Aproveita-se melhor um sermão quando se conhece algo do pregador. É natural que, como João em Patmos, nos voltemos para ver a voz que falou conosco. Voltem-se para cá então, e aprendam que o Cristo de Deus é o Pregador do Sermão do Monte. Aquele que proferiu as Bem-aventuranças não era apenas o Príncipe dos pregadores, mas estava além de todos os outros qualificado para discorrer sobre o assunto que havia escolhido. Jesus o Salvador era o mais capaz para responder a pergunta: "Quem são os salvos?" Sendo ele mesmo o Filho sempre abençoado de Deus, e o canal das bênçãos, era o mais capaz para nos informar quem são realmente os abençoados do Pai. Como Juiz, será seu ofício dividir os benditos dos amaldiçoados no final, e portanto é muito próprio que em majestade evangélica declare o princípio daquele juízo, para que todos os homens possam ser prevenidos.
Não caiam no erro de supor que os versículos iniciais do Sermão do Monte estabelecem como devemos ser salvos, ou poderão fazer sua alma tropeçar. Encontrarão a luz mais completa sobre essa questão em outras partes do ensino de nosso Senhor, mas aqui ele discorre sobre a pergunta: "Quem são os salvos?" ou, "Quais são as marcas e evidências de uma obra da graça na alma?" Quem deveria conhecer os salvos tão bem quanto o Salvador? O pastor melhor discerne suas próprias ovelhas, e somente o próprio Senhor conhece infalivelmente aqueles que são seus. Podemos considerar as marcas dos abençoados aqui dadas como sendo a testemunha segura da verdade, pois são dadas por aquele que não pode errar, que não pode ser enganado, e que, como seu Redentor, conhece os seus. As Bem-aventuranças derivam muito de seu peso da sabedoria e glória daquele que as pronunciou; e, portanto, no início sua atenção é chamada para isso. Lange diz que "o homem é a boca da criação, e Jesus é a boca da humanidade;" mas preferimos, neste lugar, pensar em Jesus como a boca da Deidade, e receber cada palavra sua como cingida de poder infinito.
A ocasião deste sermão é notável; foi proferido quando nosso Senhor é descrito como "vendo a multidão." Ele esperou até que a congregação ao redor dele tivesse alcançado seu maior tamanho, e estivesse mais impressionada com seus milagres, e então tomou a maré em sua enchente, como todo homem sábio deveria fazer. A visão de uma vasta concorrência de pessoas deveria sempre nos mover à piedade, pois representa uma massa de ignorância, tristeza, pecado e necessidade, grande demais para estimarmos. O Salvador olhou sobre o povo com um olho onisciente, que viu toda sua condição triste; ele viu as multidões num sentido enfático, e sua alma foi agitada dentro dele à vista. A sua não foi a lágrima transitória de Xerxes quando pensou na morte de suas miríades armadas, mas foi simpatia prática com a multidão da humanidade. Ninguém se importava com eles, eram como ovelhas sem pastor, ou como feixes de trigo prontos para se espalhar por falta de ceifeiros para ajuntá-los. Jesus, portanto, apressou-se ao resgate. Ele notou, sem dúvida, com prazer, a ansiedade da multidão para ouvir, e isto o atraiu a falar. Um escritor citado na "Catena Aurea" bem disse: "Todo homem em seu próprio ofício ou profissão se regozija quando vê uma oportunidade de exercê-lo; o carpinteiro, se vê uma árvore boa, deseja tê-la derrubada, para que possa empregar sua habilidade nela; e mesmo assim o pregador, quando vê uma grande congregação, seu coração se regozija, e ele se alegra da ocasião para ensinar." Se os homens se tornam negligentes em ouvir, e nossa audiência diminui para um punhado, será uma grande aflição para nós se tivermos que lembrar que, quando muitos estavam ansiosos para ouvir, não fomos diligentes em pregar para eles. Aquele que não ceifará quando os campos estão brancos para a ceifa, terá apenas a si mesmo para culpar se em outras estações for incapaz de encher seu braço com molhos. Oportunidades deveriam ser prontamente usadas sempre que o Senhor as põe em nosso caminho. É boa pescaria onde há abundância de peixes, e quando as aves se ajuntam ao redor do caçador é tempo para ele estender suas redes.
O lugar do qual estas bênçãos foram proferidas é em seguida digno de nota: "Vendo a multidão, subiu a um monte." Se o lugar escolhido era ou não aquele que agora é conhecido como os Cornos de Hattim, não é um ponto que nos cabe contestar; que ele ascendeu uma elevação é suficiente para nosso propósito. É claro, isso seria principalmente por causa da acomodação que a encosta aberta da colina proporcionaria ao povo, e a facilidade com que, sobre algum rochedo saliente, o pregador poderia sentar-se, e ser tanto ouvido quanto visto; mas cremos que o lugar escolhido de reunião também tinha sua instrução. Doutrina exaltada bem poderia ser simbolizada por uma ascensão ao monte; de qualquer forma, que todo ministro sinta que deveria ascender em espírito quando está prestes a discorrer sobre os temas elevados do evangelho. Uma doutrina que não podia ser escondida, e que produziria uma Igreja comparável a uma cidade posta sobre um monte, apropriadamente começou a ser proclamada de um lugar conspícuo. Uma cripta ou caverna teria estado fora de todo caráter para uma mensagem que deve ser publicada sobre os telhados, e pregada a toda criatura sob o céu.
Além disso, as montanhas sempre foram associadas com eras distintas na história do povo de Deus; o monte Sinai é sagrado à lei, e o monte Sião simbólico da Igreja. O Calvário também deveria em tempo devido ser conectado com a redenção, e o monte das Oliveiras com a ascensão de nosso Senhor ressuscitado. Era apropriado, portanto, que a abertura do ministério do Redentor fosse conectada com um monte tal como "a colina das Bem-aventuranças." Foi daquela montanha que Deus proclamou a lei, é numa montanha que Jesus a expõe. Graças a Deus, não era um monte ao redor do qual limites tinham que ser postos; não era o monte que queimava com fogo, do qual Israel se retirou com medo. Era, sem dúvida, um monte todo acarpetado com grama, e delicado com flores formosas, sobre cujo lado a oliveira e a figueira floresciam em abundância, exceto onde as rochas se empurravam para cima através da relva, e prontamente convidaram seu Senhor a honrá-las fazendo-as seu púlpito e trono. Posso acrescentar que Jesus estava em profunda simpatia com a natureza, e portanto se deleitava numa câmara de audiência cujo chão era grama, e cujo teto era o céu azul? O espaço aberto estava em acordo com seu grande coração, as brisas eram afins ao seu espírito livre, e o mundo ao redor estava cheio de símbolos e parábolas, em acordo com as verdades que ensinava. Melhor que nave longa, ou fileira sobre fileira de galeria apinhada, era aquele lugar de assentamento da grande encosta. Queira Deus que ouvíssemos sermões mais frequentemente em meio a cenário que inspira a alma! Certamente pregador e ouvinte seriam igualmente beneficiados pela mudança da casa feita com mãos para o templo da natureza feito por Deus.
Havia instrução na postura do pregador: "Quando se assentou," começou a falar. Não pensamos que cansaço ou extensão do discurso sugerisse sentar-se. Ele frequentemente ficou de pé quando pregou por tempo considerável. Inclinamo-nos à crença de que, quando se tornou um advogado com os filhos dos homens, ficou de pé com mãos levantadas, eloquente da cabeça aos pés, rogando, suplicando, e exortando, com cada membro de seu corpo, bem como cada faculdade de sua mente; mas agora que estava, por assim dizer, um Juiz concedendo as bênçãos do reino, ou um Rei em seu trono, separando seus verdadeiros súditos de alienígenas e estrangeiros, sentou-se. Como um Mestre autoritativo, ocupou oficialmente a cadeira de doutrina, e falou ex cathedra, como os homens dizem, como um Salomão atuando como o mestre das assembleias, ou um Daniel vindo ao juízo. Sentou-se como um refinador, e sua palavra era como fogo. Sua postura não é explicada pelo fato de que era costume oriental para o professor sentar e o pupilo ficar de pé, pois nosso Senhor era algo mais que um professor didático, ele era um Pregador, um Profeta, um Advogado, e consequentemente adotou outras atitudes quando cumpria esses ofícios; mas nesta ocasião, sentou-se em seu lugar como Rabi da Igreja, o Legislador autoritativo do reino dos céus, o Monarca no meio de seu povo. Venham aqui, então, e ouçam o Rei em Jesurum, o Legislador Divino, proferindo não os dez mandamentos, mas as sete, ou, se quiserem, as nove Bem-aventuranças de seu reino bendito.
É então acrescentado, para indicar o estilo de sua apresentação, que "abriu sua boca," e certos caviladores de sagacidade rasa têm dito: "Como poderia ensinar sem abrir sua boca?" ao que a resposta é que ele muito frequentemente ensinava, e ensinava muito, sem dizer uma palavra, já que toda sua vida era ensino, e seus milagres e atos de amor eram as lições de um mestre instrutor. Não é supérfluo dizer que "abriu sua boca, e os ensinou," pois havia os ensinado frequentemente quando sua boca estava fechada. Além disso, professores devem ser frequentemente encontrados que raramente abrem suas bocas; eles sibilam o evangelho eterno através de seus dentes, ou o murmuram dentro de suas bocas, como se nunca tivessem sido comandados a "clamar alto, e não cessar." Jesus Cristo falou como um homem sério; ele enunciou claramente, e falou alto. Levantou sua voz como uma trombeta, e publicou salvação longe e amplamente, como um homem que tinha algo a dizer que desejava que sua audiência ouvisse e sentisse. Oh, que a própria maneira e voz daqueles que pregam o evangelho fossem tais que evidenciassem seu zelo por Deus e seu amor pelas almas! Assim deveria ser, mas assim não é em todos os casos. Quando um homem fica terrivelmente sério enquanto fala, sua boca parece ser alargada em simpatia com seu coração: esta característica foi observada em oradores políticos veementes, e os mensageiros de Deus deveriam corar se tal acusação não pode ser posta à sua porta.
"Abriu sua boca, e os ensinou" — não temos aqui uma sugestão adicional de que, como ele havia desde os primeiros dias aberto as bocas de seus santos profetas, assim agora ele abre sua própria boca para inaugurar ainda uma revelação mais completa? Se Moisés falou, quem fez a boca de Moisés? Se Davi cantou, quem abriu os lábios de Davi para que pudesse mostrar os louvores de Deus? Quem abriu as bocas dos profetas? Não foi, portanto, bem dito que agora ele abriu sua própria boca, e falou diretamente como o Deus encarnado aos filhos dos homens? Agora, por seu próprio poder inerente e inspiração, começou a falar, não através da boca de Isaías, ou de Jeremias, mas por sua própria boca. Agora estava uma fonte de sabedoria para ser aberta da qual todas as gerações beberiam com regozijo; agora o mais majestoso e ainda mais simples de todos os discursos seria ouvido pela humanidade. A abertura da fonte que fluiu da rocha do deserto não foi nem metade tão cheia de alegria aos homens. Que nossa oração seja: "Senhor, como abriste tua boca, abre nossos corações;" pois quando a boca do Redentor está aberta com bênçãos, e nossos corações estão abertos com desejos, um enchimento glorioso com toda a plenitude de Deus será o resultado, e então, também nossas bocas serão abertas para mostrar o louvor de nosso Redentor.
Consideremos agora as próprias Bem-aventuranças, confiando que, pela ajuda do Espírito de Deus, possamos perceber sua riqueza de significado santo. Nenhumas palavras no compasso da Escritura Sagrada são mais preciosas ou mais carregadas de significado solene.
A primeira palavra do grande sermão padrão de nosso Senhor é "Bem-aventurados." Vocês não falharam em notar que a última palavra do Antigo Testamento é "maldição", e é sugestivo que o sermão de abertura do ministério de nosso Senhor comece com a palavra "Bem-aventurados." Nem começou daquela maneira, e então mudou seu tom imediatamente, pois nove vezes aquela palavra encantadora caiu de seus lábios em rápida sucessão. Foi bem dito que o ensino de Cristo poderia ser resumido em duas palavras: "Crer" e "Bem-aventurados." Marcos nos conta que ele pregou, dizendo: "Arrependei-vos, e crede no evangelho;" e Mateus nesta passagem nos informa que veio dizendo: "Bem-aventurados os pobres de espírito." Todo seu ensino visava abençoar os filhos dos homens; pois "Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo através dele pudesse ser salvo."
Seus lábios, como um favo de mel, destilam doçura, promessas e bênçãos são os transbordamentos de sua boca. "Graça se derramou em teus lábios," disse o salmista, e consequentemente graça derramou de seus lábios; ele era bendito para sempre, e continuou a distribuir bênçãos através de toda sua vida, até que, "enquanto os abençoava, foi recebido em cima no céu." A lei tinha duas montanhas Ebal e Gerizim, uma para bênção e outra para maldição, mas o Senhor Jesus abençoa sempre, e não amaldiçoa.
As Bem-aventuranças diante de nós, que se relacionam com caráter, são sete; a oitava é uma benção sobre as pessoas descritas nas sete Bem-aventuranças quando sua excelência provocou a hostilidade dos ímpios; e, portanto, pode ser considerada como confirmação e resumo das sete bênçãos que a precedem. Pondo essa de lado, então, como um resumo, consideramos as Bem-aventuranças como sete, e falaremos delas como tais. As sete inteiras descrevem um caráter perfeito, e compõem uma benção perfeita. Cada bênção é preciosa, sim, mais preciosa que muito ouro fino; mas fazemos bem em considerá-las como um todo, pois como um todo foram faladas, e desse ponto de vista são uma corrente maravilhosamente perfeita de sete elos inestimáveis, postos juntos com tal arte consumada como apenas nosso Bezalel celestial, o Senhor Jesus, jamais possuiu. Tal instrução na arte da bem-aventurança não pode ser encontrada em nenhum outro lugar. Os eruditos coletaram duzentas e oitenta e oito diferentes opiniões dos antigos com respeito à felicidade, e não há uma que acerte o alvo; mas nosso Senhor, em poucas sentenças tocantes, nos disse tudo sobre isso sem usar uma palavra sequer redundante, ou permitir a menor omissão. As sete sentenças douradas são perfeitas como um todo, e cada uma ocupa seu lugar apropriado. Juntas são uma escada de luz, e cada uma é um degrau de puro sol.
Observem cuidadosamente, e verão que cada uma se eleva acima daquelas que a precedem. A primeira Bem-aventurança não é de modo algum tão elevada quanto a terceira, nem a terceira como a sétima. Há um grande avanço dos pobres de espírito aos puros de coração e ao pacificador. Disse que se elevam, mas seria tão correto dizer que descem, pois do ponto de vista humano fazem isso; lamentar é um passo abaixo e ainda acima de ser pobre de espírito, e o pacificador, embora a forma mais alta de cristão, se encontrará frequentemente chamado a tomar o lugar mais baixo por amor da paz. "As sete Bem-aventuranças marcam humilhação que se aprofunda e exaltação que cresce." Na proporção em que os homens se elevam na recepção da bênção divina, afundam em sua própria estima, e contam como sua honra fazer os trabalhos mais humildes.
Não apenas as Bem-aventuranças se elevam uma acima da outra, mas brotam uma da outra, como se cada uma dependesse de todas que foram antes. Cada crescimento alimenta um crescimento mais alto, e a sétima é o produto de todas as outras seis. As duas bênçãos que teremos que considerar têm esta relação. "Bem-aventurados os que choram" cresce de "Bem-aventurados os pobres de espírito." Por que choram? Choram porque são "pobres de espírito." "Bem-aventurados os mansos" é uma benção que nenhum homem alcança até que tenha sentido sua pobreza espiritual, e lamentado sobre ela. "Bem-aventurados os misericordiosos" segue sobre a bênção dos mansos, porque os homens não adquirem o espírito perdoador, simpático, misericordioso até que tenham sido feitos mansos pela experiência das duas bênçãos. Esta mesma elevação e crescimento pode ser vista nas sete inteiras. As pedras são postas uma sobre a outra em cores formosas, e polidas segundo a semelhança de um palácio; são a sequência natural e completamento uma da outra, assim como foram os sete dias da primeira semana do mundo.
Marquem, também, nesta escada de luz, que embora cada degrau esteja acima do outro, e cada degrau brote do outro, ainda cada um é perfeito em si mesmo, e contém dentro de si uma bênção inestimável e completa. O mais baixo dos abençoados, a saber, os pobres de espírito, têm sua benção peculiar, e realmente é de tal ordem que é usada no resumo de todas as restantes. "Deles é o reino dos céus" é tanto a primeira quanto a oitava benção.
O caráter mais alto, a saber, os pacificadores, que são chamados filhos de Deus, não são ditos ser mais que bem-aventurados; eles sem dúvida desfrutam mais da bem-aventurança, mas não possuem mais na provisão da aliança.
Notem, também com deleite, que a bênção é em todo caso no tempo presente, uma felicidade para ser agora desfrutada e deleitada. Não é "Bem-aventurados serão," mas "Bem-aventurados são." Não há um passo em toda a experiência divina do crente, nem um elo na maravilhosa corrente da graça, no qual há uma retirada do sorriso divino ou uma ausência de felicidade real. Bendito é o primeiro momento da vida cristã na terra, e bendito é o último. Bendita é a faísca que treme no linho, e bendita é a chama que ascende ao céu numa santa ekstasis. Bendita é a cana quebrada, e bendita é aquela árvore do Senhor, que está cheia de seiva, o cedro do Líbano, que o Senhor plantou. Bendito é o bebê na graça, e bendito é o homem perfeito em Cristo Jesus. Como a misericórdia do Senhor perdura para sempre, assim também nossa bem-aventurança.
Não devemos falhar em notar que, nas sete Bem-aventuranças, a bênção de cada uma é apropriada ao caráter. "Bem-aventurados os pobres de espírito" está apropriadamente conectada com enriquecimento na posse de um reino mais glorioso que todos os tronos da terra. É também muito apropriado que aqueles que choram sejam consolados; que os mansos, que renunciam toda auto-engrandecimento, desfrutem mais da vida, e assim herdem a terra. É divinamente próprio que aqueles que têm fome e sede de justiça sejam fartos, e que aqueles que mostram misericórdia aos outros a obtenham para si mesmos. Quem senão os puros de coração deveriam ver o Deus infinitamente puro e santo? E quem senão os pacificadores deveriam ser chamados filhos do Deus de paz?
Ainda o olho cuidadoso percebe que cada benção, embora apropriada, é redigida paradoxalmente. Jeremy Taylor diz: "São tantos paradoxos e impossibilidades reduzidos à razão." Isto é claramente visto na primeira Bem-aventurança, pois os pobres de espírito são ditos possuir um reino, e é igualmente vívido na coleção como um todo, pois trata de felicidade, e ainda a pobreza lidera a vanguarda, e a perseguição traz a retaguarda; a pobreza é o contrário das riquezas, e ainda quão ricos são aqueles que possuem um reino! e a perseguição é suposta destruir o gozo, e ainda aqui é feita um assunto de regozijo. Vejam a arte sagrada daquele que falou como nunca homem falou, ele pode ao mesmo tempo tornar suas palavras tanto simples quanto paradoxais, e assim ganhar nossa atenção e instruir nossos intelectos. Tal pregador merece os mais pensativos dos ouvintes.
Todo o conjunto das sete Bem-aventuranças compondo esta ascensão celestial à casa do Senhor conduz crentes a um planalto elevado sobre o qual habitam sozinhos, e não são contados entre os povos; sua santa separação do mundo traz sobre eles perseguição por causa da justiça, mas nisto não perdem sua felicidade, mas antes a têm aumentada para eles, e confirmada pela dupla repetição da benção. O ódio do homem não priva o santo do amor de Deus; mesmo injuriadores contribuem para sua bem-aventurança. Quem entre nós se envergonhará da cruz que deve acompanhar tal coroa de benignidades e ternas misericórdias? Quaisquer que as maldições do homem possam envolver, são tão pequeno prejuízo à consciência de ser abençoado de maneira sétupla pelo Senhor, que não são dignas de serem comparadas com a graça que já está revelada em nós.
Aqui paramos por enquanto, e, com a ajuda de Deus, consideraremos uma das Bem-aventuranças em nossa próxima homilia.