A velha verdade que Calvino pregou, que Agostinho pregou, que Paulo pregou, é a verdade que devo pregar hoje, ou então serei falso à minha consciência e ao meu Deus. Não posso moldar a verdade; não conheço tal coisa como aparar as arestas de uma doutrina. O evangelho de João Knox é meu evangelho. Aquilo que trovejou através da Escócia deve trovejar através da Inglaterra novamente.
É grande coisa começar a vida cristã crendo em sólida e boa doutrina. Algumas pessoas receberam vinte "evangelhos" diferentes em tantos anos; quantos mais aceitarão antes de chegarem ao fim de sua jornada, seria difícil predizer. Agradeço a Deus que me ensinou cedo o evangelho, e tenho estado tão perfeitamente satisfeito com ele, que não quero conhecer nenhum outro. Mudança constante de credo é perda certa. Se uma árvore tem que ser arrancada duas ou três vezes por ano, não precisareis construir um sótão muito grande no qual armazenar as maçãs. Quando as pessoas estão sempre mudando seus princípios doutrinários, não é provável que produzam muito fruto para a glória de Deus. É bom para crentes jovens começarem com firme apego àquelas grandes doutrinas fundamentais que o Senhor ensinou em Sua Palavra. Ora, se eu cresse no que alguns pregam sobre a salvação temporária e insignificante que só dura por um tempo, mal seria grato por ela; mas quando sei que aqueles que Deus salva Ele salva com salvação eterna, quando sei que Ele lhes dá uma justiça eterna, quando sei que Ele os estabelece sobre fundação eterna de amor eterno, e que Ele os trará ao Seu reino eterno, oh, então me admiro, e fico assombrado de que tal bênção como esta jamais me tenha sido dada!
Suponho que há algumas pessoas cujas mentes inclinam-se naturalmente para a doutrina do livre-arbítrio. Só posso dizer que a minha inclina-se tão naturalmente para as doutrinas da graça soberana. Às vezes, quando vejo alguns dos piores caracteres na rua, sinto como se meu coração devesse irromper em lágrimas de gratidão porque Deus nunca me deixou agir como eles agiram! Tenho pensado, se Deus me tivesse deixado sozinho, e não me tivesse tocado por Sua graça, que grande pecador eu teria sido! Deveria ter corrido aos extremos do pecado, mergulhado nas próprias profundezas do mal, nem deveria ter parado em qualquer vício ou loucura, se Deus não me tivesse restringido. Sinto que deveria ter sido um verdadeiro rei dos pecadores, se Deus me tivesse deixado sozinho. Não posso entender a razão por que sou salvo, exceto sobre o fundamento de que Deus quis que fosse assim. Não posso, se olhar por mais fervorosamente que seja, descobrir qualquer tipo de razão em mim mesmo por que deveria ser participante da graça divina. Se não estou neste momento sem Cristo, é apenas porque Cristo Jesus quis ter Sua vontade comigo, e aquela vontade era que eu deveria estar com Ele onde Ele está, e devesse compartilhar Sua glória. Não posso pôr a coroa em nenhum outro lugar senão sobre a cabeça Daquele cuja poderosa graça me salvou de descer ao abismo. Olhando para trás em minha vida passada, posso ver que o alvorecer de tudo foi de Deus; de Deus efetivamente. Não tomei tocha com a qual acender o sol, mas o sol me iluminou. Não comecei minha vida espiritual — não, antes chutei, e lutei contra as coisas do Espírito: quando Ele me atraiu, por um tempo não corri após Ele: havia ódio natural em minha alma de tudo que era santo e bom. Cortejamentos foram perdidos sobre mim — advertências foram lançadas ao vento — trovões foram desprezados; e quanto aos sussurros de Seu amor, foram rejeitados como sendo menos que nada e vaidade. Mas, certo estou, posso dizer agora, falando em meu próprio nome: "Apenas Ele é minha salvação". Foi Ele quem virou meu coração, e me pôs de joelhos diante Dele. Posso verdadeiramente dizer com Doddridge e Toplady:
E chegando a este momento, posso acrescentar:
Bem posso recordar a maneira pela qual aprendi as doutrinas da graça num único instante. Nascido, como todos nós somos por natureza, arminiano, ainda cria nas velhas coisas que ouvira continuamente do púlpito, e não via a graça de Deus. Quando estava vindo a Cristo, pensei que estava fazendo tudo eu mesmo, e embora buscasse o Senhor fervorosamente, não tinha ideia de que o Senhor estava me buscando. Não penso que o jovem convertido esteja a princípio consciente disto. Posso recordar o próprio dia e hora quando primeiro recebi aquelas verdades em minha própria alma — quando foram, como John Bunyan diz, queimadas em meu coração como com ferro quente, e posso relembrar como senti que havia crescido de repente de bebê a homem — que havia feito progresso no conhecimento escriturístico, através de ter achado, de uma vez por todas, a chave da verdade de Deus. Uma noite de semana, quando estava assentado na casa de Deus, não estava pensando muito sobre o sermão do pregador, pois não o cria. O pensamento me atingiu: Como vieste a ser cristão? Busquei o Senhor. Mas como vieste a buscar o Senhor? A verdade lampejou através de minha mente num momento — não deveria tê-Lo buscado a menos que houvesse alguma influência prévia em minha mente para fazer-me buscá-Lo. Orei, pensei eu, mas então me perguntei: Como vim a orar? Fui induzido a orar pela leitura das Escrituras. Como vim a ler as Escrituras? Li-as, mas o que me levou a fazê-lo? Então, num momento, vi que Deus estava no fundo de tudo, e que Ele era o Autor de minha fé, e assim toda a doutrina da graça se abriu a mim, e daquela doutrina não me afastei até este dia, e desejo fazer esta minha confissão constante: "Atribuo minha mudança totalmente a Deus".
Uma vez frequentei um culto onde o texto aconteceu ser: "Ele escolherá nossa herança para nós"; e o bom homem que ocupava o púlpito era mais que um pouco arminiano. Portanto, quando começou, disse: "Esta passagem refere-se inteiramente à nossa herança temporal, não tem nada que ver com nosso destino eterno, pois", disse ele, "não queremos que Cristo escolha por nós na questão do Céu ou inferno. É tão claro e fácil, que todo homem que tem grão de senso comum escolherá o Céu, e qualquer pessoa saberia melhor que escolher o inferno. Não temos necessidade de qualquer inteligência superior, ou qualquer ser maior, para escolher Céu ou inferno por nós. É deixado ao nosso próprio livre-arbítrio, e temos sabedoria bastante dada a nós, meios suficientemente corretos para julgar por nós mesmos", e portanto, como muito logicamente inferiu, não havia necessidade de Jesus Cristo, ou qualquer um, fazer uma escolha por nós. Poderíamos escolher a herança por nós mesmos sem qualquer assistência. "Ah!" pensei, "mas, meu bom irmão, pode ser muito verdade que pudéssemos, mas penso que deveríamos querer algo mais que senso comum antes de escolhermos corretamente".
Primeiro, deixai-me perguntar: não devemos todos nós admitir uma Providência superior, e a designação da mão de Jeová, quanto aos meios pelos quais viemos a este mundo? Aqueles homens que pensam que, depois, somos deixados ao nosso próprio livre-arbítrio para escolher este ou aquele para dirigir nossos passos, devem admitir que nossa entrada no mundo não foi de nossa própria vontade, mas que Deus teve então que escolher por nós. Que circunstâncias estavam em nosso poder que nos levaram a eleger certas pessoas para serem nossos pais? Tivemos algo a ver com isto? Deus mesmo não designou nossos pais, lugar natal, e amigos? Não poderia Ele ter causado que eu nascesse com a pele do hotentote, dado à luz por mãe imunda que me amamentaria em seu kraal, e me ensinaria a curvar-me a deuses pagãos, tão facilmente quanto ter-me dado mãe piedosa, que cada manhã e noite curvaria seu joelho em oração em meu favor? Ou, não poderia Ele, se lhe agradasse, ter-me dado algum profano para ser meu pai, de cujos lábios eu poderia ter ouvido cedo linguagem temível, imunda, e obscena? Não poderia Ele ter-me posto onde eu deveria ter tido pai embriagado, que me teria aprisionado num verdadeiro calabouço de ignorância, e me criado nas correntes do crime? Não foi a Providência de Deus que tive sorte tão feliz, que ambos meus pais eram Seus filhos, e esforçaram-se para treinar-me no temor do Senhor?
John Newton costumava contar história caprichosa, e rir dela também, de boa mulher que disse, a fim de provar a doutrina da eleição: "Ah! senhor, o Senhor deve ter-me amado antes de eu nascer, ou então não teria visto nada em mim para amar depois". Estou certo de que é verdade em meu caso; creio na doutrina da eleição, porque estou bem certo de que, se Deus não me tivesse escolhido, nunca O teria escolhido; e estou certo de que Ele me escolheu antes de eu nascer, ou então nunca me teria escolhido depois; e Ele deve ter-me eleito por razões desconhecidas a mim, pois nunca pude achar qualquer razão em mim mesmo por que Ele deveria ter olhado sobre mim com amor especial. Assim sou forçado a aceitar aquela grande doutrina bíblica. Recordo-me de irmão arminiano dizendo-me que havia lido as Escrituras muitas vezes, e nunca pôde achar a doutrina da eleição nelas. Acrescentou que estava certo de que teria feito se estivesse ali, pois leu a Palavra de joelhos. Disse-lhe: "Penso que leste a Bíblia numa postura muito desconfortável, e se a tivesses lido em tua poltrona, terias sido mais provável de entendê-la. Orai, por todos os meios, e quanto mais, melhor, mas é peça de superstição pensar que há algo na postura em que homem se põe para ler: e quanto a ler através da Bíblia vinte vezes sem ter achado nada sobre a doutrina da eleição, a maravilha é que achaste algo; deves ter galopado através dela a tal velocidade que não eras provável de ter qualquer ideia inteligível do significado das Escrituras".
Se seria maravilhoso ver um rio saltar da terra totalmente crescido, o que seria contemplar vasta nascente da qual todos os rios da terra de uma vez viessem borbulhando, um milhão deles nascidos de um parto? Que visão seria! Quem pode concebê-la? E ainda o amor de Deus é aquela fonte, da qual todos os rios de misericórdia, que jamais alegraram nossa raça — todos os rios de graça no tempo, e de glória doravante — tomam sua ascensão. Minha alma, fica tu naquela sagrada cabeceira, e adora e magnifica, para sempre e sempre, Deus, mesmo nosso Pai, que nos amou! No próprio princípio, quando este grande universo jazia na mente de Deus, como florestas não nascidas na taça da bolota; muito antes dos ecos despertarem as solidões; antes das montanhas serem trazidas à existência; e muito antes da luz lampejar através do céu, Deus amou Suas criaturas escolhidas. Antes de haver qualquer ser criado — quando o éter não era abanado por asa de anjo, quando o próprio espaço não tinha existência, quando não havia nada senão Deus sozinho — mesmo então, naquela solidão da Deidade, e naquela quietude profunda e profundidade, Suas entranhas moveram-se com amor por Seus escolhidos. Seus nomes foram escritos em Seu coração, e então eram queridos à Sua alma. Jesus amou Seu povo antes da fundação do mundo — mesmo desde a eternidade! e quando me chamou por Sua graça, disse-me: "Amei-te com amor eterno: portanto com benignidade te atraí".
Então, na plenitude do tempo, Ele me comprou com Seu sangue; deixou Seu coração correr numa profunda ferida aberta por mim muito antes de eu amá-Lo. Sim, quando primeiro veio a mim, não O desprezei? Quando bateu à porta, e pediu entrada, não O expulsei, e fiz despeito à Sua graça? Ah, posso recordar que muito frequentemente fiz assim até, finalmente, pelo poder de Sua graça eficaz, Ele disse: "Devo, entrarei"; e então virou meu coração, e fez-me amá-Lo. Mas até mesmo até agora deveria tê-Lo resistido, não fosse por Sua graça. Bem, então, visto que Ele me comprou quando estava morto em pecados, não se segue, como consequência necessária e lógica, que Ele deve ter-me amado primeiro? Meu Salvador morreu por mim porque cri nEle? Não; eu não estava então em existência; não tinha então existência alguma. Poderia o Salvador, portanto, ter morrido porque tinha fé, quando eu mesmo ainda não era nascido? Poderia aquilo ter sido possível? Poderia aquilo ter sido a origem do amor do Salvador para comigo? Oh! não; meu Salvador morreu por mim muito antes de eu crer. "Mas", diz alguém, "Ele previu que terias fé; e, portanto, Ele te amou". O que Ele previu sobre minha fé? Previu que eu deveria obter aquela fé por mim mesmo, e que deveria crer nEle por mim mesmo? Não; Cristo não pôde prever aquilo, porque nenhum homem cristão jamais dirá que a fé veio de si mesma sem o dom e sem a operação do Espírito Santo. Tenho encontrado grande número de crentes, e conversado com eles sobre este assunto; mas nunca conheci um que pudesse pôr sua mão sobre seu coração, e dizer: "Cri em Jesus sem a assistência do Espírito Santo".
Estou ligado à doutrina da depravação do coração humano, porque acho-me depravado em coração, e tenho provas diárias de que em minha carne não habita coisa boa alguma. Se Deus entra em aliança com homem não caído, o homem é criatura tão insignificante que deve ser ato de condescensão graciosa da parte do Senhor; mas se Deus entra em aliança com homem pecaminoso, ele é então criatura tão ofensiva que deve ser, da parte de Deus, ato de pura, livre, rica, graça soberana. Quando o Senhor entrou em aliança comigo, estou certo de que foi tudo de graça, nada mais senão graça. Quando recordo que cova de animais e aves imundas meu coração era, e quão forte era minha vontade não renovada, quão obstinada e rebelde contra a soberania do governo divino, sempre sinto-me inclinado a tomar o quarto mais baixo na casa de meu Pai, e quando entrar no Céu, será para ir entre o menor que o menor de todos os santos, e com o principal dos pecadores.
O falecido lamentado Sr. Denham pôs, ao pé de seu retrato, texto mais admirável: "A salvação é do Senhor". Isto é apenas epítome do calvinismo; é a soma e substância dele. Se alguém me perguntasse o que quero dizer por calvinista, deveria responder: "É aquele que diz: A salvação é do Senhor". Não posso achar na Escritura qualquer outra doutrina que não esta. É a essência da Bíblia. "Somente Ele é minha rocha e minha salvação". Dizei-me algo contrário a esta verdade, e será heresia; dizei-me heresia, e acharei sua essência aqui, que se afastou desta grande, desta fundamental, desta verdade-rocha: "Deus é minha rocha e minha salvação". Qual é a heresia de Roma, senão a adição de algo aos méritos perfeitos de Jesus Cristo — o trazer das obras da carne, para auxiliar em nossa justificação? E qual é a heresia do arminianismo senão a adição de algo à obra do Redentor? Toda heresia, se trazida à pedra de toque, descobrir-se-á aqui. Tenho minha própria opinião particular de que não há tal coisa como pregar Cristo e Este crucificado, a menos que preguemos o que hoje em dia é chamado calvinismo. É apelido chamá-lo calvinismo; calvinismo é o evangelho, e nada mais. Não creio que possamos pregar o evangelho, se não pregamos justificação pela fé, sem obras; nem a menos que preguemos a soberania de Deus em Sua dispensação de graça; nem a menos que exaltemos o amor eletivo, imutável, eterno, conquistador de Jeová; nem penso que possamos pregar o evangelho, a menos que o baseemos na redenção especial e particular de Seus eleitos e povo escolhido que Cristo operou sobre a cruz; nem posso compreender evangelho que deixa santos caírem depois de serem chamados, e sofre os filhos de Deus serem queimados nos fogos da condenação depois de uma vez terem crido em Jesus. Tal evangelho abomino.
Se um querido santo de Deus perecesse, assim poderiam todos; se um dos da aliança fosse perdido, assim podem todos ser; e então não há promessa do evangelho verdadeira, mas a Bíblia é mentira, e não há nada nela digno de minha aceitação. Serei infiel de uma vez quando puder crer que santo de Deus pode jamais cair finalmente. Se Deus me amou uma vez, então Ele me amará para sempre. Deus tem mente magistral; arranjou tudo em Seu intelecto gigantesco muito antes de fazê-lo; e uma vez tendo-o estabelecido, Ele nunca o altera. "Isto será feito", diz Ele, e a mão de ferro do destino o marca, e é realizado. "Este é Meu propósito", e ele permanece, nem pode terra ou inferno alterá-lo. "Este é Meu decreto", diz Ele, "promulgai-o, vós santos anjos; rasgai-o do portão do Céu, vós demônios, se puderdes; mas não podeis alterar o decreto, ele permanecerá para sempre". Deus não altera Seus planos; por que deveria? Ele é Todo-Poderoso, e portanto pode executar Seu prazer. Por que deveria? Ele é o Totalmente Sábio, e portanto não pode ter planejado erradamente. Por que deveria? Ele é o Deus eterno, e portanto não pode morrer antes de Seu plano ser cumprido. Por que deveria mudar? Vós, átomos sem valor da terra, efêmeras de um dia, vós, insetos rastejantes sobre esta folha de louro da existência, vós podeis mudar vossos planos, mas Ele nunca, nunca mudará o Seu. Disse-me que Seu plano é salvar-me? Se assim é, estou para sempre seguro.
Não sei como algumas pessoas, que creem que cristão pode cair da graça, conseguem ser felizes. Deve ser coisa muito louvável nelas serem capazes de passar um dia sem desespero. Se não cresse na doutrina da perseverança final dos santos, penso que seria de todos os homens o mais miserável, porque careceria de qualquer fundamento de conforto. Não poderia dizer, qualquer que fosse o estado de coração em que viesse, que deveria ser como manancial de água, cujo riacho não falha; deveria antes ter que tomar a comparação de nascente intermitente, que poderia parar de repente, ou reservatório, que não tinha razão para esperar estivesse sempre cheio. Creio que os mais felizes dos cristãos e os mais verdadeiros dos cristãos são aqueles que nunca ousam duvidar de Deus, mas que tomam Sua Palavra simplesmente como está, e a creem, e não fazem perguntas, apenas sentindo-se assegurados de que se Deus a disse, assim será. Presto meu testemunho voluntário de que não tenho razão, nem mesmo a sombra de razão, para duvidar de meu Senhor, e desafio Céu, e terra, e inferno, a trazer qualquer prova de que Deus é infiel. Das profundezas do inferno chamo os demônios, e desta terra chamo os crentes provados e aflitos, e ao Céu apelo, e desafio a longa experiência da multidão lavada pelo sangue, e não se acha nos três reinos pessoa única que possa dar testemunho a um fato que possa desprovar a fidelidade de Deus, ou enfraquecer Sua reivindicação de ser confiado por Seus servos. Há muitas coisas que podem ou não acontecer, mas isto sei que acontecerá:
Todos os propósitos do homem têm sido derrotados, mas não os propósitos de Deus. As promessas do homem podem ser quebradas — muitas delas são feitas para ser quebradas — mas as promessas de Deus serão todas cumpridas. Ele é fazedor de promessas, mas nunca foi quebrador de promessas; Ele é Deus guardador de promessas, e cada um de Seu povo o provará ser assim. Esta é minha confiança pessoal agradecida: "O Senhor aperfeiçoará aquilo que me diz respeito" — indigno eu, perdido e arruinado eu. Ele ainda me salvará; e:
Vou a terra que o arado da terra nunca revolveu, onde é mais verde que as melhores pastagens da terra, e mais rica que suas colheitas mais abundantes jamais viram. Vou a edifício de arquitetura mais esplêndida que homem jamais construiu; não é de desígnio mortal; é "edifício de Deus, casa não feita por mãos, eterna nos Céus". Tudo que conhecerei e desfrutarei no Céu, será dado a mim pelo Senhor, e direi, quando finalmente aparecer diante dEle:
Sei que há alguns que pensam necessário a seu sistema de teologia limitar o mérito do sangue de Jesus: se meu sistema teológico necessitasse tal limitação, lançá-lo-ia aos ventos. Não posso, não ouso permitir que o pensamento ache pousada em minha mente, parece tão próximo da blasfêmia. Na obra acabada de Cristo vejo oceano de mérito; meu prumo não acha fundo, meu olho não descobre praia. Deve haver eficácia suficiente no sangue de Cristo, se Deus assim o quisesse, para ter salvado não só todos neste mundo, mas todos em dez mil mundos, tivessem transgredido a lei de seu Criador. Uma vez admitida a infinidade na questão, e o limite está fora de questão. Tendo Pessoa Divina por oferta, não é consistente conceber de valor limitado; fronteira e medida são termos inaplicáveis ao sacrifício divino. A intenção do propósito divino fixa a aplicação da oferta infinita, mas não a muda em obra finita. Pensai nos números sobre os quais Deus já conferiu Sua graça. Pensai nas multidões incontáveis no Céu: se fosses introduzido ali hoje, acharias tão fácil contar as estrelas, ou as areias do mar, quanto contar as multidões que estão diante do trono mesmo agora. Vieram do Oriente, e do Ocidente, do Norte, e do Sul, e estão assentados com Abraão, e com Isaque, e com Jacó no Reino de Deus; e além daqueles no Céu, pensai nos salvos sobre a terra. Bendito seja Deus, Seus eleitos sobre a terra devem ser contados por milhões, creio, e os dias estão vindo, dias mais brilhantes que estes, quando haverá multidões sobre multidões trazidas a conhecer o Salvador, e a regozijar-se nEle. O amor do Pai não é por poucos apenas, mas por companhia excessivamente grande. "Grande multidão, que homem algum podia numerar", será achada no Céu. Um homem pode contar até números muito altos; ponde ao trabalho vossos Newtons, vossos calculadores mais poderosos, e podem contar grandes números, mas Deus e só Deus pode contar a multidão de Seus remidos. Creio que haverá mais no Céu que no inferno. Se alguém me perguntar por que penso assim, respondo, porque Cristo, em tudo, deve "ter a preeminência", e não posso conceber como Ele poderia ter a preeminência se há de haver mais nos domínios de Satanás que no Paraíso. Além disso, nunca li que haverá no inferno grande multidão, que homem algum podia numerar. Regozijo-me em saber que as almas de todas as crianças, tão logo morrem, apressam seu caminho ao Paraíso. Pensai que multidão há delas! Então já há no Céu miríades inumeradas dos espíritos de justos aperfeiçoados — os remidos de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas até agora; e há melhores tempos vindo, quando a religião de Cristo será universal; quando:
Quando reinos inteiros se curvarão diante dEle, e nações nascerão num dia, e nos mil anos do grande estado milenial haverá bastante salvos para compensar todas as deficiências dos milhares de anos que se foram. Cristo será Mestre por toda parte, e Seu louvor será soado em toda terra. Cristo terá a preeminência finalmente; Seu séquito será muito maior que aquele que acompanhará a carruagem do severo monarca do inferno.
Algumas pessoas amam a doutrina da expiação universal porque dizem: "É tão bela. É ideia adorável que Cristo deveria ter morrido por todos os homens; se recomenda", dizem, "aos instintos da humanidade; há algo nela cheio de alegria e beleza". Admito que há, mas a beleza pode estar frequentemente associada com falsidade. Há muito que eu poderia admirar na teoria da redenção universal, mas apenas mostrarei o que a suposição necessariamente envolve. Se Cristo em Sua cruz intentou salvar todo homem, então intentou salvar aqueles que estavam perdidos antes de morrer. Se a doutrina for verdade, que Ele morreu por todos os homens, então Ele morreu por alguns que estavam no inferno antes de vir a este mundo, pois sem dúvida havia mesmo então miríades ali que haviam sido lançados por causa de seus pecados. Mais uma vez, se foi intenção de Cristo salvar todos os homens, quão deploravelmente Ele foi desapontado, pois temos Seu próprio testemunho de que há lago que arde com fogo e enxofre, e naquele abismo de aflição foram lançadas algumas das próprias pessoas que, segundo a teoria da redenção universal, foram compradas com Seu sangue. Aquilo parece-me concepção mil vezes mais repulsiva que qualquer daquelas consequências que são ditas estar associadas com a doutrina calvinista e cristã da redenção especial e particular. Pensar que meu Salvador morreu por homens que estavam ou estão no inferno, parece suposição horrível demais para eu entreter. Imaginar por momento que Ele foi o Substituto por todos os filhos dos homens, e que Deus, tendo primeiro punido o Substituto, depois puniu os próprios pecadores, parece conflitar com todas as minhas ideias de justiça divina. Que Cristo devesse oferecer expiação e satisfação pelos pecados de todos os homens, e que depois alguns daqueles próprios homens devessem ser punidos pelos pecados pelos quais Cristo já expiara, parece-me ser a iniquidade mais monstruosa que jamais poderia ter sido imputada a Saturno, a Jano, à deusa dos Thugs, ou às deidades pagãs mais diabólicas. Deus não permita que jamais pensemos assim de Jeová, o justo e sábio e bom!
Não há alma vivente que sustente mais firmemente as doutrinas da graça que eu, e se algum homem me perguntar se estou envergonhado de ser chamado calvinista, respondo — desejo ser chamado nada senão cristão; mas se me perguntais, sustento as opiniões doutrinais que foram sustentadas por João Calvino, respondo: na principal as sustento, e regozijo-me em confessá-lo. Mas longe de mim até imaginar que Sião não contenha senão cristãos calvinistas dentro de seus muros, ou que não haja ninguém salvo que não sustente nossas opiniões. Coisas atrocíssimas têm sido faladas sobre o caráter e condição espiritual de João Wesley, o príncipe moderno dos arminianos. Só posso dizer a respeito dele que, enquanto detesto muitas das doutrinas que pregou, contudo pelo homem mesmo tenho reverência segunda a nenhum wesleyano; e se fossem necessários dois apóstolos a serem acrescentados ao número dos doze, não creio que pudessem ser achados dois homens mais aptos para serem assim acrescentados que George Whitefield e João Wesley. O caráter de João Wesley está além de toda imputação de auto-sacrifício, zelo, santidade, e comunhão com Deus; viveu muito acima do nível ordinário dos cristãos comuns, e foi um "de quem o mundo não era digno". Creio que há multidões de homens que não podem ver estas verdades, ou, pelo menos, não podem vê-las na maneira pela qual as pomos, que não obstante receberam Cristo como seu Salvador, e são tão queridos ao coração do Deus da graça quanto o calvinista mais sólido dentro ou fora do Céu.
Não penso que difiro de qualquer de meus irmãos hiper-calvinistas no que creio, mas difiro deles no que não creem. Não sustento menos que eles, mas sustento um pouco mais, e, penso, um pouco mais da verdade revelada nas Escrituras. Não só há poucas doutrinas cardeais, pelas quais podemos dirigir nosso navio Norte, Sul, Leste, ou Oeste, mas conforme estudamos a Palavra, começaremos a aprender algo sobre o Noroeste e Nordeste, e tudo mais que jaz entre os quatro pontos cardeais. O sistema de verdade revelado nas Escrituras não é simplesmente uma linha reta, mas duas; e homem algum jamais obterá opinião certa do evangelho até saber como olhar as duas linhas de uma vez. Por exemplo, leio num Livro da Bíblia: "O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha. E quem quiser, tome de graça da água da vida". Contudo sou ensinado, noutra parte da mesma Palavra inspirada, que "não é do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece". Vejo, num lugar, Deus na providência presidindo sobre tudo, e contudo vejo, e não posso deixar de ver, que o homem age como lhe apraz, e que Deus deixou suas ações, em grande medida, ao seu próprio livre-arbítrio. Ora, se declarasse que o homem era tão livre para agir que não havia controle de Deus sobre suas ações, deveria ser levado muito perto do ateísmo; e se, por outro lado, declarasse que Deus governa tudo de tal modo que o homem não é livre o bastante para ser responsável, deveria ser levado de uma vez ao antinomianismo ou fatalismo. Que Deus predestina, e contudo que o homem é responsável, são dois fatos que poucos podem ver claramente. São cridos ser inconsistentes e contraditórios um ao outro. Se, então, acho ensinado numa parte da Bíblia que tudo é preordenado, aquilo é verdade; e se acho, noutra Escritura, que o homem é responsável por todas as suas ações, aquilo é verdade; e é apenas minha tolice que me leva a imaginar que estas duas verdades podem jamais contradizer-se uma à outra. Não creio que possam jamais ser soldadas numa sobre qualquer bigorna terrestre, mas certamente serão uma na eternidade. São duas linhas que são tão quase paralelas, que a mente humana que as persegue mais longe nunca descobrirá que convergem, mas convergem, e encontrar-se-ão algures na eternidade, perto do trono de Deus, donde toda verdade brota.
Frequentemente é dito que as doutrinas que cremos têm tendência a levar-nos ao pecado. Tenho ouvido afirmado muito positivamente, que aquelas doutrinas elevadas que amamos, e que achamos nas Escrituras, são licenciosas. Não sei quem terá a ousadia de fazer aquela afirmação, quando consideram que os mais santos dos homens têm sido crentes nelas. Pergunto ao homem que ousa dizer que o calvinismo é religião licenciosa, o que pensa do caráter de Agostinho, ou Calvino, ou Whitefield, que em sucessivas eras foram os grandes expositores do sistema da graça; ou que dirá dos puritanos, cujas obras estão cheias delas? Tivesse homem sido arminiano naqueles dias, teria sido tido como o herege mais vil respirando, mas agora somos olhados como os hereges, e eles como os ortodoxos. Voltamos à velha escola; podemos traçar nossa descendência dos apóstolos. É aquela veia de livre-graça, correndo através da pregação dos batistas, que nos salvou como denominação. Não fosse aquilo, não estaríamos onde estamos hoje. Podemos traçar linha dourada até o próprio Jesus Cristo, através de sucessão santa de pais poderosos, que todos sustentaram estas verdades gloriosas; e podemos perguntar concernente a eles: "Onde achareis homens mais santos e melhores no mundo?" Nenhuma doutrina é tão calculada para preservar homem do pecado como a doutrina da graça de Deus. Aqueles que a chamaram "doutrina licenciosa" não sabiam nada de todo sobre ela. Pobres coisas ignorantes, pouco sabiam que seu próprio material vil era a doutrina mais licenciosa sob o Céu. Se conhecessem a graça de Deus em verdade, logo veriam que não há preservativo da mentira como conhecimento de que somos eleitos de Deus desde a fundação do mundo. Não há nada como crença em minha perseverança eterna, e a imutabilidade da afeição de meu Pai, que pode guardar-me perto dEle de motivo de simples gratidão. Nada torna homem tão virtuoso como crença da verdade. Uma doutrina mentirosa logo gerará prática mentirosa. Um homem não pode ter crença errônea sem logo ter vida errônea. Creio que uma coisa naturalmente gera a outra. De todos os homens, aqueles têm a piedade mais desinteressada, a reverência mais sublime, a devoção mais ardente, que creem que são salvos pela graça, sem obras, através da fé, e que não de si mesmos, é dom de Deus. Os cristãos devem tomar cuidado, e ver que sempre é assim, para que de modo algum Cristo seja crucificado novamente, e exposto a vergonha aberta.