente lavam a madeira à deriva dos pobres barcos perdidos sobre a praia do amor de Deus; e o mastro, que poderia ter flutuado para o mar, e sido carregado ninguém sabe onde, é frequentemente encalhado na praia, e ali mais uma vez é feito a fazer serviço novo. Assim és tu, cristão, lavado em terra pelas ondas de teu problema, e nunca és lavado para longe por elas. "Não me esqueci de teus estatutos."
Outra razão por que, quando Davi estava na fumaça, não esqueceu os estatutos de Deus foi esta, que Jesus Cristo estava na fumaça com ele, e os estatutos estavam na fumaça com ele também. Os estatutos de Deus estiveram no fogo, assim como o povo de Deus. Tanto a promessa quanto o preceito estão na fornalha; e se pendo na fumaça, como botija, vejo pendendo ao meu lado, os mandamentos de Deus, cobertos de fuligem, e fumaça, sujeitos aos mesmos perigos. Suponhais que sou perseguido: É conforto saber que homens não me perseguem, mas a verdade de meu Mestre. É coisa singular, com respeito a todas as flechas envenenadas que foram atiradas a mim, que geralmente caíram naquela parte de minha estrutura que é mais invulnerável, porque geralmente caíram em algo que citei de alguém mais, ou provei da Escritura. Podem prosseguir; é doce pensar que Jesus Cristo está na fumaça assim como estamos; e quanto mais chama houver, melhor seremos capazes de ver nosso Mestre na fumaça conosco.
Outra razão por que Davi não esqueceu os estatutos foi, estavam na alma, onde a fumaça não entra. Fumaça não entra no interior da botija; apenas afeta o exterior. Assim é com os filhos de Deus: a fumaça não entra em seus corações; Cristo está ali, e graça está ali, e Cristo e graça são ambos não afetados pela fumaça. Subi, nuvens de fumaça! ondulai para cima, até me envolverdes! Ainda penderei no Prego, Cristo Jesus — o Prego seguro, que nunca pode ser movido de seu lugar — e sentirei, que "enquanto o homem exterior perece, o homem interior é renovado dia a dia;" e os estatutos estando ali, não os esqueço. "Pois estou como odre na fumaça; contudo não me esqueço dos teus estatutos." A tais de vós como podem juntar-se com Davi, deixai-me dar palavra de consolação. Se fostes perseguidos, e ainda vos apegais à palavra de Deus — se fostes afligidos, e ainda perseverais no conhecimento de nosso Senhor e Mestre, tendes toda razão para crer-vos cristãos. Se sob vossas provações e problemas permaneceis exatamente o que éreis quando à vontade, podeis então esperar, e não apenas assim, mas firmemente crer e ser assegurados que sois filhos de Deus. Alguns de vós, contudo, são muito como cristãos, quando ouvis sermões cheios de promessas; quando vos prego sobre canas trilhadas, ou vos dirijo com o convite: "Vinde a mim, todos os que estais cansados;" mas quando vos dou sermão fumegante — um que não podeis suportar — se então podeis dizer, culpado, fraco, e desamparado posso ser, mas ainda caio em seus braços; pecaminoso sei que sou, e tenho grande causa para dúvida, mas ainda
Sei, pobre, fraco, e desamparado embora seja, que tenho Amigo rico e Todo-Poderoso; se podeis ficar numa pequena fumaça, então podeis crer-vos ser filhos de Deus. Mas há algumas pessoas fantásticas que conhecemos, que são chocadas com uma baforada de fumaça, não podem suportá-la, saem de uma vez, exatamente como ratos para fora do porão de navio quando começam a defumá-lo; mas se podeis viver na fumaça e dizer: "Sinto-a, e ainda posso suportá-la," — se podeis ficar num sermão fumegante, e suportar provação fumegante, e apegar-vos a Deus sob perseguição fumegante, então tendes razão para crer, que sois certamente filhos de Deus. Pássaros de bom tempo! sois bons para nada; são os petréis da tempestade que são favoritos de Deus. Ele ama os pássaros que podem nadar na tempestade; ama aqueles que podem mover-se na tormenta, e como a águia, companheira do relâmpago, podem fazer do vento seu carro, e cavalgar sobre chamas bifurcadas de fogo. Se no calor da batalha, quando vosso capacete é quebrado por algum inimigo poderoso, podeis ainda erguer vossa cabeça, e dizer: "Sei em quem tenho crido," e não vos desviais de vosso posto, então sois verdadeiramente filhos do céu; pois constância, resistência, e perseverança, são as verdadeiras marcas de herói da cruz, e dos guerreiros invencíveis do Senhor. Aqueles não são navios invencíveis que fogem diante de tempestade; não é guerreiro bravo quem ouve relatos de outros que forte é inexpugnável, e não ousa atacá-lo; mas ele é bravo, que arremessa seu navio debaixo dos canhões, ou o corre quase encalhado, e dá bordado após bordado com valor desesperado contra seu inimigo; ele que na fumaça e na tempestade, no clamor e rugido da batalha, pode ainda dar seus comandos friamente, e sabendo que todo homem espera-se fazer seu dever, pode lutar valorosamente, ele é comandante bravo, ele é soldado verdadeiro, receberá de seu mestre coroa de glória. Ó cristão! apega-te ao teu Mestre na fumaça, apega-te ao teu Senhor nas provações, e serás refinado por tuas aflições; sim, aumentarás excessivamente, e serás beneficiado além de medida.
Contudo, tenho alguns aqui que podem consumir sua própria fumaça. Há alguns de minha congregação que, quando têm quaisquer provações, podem gerenciar passar sobre elas muito bem eles mesmos. Dizem: "Bem, não me importo, pareceis ser conjunto triste de simplórios, sentis tudo; mas quanto a mim, tudo rola para fora, e não me importo com nada." Não, ouso dizer que não vos importais, mas o tempo virá quando achareis a verdade daquela pequena história que costumáveis ler quando éreis crianças, que não me importo veio a fim muito mau. Estas pessoas não são como botijas na fumaça, mas como pedaços de madeira pendendo sobre ela; mas acharão haver algo mais que fumaça daqui em diante; virão a lugar, onde há não apenas fumaça, mas fogo; e embora possam suportar a fumaça dos problemas deste mundo, acharão não ser tão fácil como imaginam suportar as queimaduras inexprimíveis e as chamas eternas daquela cova cujo fogo não conhece extinção, e cujo verme não conhecerá morte. Oh! pecador endurecido, tens tristezas agora, que são como escaramuçadores diante de exército, poucas tropas armadas leves para liderar o caminho para os hostes inteiros de vingadores de Deus, que te pisotearão debaixo de seus pés. Uma ou duas gotas de dor caíram sobre o pavimento de tua vida; ris delas; ah! mas são arautos de chuva de fogo e enxofre, que Deus choverá do céu sobre tua alma por toda a eternidade.
E contudo podes estar apiedando-nos pobres cristãos, por causa de nossos problemas e sofrimentos. Apieda-nos, fazes? Ah! mas nossa leve aflição é apenas por momento, e opera para nós muito mais excedente e eterno peso de glória. Toma tua piedade de volta, e reserva-a para ti mesmo; pois tua leve alegria, que é apenas por momento, opera para ti muito mais excedente e eterno peso de tormento, e tua pequena felicidade será a mãe de uma tortura eterna, inexprimível, que escaparemos felizmente. Teu sol logo se porá, e ao seu pôr virá tua noite; e quando tua noite vier, será noite para sempre, sem esperança de luz novamente. Antes de teu sol pôr-se, meu ouvinte, possa Deus dar-te graça. Perguntas o que deves fazer para ser salvo? Novamente vem a velha resposta: "Crê no Senhor Jesus Cristo e sê batizado, e serás salvo." Se não és pecador, não tenho salvação para ti; se és fariseu, e não conheces teus pecados, não tenho Cristo para pregar a ti; não tenho céu para oferecer a ti, como alguns têm; mas se és pecador, pecador bona fide, se és pecador real, não falso, tenho isto a dizer-te: "Jesus Cristo veio para salvar pecadores, até o principal;" e se creres nele, sairás desta casa de oração, confessado, absolvido, sem pecado; perdoado, perdoado, lavado, sem mancha, aceito no Amado. Enquanto viveres, aquele perdão te aproveitará; e quando morreres, não terás nada a fazer, senão mostrá-lo aos portões do paraíso, para ganhar admissão. E então, em cântico mais nobre e mais doce, aquele perdão formará a base de teu louvor, enquanto coros do céu cantarão, ou enquanto o louvor do Eterno será o canto do universo. Deus te abençoe! Amém.